No #DasUrnas, siga diariamente quem ganhou, quem perdeu, quem empatou e os números e análises da eleição de 2024.
Com aval do prefeito Luiz Zaffalon (PSDB), um político dos bastidores montou a maior coligação da história de Gravataí, com 11 partidos, 14 vereadores e o apoio do segundo colocado na eleição anterior, garantindo uma reeleição, com 64.125, ou 51,17% dos votos válidos, tendo como adversários nas urnas dois baluartes da política da aldeia: os ex-prefeitos por oito anos, ex-deputados e popularíssimos Marco Alba (MDB) e Daniel Bordignon (PT).
É Davi Severgnini, 52 anos, casado com Candice e pai do Augusto, 14, “todos Colorados”, como diz, naquela que talvez seja sua única ‘bandeira vermelha’.
Há nove anos – e três governos – comanda a Fazenda, tem a senha do ‘cartão black’ do cofre público. É, se minha memória não trai, o secretário mais longevo da história recente da aldeia.
Neste artigo, há um ‘segredo’, também de quase uma década. Mas antes vamos às informações.
A coligação GRAVATAÍ MELHOR (PRD / PODE / REPUBLICANOS / PRTB / UNIÃO / PSD / PP / NOVO / PL / PSDB / CIDADANIA) somou 83.451 votos – uma diferença a maior de 19.326 em relação aos votos de Zaffa.
O segundo colocado, Marco Alba, recebeu 42.445, 33,87% dos votos válidos. As candidaturas a vereador de sua coligação GRAVATAÍ PODE MUITO MAIS (MDB / PDT / AGIR) somaram 26.927 – uma diferença a menor de 15.518.
Daniel Bordignon, terceiro colocado, recebeu 18.739, 14,95 % dos votos válidos. As candidaturas ao legislativo de sua coligação O POVO FELIZ DE NOVO (PT /PC do B/ PV / PSB / PSOL / REDE) somaram 14.019 – uma diferença de 4.720 a menor.
Já apresentei essa ‘ideologia dos números’ em #DasUrnas | Os números que mostram o tamanho da megacoligação na reeleição de Zaffa; O ‘Ser Político’.
A articulação também garantiu o apoio de Dimas Costa (PSD), segundo colocado na eleição de 2020, hoje deputado estadual – com dedo de Zaffa e seu, também; leia em Dimas confirma apoio a Zaffa no maior movimento político da eleição em Gravataí; A Lua logo ali.
“Brasília é aqui!”, criticavam adversários. É a Real Politik – hipocrisias à parte, antes feita, hoje ainda e amanhã também.
– Somar, nunca subtrair. Nunca me verás indo para o ‘vale tudo’. Acho que isso me garantiu respeito até da oposição – responde o advogado e pós-graduado em finanças, ao ser perguntado sobre a fórmula para ser, ao menos entre a base governista, hoje uma unanimidade como principal interlocutor do prefeito no escorregadio terreno da negociação política.
– Toda a unanimidade é burra… – precaveu-se, claramente preocupado com o que viria a ser esse artigo, mas, de seu jeito, sem manifestar isso diretamente.
Discrição é uma característica deste político. Davi não tem redes sociais públicas, imaginem. Só usa o WhatsApp.
– Fui aquele que sobrou para fazer a articulação de Zaffa – diz, sorrindo, e exercitando outro de seus comportamentos: mesmo todo-poderoso, não tenho relatos de ‘carteiraços’ aplicados, seja aos mais humildes ou aos poderosos.
– Minha lealdade ao prefeito é inquestionável. Acho que isso ajuda a começar qualquer conversa. Elimina qualquer ruído, qualquer sugestão que comprometa o jeito do Zaffa governar: buscando eficiência para ter resultados – analisa, admitindo o inquestionável: tem ele “traquejo” político; não é somente um burocrata de carreira.
A história política de Davi começou em 1997, em sua terra natal, Três Passos, aos 24 anos, como secretário da Indústria e Comércio da prefeita Zilá Breitenbach (PSDB), cargo que exerceu até 2004.
Depois, foi assessor na Assembleia Legislativa do deputado Ruy Pauletty, reitor da Universidade de Caxias do Sul.
Coordenou a bancada do PSDB entre 2005 e 2008, integrou as campanhas pelas eleições de Zilá a deputada estadual e Pauletti a federal e, também, de Yeda Crusius (PSDB) governadora.
– O primeiro roteiro da campanha, quando ela tinha 1% nas pesquisas, foi em Três Passos – lembra.
Zilá se tornou a presidente do PSDB gaúcho e líder do governo na AL. Nas relações entre legislativo e executivo, Davi conheceu Marco Alba, então secretário de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento Urbano e, à época, como apelidei, ‘queridinho’ de Yeda, por ser o destemido que no governo comprava brigas com os políticos em nome da governadora.
Neste período, entre 2007 e 2010, também conheceu Zaffa, então principal assessor de Marco, na secretaria e na presidência da Corsan.
Após um hiato de dois anos advogando, entre 2010 e 2012, Davi foi convidado por Marco para compor o governo em Gravataí, com a ascensão do MDB após o golpeachment contra a prefeita Rita Sanco (PT).
Em 2013, estreou na aldeia como diretor de contratos do Gaplan, o gabinete do planejamento, até ser o secretário de Programação Orçamentária, onde permaneceu entre 2013 e 2015, até assumir a Secretaria da Fazenda, que comanda até hoje.
Na deflagração da III Guerra Política de Gravataí – o rompimento entre Zaffa e Marco, seu ‘Grande Eleitor’ de 2020, após as guerras anteriores ‘Abílio x Oliveiras’ e ‘Bordignon x Stasinski’ –, ficou com Zaffa, que também apresenta como seu ‘gerentão’.
Davi credita a reeleição em 2024 ao “bom governo”, concordando com a análise que fiz em #DasUrnas | Zaffa foi reeleito porque faz um bom governo em Gravataí, e mais.
– Quando Dimas liderava as pesquisas na primeira eleição do Zaffa, em 2020, eu dizia: não tem como perder. Era um governo organizado. Nesta, o momento era ainda melhor – avalia, projetando bons dias para Gravataí.
– O ambiente externo é o melhor possível. Após pandemia, parada da GM e eventos climáticos, entramos em um período de crescimento contínuo. E todo Rio Grande do Sul olha para Gravataí. É hoje, como diz o Zaffa, o melhor lugar para investir e para morar. É um endereço – constata, antecipando os planos do prefeito de melhorar os indicadores sociais e a prioridade por mitigar os problemas com cheias.
– O prefeito quer resiliência climática – conta.
Resta aí um pouco da história do homem que, ‘protegendo o rei’, montou a aliança da reeleição. Como ‘Nº 1’ de Zaffa, e unanimidade positiva entre políticos da base governista na negociação política, natural é que se projete Davi como um dos possíveis sucessores à Prefeitura, na eleição de 2028, mesmo que o candidato natural seja o vice-prefeito reeleito, Dr. Levi Melo (Podemos).
– Não coloco eleições futuras em meu horizonte. Essa é uma característica local, de já se começar a falar, de colocar o cara no cenário até como forma de elogio, de tratar como ‘rei posto, rei morto’. Meu objetivo é colaborar com o Zaffa para fazer um governo ainda melhor – diz.
Ao fim, vamos ao ‘segredo’ de nove anos. Quando assumiu a Fazenda, fui entrevistá-lo e contou que já tinha morado em Miami e foi paraquedista profissional, na pós-adolescência.
– Mas, por favor, não escreve isso, que vão dizer que caí aqui de para-quedas. E me rebenta – disse, sorrindo, mas espiado.
Morador do Prado há três anos, com título eleitoral em Gravataí, secretário da Fazenda ‘desde sempre’ e político no qual Zaffa mais confia, permito-me avisar: de para-quedas não dá mais para dizer que Davi caiu, seja qual for seu futuro na política da aldeia.
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