RAFAEL MARTINELLI

Vereador teve grandeza ao se desculpar por vídeo do “peguem comigo” doações em Gravataí

Alex Peixe, autor do projeto

Alex Peixe (PSDB), presidente da Câmara de Gravataí, disse ter se expressado mal e apagou o vídeo no qual convidava atingidos pelas inundações e pegarem também com ele doações de água encaminhada pela Prefeitura para o centro cultural da Morada do Vale II.

Analisei o caso ontem, em O “pega comigo” das doações não pode virar regra entre políticos de Gravataí.

– Errei, no intuito de ajudar as pessoas. Não entrego doações – disse, na sessão de ontem.

– Peço desculpas ao parlamento e à sociedade em geral, e isento o governo municipal de qualquer responsabilidade – concluiu.

Assista ao pronunciamento no vídeo abaixo, a 1h24 da sessão

Reproduzo o que escrevi ontem e, abaixo, concluo.

(…) Erra perigosamente o vereador Alex Peixe (PSDB) ao personalizar doações para atingidos pelas inundações em Gravataí. Como presidente da Câmara, emite um sinal ruim aos demais parlamentares e ao sistema de justiça.

Em vídeo publicado em seu Instagram na manhã desta terça-feira, o político informa sobre chegada de carregamento de água enviado pela Prefeitura para o centro cultural da Morada do Vale II.

– Pega comigo, com a Tati, com quem estiver aqui – convida, no reels que você assiste clicando aqui.

Reputo a distribuição deveria ser feita por voluntários, ou por servidores da Prefeitura, hoje autorizada a partir do reconhecimento do estado de emergência.

Conforme a lei eleitoral (cf. § 10 do art. 73 da Lei nº 9.504, de 1997), em ano de eleição resta proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei.

Se o estado de emergência isenta o governo Luiz Zaffalon da vedação eleitoral, há de se cuidar potencial benefício a candidaturas e, inclusive, enquadramento em abuso de poder econômico e político.

Exagero, pego no pé? Fato é que em Gravataí já tivemos a polêmica do ‘sequestro da carreta’, que reportei em O ‘sequestro’ de carretas de donativos de Camboriú para Gravataí: Prefeitura e vereador explicam; Entre a fake e a real news. E em Eldorado do Sul pré-candidatos foram alvo de operação do Ministério Público pelo uso eleitoral de doações, assim como ONG de vereador de Cachoeirinha; leia em MP aponta “fortes indicativos da apropriação indevida” de doações a ONG ligada a vereador de Cachoeirinha. Família Mello nega uso político.

Para além da questão moral, se cada vereador, em seu reduto eleitoral, ao informar sobre a chegada de donativos enviados pela Prefeitura, for às redes sociais e, como fez Peixe, disser “pega comigo”, salvo melhor juízo resta ameaçada a garantia constitucional da ‘paridade de armas’ entre candidatos na eleição de outubro.

Ao fim, é compreensível que, nestes dias de catástrofe, vereadores, principalmente da base do governo, sintam-se pressionados por eleitores a distribuir diretamente cestas básicas e outros donativos. É na porta do político vizinho que bate o povo com fome, com frio, desesperado. Urge, porém, um mínimo de institucionalidade e controle.

O correto é o político não encostar nas doações e orientar os caminhos voluntários ou oficiais para recebimento, bem ou mal funcionem os Cras. (…)

Sigo hoje.

Ao reconhecer o erro, Peixe demonstrou a grandeza que precisa ter o chefe do Poder Legislativo da quarta economia gaúcha.

As ações que comete no cargo que exerce sempre vão repercutir mais e, para o bem ou para o mal, estabelecem uma linha de corte para os demais vereadores.

Ao fim, Peixe fez o que poucos políticos fazem. Admitiu o erro, assumiu a responsabilidade, ao isentar o governo Luiz Zaffalon de qualquer suspeita de beneficiá-lo, e prestou esclarecimentos públicos, de viva voz, ao parlamento e à sociedade – humildemente pedindo desculpas, inclusive.

Ah, e não culpou a imprensa.

Caso chamado a se explicar, pelo sistema de justiça que fiscaliza uso de doações para fins políticos, é só enviar o vídeo da sessão. Ao menos como habeas corpus preventivo, já vale.

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