BLOG DO RODRIGO BECKER

CANOAS | Nota do PP gera mais polêmica que solução: custa menos admitir o erro do que emendar o torto

Nosso papo, hoje, é sobre um erro.

Faço questão de esclarece aqui não só por dever do ofício, mas sobretudo por consideração aos leitores e às fontes que cultivo. A régua ética sustenta relações duradouras, mesmo quando divergentes, e não me vejo fazendo outra coisa senão o jornalismo franco e a análise peculiar que se apresenta neste blog. 

Dito isto, gostaria de compartilhar um ensinamento de uma aula com a professora Adriana Duval, que hoje leciona em uma faculdade de Comunicação em São Borja. Ali pelos idos de 1999, era ela a titular da cadeira de TV quando discutiu com uma sala lotada de futuros jornalistas do Centro 3 da Unisinos sobre o erro no desempenho da profissão. 

“O erro faz parte do nosso cotidiano”, disse ela

Não é feio errar; feio — ou antiético —, é não admitir a falha.

“Se apurou um fato e cometeu um erro, repare. Corrija. Desculpe-se, se for necessário. Mas se estiver certo, siga até o fim”, recomentou a professora.

Hoje, é o caso de ir até o fim.

O caso, a polêmica e os personagens

Nedy de Vargas Marques deixou o PP na terça-feira, 3, entregando ao presidente do partido, Marcos Daniel, uma carta de desfiliação. Não vi a missiva, nem me foi dado acesso a ela. Mas conversei com o vice-prefeito, à tarde, quase início de noite. Prontamente, me esclareceu o que o levou ao ‘desquite’ com o partido.

“Não tenho paciência nem tempo político para conchavos”, disse.

Sem citar nomes, sugeriu que a direção do PP em Canoas estava mais interessada em resolver seus próprios problemas do que encaminhar o partido para uma eleição do tamanho que a de 2024 apresenta. Não precisa ser muito conhecedor de discurso para saber que o novo desafeto do vice é o presidente do PP local, Marcos Daniel.

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Na quarta, a entrevista com Nedy foi postada às 14h20. E repercutiu. Além da declaração sobre ‘conchavos’, a saída voluntária do vice da briga pela indicação à eleição virou batata-quente nos grupos de WhatsApp do partido. Afinal, o que houve?

Na sexta, Marcos Daniel estava pronto para dar sua versão. 

Uma jornalista, que se identificou apenas como Flávia, entrou em contato com o colega de site Rafael Martinelli pedindo espaço para uma nota do partido a respeito da desfiliação de Nedy. Às 11h15 de sexta, o blog recebeu o texto, que está publicado no post CANOAS | A nota do PP: partido rebate fala de vice que pediu desfiliação na quarta, 3. Hora da publicação: 10h51 de domingo, 7.

A nota enviada pela assessora Flávia reproduzo aqui porque é nela que se verifica o estopim do caso:

O Partido Progressistas de Canoas recebeu o pedido de desfiliação do vice-prefeito de Canoas, Dr. Nedy de Vargas Marques.

De acordo com o próprio vice-prefeito, a cidade de Canoas enfrenta um momento de caos.

Em vista disso, o PP reafirma seu compromisso inabalável de defender a população, que tem sido prejudicada e colocada em risco devido a decisões equivocadas do atual prefeito.

Para o PP, defender a população nunca significará fazer conchavos, mas sim agir com integridade e transparência.

O PP deseja ao vice-prefeito sucesso em sua jornada e uma plena recuperação.

A saúde de Nedy

Tudo certo, não fosse a última frase. O desejo de “sucesso em sua jornada e plena recuperação” sugere que Nedy não esteja bem de saúde. Não posso afirmar que tenha sido a intenção, mas o dito acabou repercutindo como deboche entre amigos e aliados do vice. O vereador Juares Hoy por exemplo, ainda no domingo, 7, conversou com o blog e autorizou a publicação de um comentário seu que segue no tuíte reproduzido abaixo:

Para o blog, a nota do PP sugere que a direção do partido classifica Nedy como ‘aposentado e arquivado’, mesmo antes da menção à uma eventual recuperação — que, reputo, não está em questão.

Não há na nota qualquer menção à tentativa de conciliar com o vice, nem qualquer movimento público para manter Nedy nos quadros do PP. Se a política é feita de símbolos, o sinal estava dado; bastava atenção para perceber que a direção do partido mudou o rumo e está buscando a composição com aliados sem colocar uma eventual candidatura de Nedy como alternativa.

Por certo isso deixou mágoas.

A nova nota

Ainda no domingo e, depois, na segunda-feira, 8, o presidente do PP, Marcos Daniel pediu ao blog que publicasse nova nota do partido sobre a desfiliação de Nedy. O trecho sobre a ‘recuperação’ do vice, desta vez, não aparece — de resto, o conteúdo é semelhante. 

Reproduzo, a seguir, para comparação.

Posicionamento do Partido Progressistas

Em nota, o Partido Progressistas de Canoas confirma o recebimento do pedido de desfiliação do vice-prefeito de Canoas, Nedy de Vargas Marques:

“Quando convidamos o vice-prefeito Dr. Nedy Vargas a se filiar no PP, foi porque acreditamos que poderíamos, juntos, recuperar Canoas, afinal a insegurança jurídica vivida nos últimos 3 anos deixou estragos profundos na cidade. Nosso intuito sempre foi esse e estivemos lado a lado por um tempo trabalhando pela recuperação da cidade. Seguimos, ainda, Dr. Nedy e Progressistas, buscando a plena recuperação de Canoas, especialmente depois do que vivemos em maio, que devastou a cidade. Agora, porém, seguimos essa busca por caminhos diferentes, nós como oposição ao atual governo e o Dr. Nedy como vice-prefeito”, diz.

A nota, na verdade, é reprodução de um trecho de uma reportagem publicada pelo site abcmais.com, feita pela colega Taís Forgearini, do Diário de Canoas. Foi postada na sexta, 5. 

Onde houve o erro, então?

Nedy e PP vivem um ‘descasamento’ que ainda terá episódios futuros, mas o erro, aqui, é do presidente do PP, Marcos Daniel. Ao divulgar ou autorizar que a assessora Flávia divulgasse a primeira nota, com a infame frase sobre ‘plena recuperação’ do vice, suscitou toda a polêmica que previa ver encerrada na desfiliação de Nedy.

Bastava, aí, um reconhecimento do equívoco: a saúde do vice não é um tema político para o partido e, portanto, não deveria ter sido incluída na nota. Ponto. Cabia ao presidente do PP, Marcos Daniel, esclarecer e corrigir o erro. Todo o resto teria sido evitado.

A atitude, no entanto, foi outra. Em grupos em que participam filiados do partido, questionou a publicação do blog. Apontou o dedo em vez de escrutinar o que houve. 

E Nedy, como está?

Melhor do que a maioria, garanto.

Nedy fez uma ponte de safena em outubro, assumiu o governo em dezembro e, de lá para cá, não teve qualquer intercorrência a respeito. A única questão que talvez pense em recuperar seja a cor dos cabelos, mas imagino que não; na vida e na política, os cabelos brancos são como um alerta aos atrevidos de que trata-se de alguém que acumula experiência. É ‘vivido’, como se diz lá para campanha, e ‘conhece o cego dormindo e manco sentado’.

Acho que Nedy orgulha-se dos seus cabelos brancos.

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