A denúncia de desvio de doações para uso político pode ser debitada na conta da campanha de David Almansa (PT) para Prefeitura de Cachoeirinha. É a mesma sentença que escrevi no episódio do suposto superfaturamento de cestas básicas pelo governo Cristian Wasem (MDB), que precipitou pichações de ‘Fora Cristian’ em móveis descartados por atingidos pelas inundações, assim como acontece com Sebastião Melo (MDB) em Porto Alegre; leia em Sobrepreço em cestas básicas para atingidos pelas inundações pode ser debitado na conta da reeleição do prefeito Cristian; O ‘Jogo dos Quantos Erros’ em Cachoeirinha.
A denúncia contra o vereador, que conforme a reportagem da Band RS é investigada desde o dia 7 pelo Ministério Público, foi apresentada nesta segunda-feira pelo jornalista Alexandre Mota.
Assista a partir do minuto 19 a reportagem de Luiza Schirmer, que abre a matéria sentenciando: “quando a boa vontade virou má-fé”. O vereador ligou para o Boa Tarde RS e entrou ao vivo para dar suas explicações. Há um corte na fala do político no vídeo disponibilizado pela emissora no YouTube.
Veja e, abaixo, sigo.
A denúncia foi feita pela presidente da associação de moradores Getúlio Vargas, da Vista Alegre. Conforme ela, Almansa pediu o CNPJ da escola comunitária para receber doações da empresa Reval, de São Paulo, mas deixou 50 cestas básicas no dia 12 de maio e, pessoalmente, com um caminhão, retirou parte dos donativos no dia 13, supostamente levando cestas, água, rações e roupas para seu centro comunitário.
A reportagem diz que a presidente fez a denúncia “em depoimento enviado à Justiça” e também informa que não respondeu a contato seqüente do irmão de David, Gustavo Almansa (PT), que é candidato a vereador, para a entidade ceder o CNPJ para receber doação de gás.
Conforme ela, os donativos que restaram foram distribuídos à comunidade escolar e a diaristas do bairro que não conseguiam ir ao trabalho devido à cidade estar ilhada.
Ao Seguinte:, Almansa, que também prestou esclarecimentos em vídeo postado em suas redes sociais, explicou que retirou as doações a pedido da presidente da associação, que teria dito que não precisava do total de cestas, água, rações e roupas.
– Os vídeos da reportagem foram postados em nossas redes sociais, com toda transparência – disse, explicando que as doações foram feitas para abrigos como das igrejas Santa Clara, São Vicente de Paulo e no abrigo para pessoas atípicas.
Conforme Almansa, o pedido de cedência do CNPJ foi feito para escola comunitária por ela ser conveniada da Prefeitura e estar localizada em uma comunidade carente, além de a empresa doadora exigir de uma entidade com registro para prestar contas.
A transferência de parte das doações para seu centro comunitário aconteceu, conforme o vereador, pelo espaço estar sob administração de voluntários desde a enchente.
– Entreguei a chave. Tem um cartaz lá: centro de arrecadação e doações. Outros agentes políticos, como vereadores e secretários municipais, agiram da mesma forma e não os condeno. Não cruzei os braços, articulei doações, mobilizei voluntários, limpei casas, faria tudo de novo. Não seriam cestas básicas, roupas usadas que me elegeriam prefeito. O povo de Cachoeirinha não é burro. Foram doações privadas, sem um real de dinheiro público – disse, entendendo não ter incorrido em vedações da legislação em ano eleitoral e informando ainda não ter sido chamado ao MP para prestar esclarecimentos.
Almansa disse estranhar o depoimento da presidente da associação, mas não estar surpreso com a “denúncia leviana”.
– Já esperava alguma retaliação, uma tentativa de me igualar às suspeitas de corrupção do governo Cristian. Afinal, fui eu a denunciar o superfaturamento das telas interativas, sou testemunha da investigação sobre sobrepreço em cestas básicas e propus uma CPI para investigar – disse.
No artigo que citei na abertura deste texto, escrevi: “Quem me acompanha sabe que não sou daqueles que permitem aos políticos apenas presunção de culpa. Reputo, porém, há o ano eleitoral como fator de análise. Aí, resta Cachoeirinha sob aquela velha máxima: sabe-se como eleição começa, nunca como termina. O ‘Imponderável de Almeida’ é sempre um candidato oculto”.
Almansa já tinha sofrido um dano colateral, explorado pelos adversários, quando o vereador Deoclécio Mello (PSDB), de sua coligação de do partido de Dr. Rubinho, que deve ser seu vice, foi alvo de operação do MP também por supostos uso político de doações; leia em MP aponta “fortes indicativos da apropriação indevida” de doações a ONG ligada a vereador de Cachoeirinha. Família Mello nega uso político.
Ao fim, se o favorito Cristian sofreu danos políticos com as denúncias de sobrepreço nas cestas básicas, Almansa agora prova do próprio veneno no Grande Tribunal das Redes Sociais e cabe na corruptela: quem com cestas básicas fere, com cestas básicas resta ferido.