RAFAEL MARTINELLI

Sobre Gravataí, o Templo Satânico de 50 mil seguidores e o mal que faz estátua dentro de muitos

Culto do Templo Satânico dos EUA

A polêmica sobre Gravataí se tornar, como já li nas redes antisociais, a “cidade nacional do capeta”, a partir da inauguração de um santuário com uma estátua de cinco metros do ‘anjo caído’ pela “Nova Ordem de Lúcifer na Terra”, explicitou o delírio e intolerância religiosa de muitos, além de deixar políticos entre o pânico e a excitação.

Em posts no Grande Tribunal das Redes Sociais, não faltaram alusões à catástrofe de maio no Rio Grande do Sul, creditando as inundações não à crise climática do planeta, ou à inação de governos ou ações predatórias e gananciosas do ser humano, mas a algum ente impalpável – se Deus ou o diabo, não tenho como saber a quem cada comentarista creditou tal suposta crueldade.

Políticos correram para se dissociar do evento, e/ou aproveitaram para professar a fé cristã no ano eleitoral.

O episódio gravataiense me lembrou o documentário Hail Satan? (2019), ou “Salve, Satã!”, dirigido por Penny Lane.

O doc apresenta o Templo Satânico (The Satanic Temple), seita estadunidense criada não para adorar, mas para usar a iconografia satanista para, ao chocar, expor a hipocrisia da sociedade e defender o igualitarismo, a justiça social e a separação entre igreja e Estado.

O primeiro ‘mandamento’ da seita, que passa longe do mercado da fé cometido pelas mais diferentes matizes, é “encorajar a benevolência e a empatia entre todas as pessoas”.

Impossível não imaginar Gravataí na passagem do filme na qual seguidores da seita entram com petição na câmara municipal de Salem, em Massachusetts, sua cidade-sede, para instalar uma estátua gigante de Baphomet no mesmo terreno público, em frente a Prefeitura, onde está um monumento aos Dez Mandamentos.

Em outra das polêmicas protagonizadas por células instaladas pelos EUA, o Templo Satânico chegou à Suprema Corte ao peticionar para hastear sua bandeira em um dos mastros na frente da Prefeitura de Boston, com objetivo de celebrar a “Semana da Apreciação Satânica”.

O processo começou a partir de pedido formal feito pela organização ao prefeito da cidade, sustentada por decisão da Suprema Corte que mandou a Prefeitura hastear bandeira do grupo cristão Camp Constitution em dia de celebração religiosa.

Como na Constituição brasileira, que garante a liberdade de crença, lá a Primeira Emenda determina, em sua Declaração de Direitos, que o governo não pode “estabelecer uma religião oficial ou dar preferência a uma dada religião”.

Fato é que a forma sarcástica de protestar, denunciar escândalos de pedofilia e golpes financeiros dentro das igrejas, ou ataques a direitos civis e liberdades individuais, além de promover inusitadas ações sociais, aliada ao interesse da mídia em cobrir o horror de cristãos e o atordoamento e oportunismo dos políticos, já faz com que a organização fundada por Lucien Greaves tenha passado de 50 mil seguidores mundo afora – inclusive no Brasil.

Ao fim, recomendo: assistam para sorrir. “Respeite o direito de ser de todos, especialmente quando eles discordarem. Se as suas palavras deixarem você irritado, liberte-os – não fique triste!”, diz um dos Sete Preceitos do Templo Satânico em sua trollagem.

Da coisa séria – e sobre o que é crime – já tratei ontem em Com estátua de 5 metros, Gravataí terá o maior santuário dedicado a Lúcifer no Brasil; Os limites da polêmica.

Assusta-me o ódio desperto nas redes antisociais de Gravataí a partir de uma iniciativa de culto privado, entre paredes e sem dinheiro público.

Infelizmente, desvelou que o mal já fez estátua dentro de muita gente.

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