RAFAEL MARTINELLI

A live desastrosa: Prefeito Cristian falar em fake news sobre operação da PF na Prefeitura de Cachoeirinha – e em sua casa – é cortina de fumaça para um erro político primordial

Cristian e Delegado, na live para o Reclame Aqui Cachoeirinha

Quem me lê sabe que não sou daqueles que permitem aos políticos apenas a presunção de culpa. Parto neste artigo do pressuposto de que o prefeito Cristian Wasem (MDB) é um homem inocente.

Resta à Polícia Federal provar irregularidades contratuais, superfaturamento ou propina na Operação Rêmora, que cumpriu ordens judiciais na Prefeitura e em sua casa, para investigar “desvio de recursos públicos, corrupção ativa e passiva e crimes licitatórios” em compras de 321 lousas digitais, por R$ 10 milhões, pela Prefeitura de Cachoeirinha com recursos federais da educação; leia em Operação da PF na Prefeitura de Cachoeirinha investiga suspeita de corrupção em compras de 10 milhões com recursos da educação; As fotos, os detalhes e efeitos políticos ; Policiais federais vão até casa do prefeito Cristian em Cachoeirinha; Veja vídeo e O que prefeito Cristian diz sobre operação da Polícia Federal em sua casa e na Prefeitura de Cachoeirinha; Sem condução coercitiva.

O que reputo questionável é a comunicação do prefeito com a população de Cachoeirinha após o ‘escândalo’, que guarda um erro político primordial.

Além de notas oficiais, ao lado do vice, João Paulo Martins (PP), que é delegado e ex-chefe da Polícia Civil gaúcha, Cristian apostou em fazer uma live com um comunicador amigo, que demonstrava pouco conhecer o complexo processo da compra das lousas; assista clicando aqui.

Só que o prefeito dedicou a maior parte do quase monólogo para falar sobre fake news e desmentir fofocas de internet, em vez de explicar de forma mais detalhada o porquê de, ainda como prefeito interino, ter dado prioridade para um negócio milionário, realizado sem licitação própria, numa modalidade de caráter emergencial.

E com pagamento milionário às vésperas da eleição, sem ter os equipamentos instalados, para uma empresa cujo proprietário tem entre os principais clientes prefeituras seu partido, o MDB, partido já presidido pelo empresário em Lajeado.

Aí – insisto: excetuando as questões policiais – resta o erro político primordial.

E, salvo melhor juízo, foi justamente por suspeitar de negócios desse tipo que a Polícia Federal, a partir de ordens judiciais, expedidas pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, visitou a Prefeitura, sua casa e outros cinco municípios que fizeram compras da Smart Tecnologia em Comunicações.

Na live, Cristian informou que só foram levados documentos que poderiam ser baixados do Portal Transparência da Prefeitura e que digitou a senha para abrir seu aparelho de celular para averiguação dos investigadores.

Anunciou que vai processar o vereador David Almansa (PT) por, ao publicizar a operação, ter postado stories nas redes sociais mostrando fotos de policiais federais contando dinheiro – imagens publicadas no site da própria PF, sem informações do local das apreensões.

Intencionalmente ou não, Cristian criou uma cortina de fumaça, ao reduzir uma operação da Polícia Federal – que não é uma coisa rotineira, muito pelo contrário – a uma disputa política paroquial com seu provável principal adversário na eleição deste 2024.

Aos desavisados fica parecendo que a operação foi uma grande fake news – o que não é. Inclusive notícia nacional foi.

A própria PF divulgou em seu site (veja abaixo) que a operação foi desencadeada para “investigar desvio de recursos públicos, corrupção ativa e passiva e crimes licitatórios praticados a partir da aquisição de equipamentos para escolas do município de Cachoeirinha/RS”. (o grifo é meu)

Aceitável seria o fizessem os vereadores do governo, mas estes a cada polêmica preferem ser os três macaquinhos aqueles que tampam a boca, os olhos e os ouvidos.

Cristian precisa esclarecer a sociedade sobre os porquês de, em uma cidade onde as escolas caem aos pedaços e quando se instala um ar condicionado pega fogo, ter dado prioridade para um negócio de R$ 10 milhões durante um governo interino.

E, após o TCE suspender a compra e depois liberar, ter assinado uma ordem de pagamento de quase R$ 3 milhões, a quatro dias da eleição, sem ter as lousas funcionando nas salas de aula.

Hoje questionei a Comunicação da Prefeitura sobre a manifestação do prefeito na live, onde Cristian diz que precisou fazer o negócio para não perder os recursos e não desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ainda não obtive resposta.

Esse deveria ter sido o esclarecimento principal não só da live, mas de todas as manifestações em notas oficiais sobre a compra das lousas.

Vou tentar ajudar. Com a pandemia, muitos municípios não cumpriram, entre 2020 e 2021, a exigência constitucional de investir 25% da receita na Educação. Lei Complementar garantiu que as ‘sobras’ fossem gastas no ano posterior. Cristian pode ter comprado as lousas com esses recursos ‘excedentes’.

Aí voltamos às prioridades. E ao que considero o erro político – sempre excetuando questões policiais, porque até o momento não há provas de irregularidades, superfaturamento ou propina, apesar de, relembro, a PF divulgar a operação como medida para “investigar desvio de recursos públicos, corrupção ativa e passiva e crimes licitatórios praticados a partir da aquisição de equipamentos para escolas do município de Cachoeirinha/RS”. (o grifo é meu)

Fato é que os recursos federais servem para diferentes investimentos na Educação. Significa que os R$ 10 milhões poderiam ter sido destinados a reformar salas de aula, telhados e redes elétricas de escolas, por exemplo.

Não havia tempo para fazer esse planejamento, na ressaca após dois afastamentos por investigações criminais e uma cassação eleitoral de Miki Breier? Cristian deveria explicar. Sem apelar para Jesus Cristo, sob a ‘ideologia dos números’.

O resto é fofoca de internet.

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