Um vídeo viralizou nas redes sociais nos últimos dias. Nas imagens, de 1988, ao ser entrevistada Patrícia Botafogo, de 9 anos, aparece indignada enquanto aguarda a entrada para o Xou da Xuxa.
– Eu cheguei aqui 3 horas madrugada, isso não pode acontecer. Deixaram o moço entrar e as crianças ficaram. Que Xou da Xuxa é esse? – desabafou a menina, do lado de fora do Teatro Fênix, no Rio.
O debate entre os prefeituráveis Daniel Bordignon (PT), Marco Alba (MDB) e Luiz Zaffalon (PSDB), tradicionalmente organizado pela Associação Comercial, Industrial e de Serviços (Acigra) na noite desta segunda feira, cabe no meme, cuja origem é o documentário “Pra Sempre Paquitas (2024)”.
No vídeo a seguir está o debate na íntegra, que recomendo ao leitor assistir. Abaixo, sigo no artigo-documentário, no qual não vou dizer “Ele Ganhou o Debate”, como fazem apoiadores, fãs ou a turma do pix – que faz do seu candidato a ‘Rainha dos Baixinhos’, e dos adversários a Marlene Mattos. Faço recortes para tentar descrever o ‘ambiental’, apresentar o ‘clima’ do evento, que antecipou o vendaval, os raios, trovões e granizo, da madrugada.
Marco Alba (MDB) aplicou um “Que Xou da Xuxa é Esse?”, em Luiz Zaffalon (PSDB). Pela primeira vez em que esteve à frente daquele que foi eleito em 2020 tendo ele, e seu legado de oito anos, como ‘Grande Eleitor’, fez uma participação-desabafo, reafirmando a “decepção” que já manifestara em vídeos de campanha.
– Nunca fiz por baixo do pano, nunca ataquei pelas costas, falo pela frente, como agora aqui. Pela frente são todos queridinhos, as sumidades, gente finíssima. Mas nas jantas no Prado, aonde ele vai, faz sérias acusações, que não é homem para ir fazer no judiciário – disse o ex-prefeito, lembrando ter ele ingressado com ação de investigação judicial eleitoral aceita pela justiça eleitoral a partir de denúncias de abuso de poder político e econômico por Zaffa, onde pede cassação da chapa e inelegibilidade por oito anos.
A citação das “jantas no Prado” remete a um episódio da manhã de ontem, que já criou um clima de tensão para o debate. Apoiadores de Marco Alba postaram áudio no qual Chico Pereira, comunicador que dá os furos positivos do governo, diz que em janta no Prado o prefeito teria pedido sua presença no debate porque teria uma surpresa para “bater no Alba”. No vídeo compartilhado, a Acigra é acusada de fazer parte de uma “tramóia” para beneficiar Zaffa.
No primeiro direito de resposta concedido a Zaffa por, conforme o mediador Régis Albino, ter sido chamado pelos adversários de “mentiroso”, de “diferentes formas”, Marco protestou.
– Tem mentirômetro aqui?
Nos bastidores do primeiro intervalo, sua cobrança sobre Régis, que é também vice-presidente da entidade, e à presidente da entidade, Graziella Isoppo, fez com que representantes dos 10 veículos de mídia local que cobriam o evento ligassem as câmeras e gravadores.
Um parêntese é necessário. Há, sempre, dois debates diferentes: um que o público assiste pelas redes sociais, outro que acontece dentro da sala onde estão candidatos, convidados e imprensa.
Quer criar um estado mental sobre o ‘tensionômetro’ de estar naquele auditório com apenas 45 pessoas? Assista ao vídeo que está em todas as redes e TVs e mostra agressão no debate de São Paulo, do qual Pablo Marçal foi expulso, também na noite desta segunda.
Em Gravataí, agressões físicas passaram longe, mas o clima estava tão pesado quanto.
Zaffa e Marco não se cumprimentaram. A expressão sarcástica de Bordignon, só observando, dizia tudo. A deputada estadual Patrícia Alba (MDB), esposa de Marco, e Rosane Bordignon (PT), candidata a vereadora e esposa de Bordignon, conversaram incomodadas quando Zaffa disse representar um projeto para cidade e não “um projeto familiar”.
– O senhor tem que respeitar as mulheres, ela é deputada por mérito – disse Marco, ao comentar a crítica.
Cada candidato chegou com seus cinco assessores possíveis. Marco Alba, o único a ter torcida na frente da Acigra, tinha além de Patrícia, o vice, Thiago De Leon (PDT); o vereador, coordenador da campanha e presidente do MDB Alan Vieira, o ex-secretário Adão de Castro e Vilela FilmMaker.
Bordignon, cujos apoiadores assistiram ao debate do comitê central, além de Rosane, estava com o vice, Diego da Veiga Lima (PSB); o único vereador da coligação, Paulo Silveira (PSB); o coordenador da campanha Bruno Kologeski e a advogada Christine Rondon.
Zaffa, cujos apoiadores se reuniram na Rua Coberta, foi acompanhado pelo vice, Dr. Levi Melo (Podemos); o secretário da Fazenda e coordenador da campanha Davi Severgnini; o ex-vereador Dimas Costa (PSD) e o advogado André Maia.
Em um dos intervalos, na sala do cafezinho, De Leon e Dimas se provocaram, em meio às brincadeiras e ironias que eram feitas entre jornalistas da aldeia, impecavelmente assessorados no evento pela jornalista da Acigra, Caroline Barcelos.
– Minha manchete vai ser “Que Xou da Xuxa É Esse?” – disse eu, entre risos dos colegas.
Dimas e De Leon começaram a dizer um ao outro que seus candidatos deveriam se preocupar com denúncias que poderiam surgir no debate.
– Tu deve ficar preocupado, que não vai ser deputado – ironizou De Leon, sobre Dimas ter sido anunciado deputado estadual por Zaffa quando abriu apoio a ele, mas 45 dias depois ainda restar como suplente.
– Preocupado deve ficar tu, que não vai ser mais nada – respondeu Dimas, ao vereador.
Notória no debate a estratégia de Marco Alba e Daniel Bordignon em perguntar um ao outro, para isolar e centrar críticas no atual prefeito, como sobre a falta de médicos e a necessidade de um novo hospital em Gravataí.
Zaffa reagiu:
– Há uma clara dobradinha aqui. Mas vocês são amigos de infância, entendo – disse, lembrando a relação histórica entre os dois políticos, vereadores na mesma época, que sempre mantiveram uma convivência de respeito, mesmo mesmo travando por décadas o que, apesar de ambos colorados (Zaffa é gremista), batizei ‘GreNal Político da Aldeia’.
Então ninguém apresentou propostas? Sim. Bastante – mesmo dentro da dinâmica engessada proposta pela Acigra, que fez um debate com regras ‘para não se incomodar’ e evitar expor o prefeito – não por ser Zaffa: na época de Bordignon e Marco Alba acontecia a mesma coisa.
Por isso recomendo ao leitor assistir ao debate completo. Por dever de ofício, assisti ontem, ao vivo, e hoje pela manhã, em casa. Tem apresentação de projetos, muitos números, muita memória de realizações.
Em resumo, na ordem alfabética de colocação das cadeiras, que deixou Zaffa e Marco lado a lado, Bordignon lembrou seu legado de atrair a GM (mas sem ter aproveitado os bilhões no retorno de impostos da montadora arrecadados desde 2011 por Gravataí), prometeu participação popular na decisão dos investimentos, um governo para os mais pobres e recuperação dos “40%” na defasagem dos salários dos professores e servidores municipais.
Marco Alba se apresentou como o ‘exterminador de dívidas’ – que alega ter herdado do PT, no passado, e, se eleito, herdará agora de Zaffa –, dizendo querer retomar o projeto do MDB que governa por 14 anos, o qual garantiu ao prefeito investir R$ 250 milhões por ter recebido a Prefeitura com “um cartão black”.
Zaffa apresentou suas realizações neste primeiro governo que, conforme ele, transformou Gravataí “na melhor cidade para morar e investir” no Rio Grande do Sul, pediu mais quatro anos para concluir seu projeto (citando Marco, que teve 9 anos, e Bordignon, que teve 8) e prometeu investir mais R$ 300 milhões nos próximos quatro anos.
Também fui citado no debate. Uma, quando Zaffa, com quem eu tinha cruzado no banheiro minutos antes, no bloco seguinte disse não ser culpa dele ser chamado de “gerentão” dos governos desde 2011, e sim “do jornalista que analisa a política da aldeia”.
Ao ser inquirido sobre a escola cívico militar por Zaffa, Bordignon disse já estar respondido em meu artigo de sábado, e pediu para o Seguinte: checar informações do prefeito sobre Dr. Levi ter inaugurado a UTI do Hospital Dom João Becker em 1999 e, até ele, Zaffa, inaugurar mais 10 leitos em 2021, governos anteriores não terem “nem arrumado a guarita do guarda”.
Entendo guarda razão a Bordignon. Foi ele, como prefeito, em parceria com a Acigra, quem inaugurou a UTI em 2000, com um repasse anual de R$ 600 mil. Levi apareceu na foto como diretor médico do hospital.
Marco Alba também divergiu de Zaffa sobre a UTI, ao dizer que o prefeito “reinaugurou” mais 10 leitos em 2021, porém com respiradores viabilizados por ele em 2020, na pandemia, junto ao governo federal, após Gravataí ficar de fora da lista de municípios elaborada pelo governo estadual.
Bolsonaro não foi citado pelos candidatos. Lula foi mencionado positivamente por Bordignon. Críticas apenas à ex-presidente Dilma Rousseff (PT), feita por Zaffa, ao lembrar calote que a Prefeitura recebeu na construção de creches, e ao governador Eduardo Leite (PSDB), feita por Marco, por “mandar o Mercado Livre embora de Gravataí”.
Ao fim, reputo foi um “Que Xou da Xuxa É Esse?” aplicado por Marco Alba em Zaffa, porque o ex-prefeito usou do único debate que será organizado no chão da aldeia para desabafar sobre o traumático rompimento. Na minha metáfora, os ‘moços’, que a menina em 1988 reclamou terem passado na frente, e participado do show, são, na crítica de Marco, os adversários de Zaffa em 2020, que hoje apoiam a reeleição. O MDB e um projeto de mais de uma década ficou na frente do Teatro Fênix, barrado.
Marco e Zaffa nunca antes tinham ficado frente a frente em um evento público.
Nem a foto final, com todos os prefeituráveis, vices e a diretoria da Acigra, Marco queria fazer. Foi chamado por Alan, quando já ia embora e após fazer sinal negativo com o dedo.
Foi bom ou ruim para a campanha?
Fato é que Marco Alba criou um fato político, virou o assunto do debate. A resposta cada candidato já está verificando com seus marqueteiros e pesquisadores, que observam as menções em redes sociais e fazem tracking, os levantamentos por telefone.
Como o alcance ao vivo de debates é pequeno, aguardemos o impacto causado pelos recortes que cada prefeiturável apresentará em suas redes sociais.
Dúvidas não tenho de que é A Eleição do Século em Gravataí. Uma disputa de ‘três prefeitos’. Nenhum filhote do algoritmo. É como conclui lá no primeiro dia da campanha, em Gravataí resta bem servida de candidatos a prefeito. Sem Pablos Marçais, ainda: “O eleitor de Gravataí é feliz e talvez não saiba”.
Até porque todos, cada qual à seu modo, se comprometeu com um novo hospital – e podemos e devemos cobrar do eleito.
Assista na SEGUINTE TV ao vídeo dos bastidores do debate, produzido pelo repórter-cinematográfico Guilherme Klamt. As entrevistas dos prefeituráveis, feitas na ordem alfabética com que a Acigra posicionou-os, e a crítica do mediador e vice da entidade aos candidatos, ainda no ‘ringue’, ilustram este artigo.
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