Policiais federais foram até a casa e o escritório de advocacia do prefeito de Cachoeirinha Cristian Wasem (MDB), como desdobramento da Operação Rêmora, que na manhã desta quinta-feira cumpriu mandados de busca e apreensão na Prefeitura de Cachoeirinha; leia em Operação da PF na Prefeitura de Cachoeirinha investiga suspeita de corrupção em compras de 10 milhões com recursos da educação; As fotos, os detalhes e efeitos políticos.
A operação investiga desvio de recursos públicos, corrupção ativa e passiva e crimes licitatórios em compras de R$ 10 milhões feitas pela Prefeitura de Cachoeirinha com recursos federais da educação.
Vídeos a que o Seguinte: teve acesso mostram que duas viaturas identificadas da Polícia Federal e outra discreta estacionaram em frente ao escritório por volta das 13h. Agentes foram até a casa de Cristian, que fica a 20 metros.
Por volta das 14h, o prefeito saiu acompanhado por dois policiais federais e caminhou até uma rua lateral. Um dos federais retornou e partiu em uma das viaturas identificadas.
Conforme o advogado André Lima, presidente do MDB municipal, assessor especial do prefeito e homem forte do governo, que também estava na casa do prefeito, Cristian teria ido até a casa da mãe buscar uma chave.
O advogado informa que o prefeito não foi alvo de condução coercitiva, método impositivo aplicado pelas autoridades policiais por ordem do Poder Judiciário para garantir que as pessoas intimadas prestem depoimentos para a investigação em andamento.
A Polícia Federal não divulgou se houve apreensões na Operação Remora e nem informou sobre depoimento do prefeito.
Até o fechamento deste artigo, a Prefeitura de Cachoeirinha não enviou manifestação solicitada pelo Seguinte: sobre a operação desta manhã no paço municipal.
Assista a trechos dos vídeos obtidos pela SEGUINTE TV
A partir desta madrugada, policiais federais, em parceria com a Polícia Civil, cumpriram nove mandados de busca e apreensão expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) também em Porto Alegre, Lajeado, Guaporé, Estrela e Alvorada, onde foram presos dois agentes públicos, cujos nomes não foram informados.
Cerca de R$ 23 milhões em bens e valores também já teriam sido bloqueados em contas de supostos envolvidos no esquema.
A PF investiga a aquisição de 321 lousas interativas para escolas do município, ao custo individual de R$ 32 mil, chegando aos R$ 10 milhões, realizadas pela Prefeitura de Cachoeirinha no segundo semestre de 2022.
A Polícia Civil também participa da operação por já investigar em outros municípios contratos de instalação de rede de fibra ótica e videomonitoramento pela Smart Tecnologia em Comunicações.
Buscas foram feitas sede da Smart e na casa do proprietário da empresa, Ricardo Giovanella Neto, em Lajeado.
Conforme a PF, a investigação teve início em novembro de 2023, a partir de notícias publicadas pela imprensa e apontamentos em relatórios de auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
A empresa investigada foi contratada por prefeituras gaúchas por meio de adesões a atas de registro de preço do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Rio Taquari (Consisa VTR).
Pela modalidade, uma prefeitura pode aproveitar a licitação feita por outra para fazer as compras.
Em janeiro, ex-secretária da Educação do governo Sebastião Melo (MDB) foi presa em Porto Alegre na Operação Capa Dura, em investigação de contrato de R$ 34 milhões para compra de livros que usou a mesma modalidade de negócio.
A auditoria do TCE citada pela PF como origem da operação em Cachoeirinha também apura compra de lousas pela Prefeitura da Capital.
Os investigadores tem memorando de 2022 no qual a Superintendência de Compras e Licitações da Prefeitura de Cachoeirinha contesta a compra das lousas.
O documento, protocolado no gabinete do prefeito Cristian Wasem (MDB), recomendava a abertura de licitação própria, “com ampla divulgação e concorrência”. Também foi feito alerta para o suposto superfaturamento no preço das lousas.
Cristian respondeu, também por ofício, que a legalidade da contratação era garantida pela Diretoria de Tecnologia da Informação do município e por parecer de um escritório de advocacia privada.
O TCE chegou a suspender a compra, mas reviu a decisão. O conselheiro relator Renato Azevedo revogou dia 18 de janeiro de 2023 a medida cautelar que suspendia o contrato assinado em 2022.
O nome da operação da Polícia Federal em Cachoeirinha faz referência a adesões a Atas de Registros Públicos, que é conhecido como “efeito carona”. Rêmora é o peixe que se acopla em outros animais marinhos, geralmente tubarões, alimentando-se de seus restos de alimentos e pegando carona no animal que se acoplou.
Concluo como no artigo desta manhã, sobre a deflagração da Operação da PF.
Reputo, além da questão legal, resta ao prefeito Cristian a preocupação política.
É ano eleitoral.
Às 7h as fotos das viaturas da Polícia Federal estacionadas na frente da Prefeitura já viralizavam pelos WhatsApps de Cachoeirinha. Recebi fotos de 34 números diferentes, entre leitores e fontes.
O adversário na eleição, o vereador David Almansa (PT), que completa 33 anos hoje e denunciava o negócio de R$ 10 milhões para compra das lousas, gravou vídeo em frente aos camburões apresentado a narrativa política insinuando a propina: Ricardo Giovanella Neto, dono da Smart, já presidiu o MDB de Lajeado. E a investigação envolve, além de Cachoeirinha, Porto Alegre, municípios administrados pelo partido do prefeito.
Ao fim, se é exagero dizer que a reeleição de Cristian – o favorito em 2024 – resta comprometida, a carona do prefeito nesse negócio devassado no RS pelas polícias Federal e Civil o conduziu a, no mínimo, um acidente político.
E a Cachoeirinha, das operações, CPIs, impeachments, cassações, prisões e eleição para Presidência da Câmara com voto direto do presídio, segue sua rotina de simbiose entre o noticiário político e policial.
