Com 507 vidas perdidas até às 18h desta segunda, infelizmente foi confirmada em Gravataí a trágica marca das 500 mortes até domingo, como projetei em Caíram aviões em Gravataí: 500 vidas perdidas até fim da semana; São 2 Airbus, duas boates Kiss.
Coincidência ou não, o compartilhamento do artigo, ou diferentes narrativas sobre os dados apresentados, apareceram em postagens de governo e oposição.
Na sexta, quando fiz a publicação, o vereador de oposição Cláudio Ávila compartilhou e fez críticas à gestão da pandemia pelo governo Luiz Zaffalon.
No sábado, em seu perfil no Facebook, Zaffa usou dados iguais aos do artigo para mostrar acertos em meio à tragédia: Gravataí tem a menor mortalidade entre as maiores cidades da Grande Porto Alegre.
– Dói muito cada morte. Mas, em meio a tanta tristeza, estatísticas mostram que entre os maiores municípios da Região Metropolitana, temos o menor número de perdas de vidas por 100 mil habitantes – postou o prefeito.
O índice de 173/100 mil de Gravataí é alto, mas menor que Canoas 262.5, Porto Alegre 226.2, Alvorada 214.5, Cachoeirinha 206.5 e Viamão 185.2.
Oficialmente é fato.
Retirei os dados do site oficial do coronavírus criado pelo governo gaúcho.
Domingo, Dimas Costa, segundo colocado na eleição para a Prefeitura, somou-se às críticas ao governo e usou dados comparativos entre Gravataí e a Canoas de Jairo Jorge, de seu PSD, também partido de Ávila: Canoas testou 34,03% da população, Gravataí 19,12%; Canoas tem 39,36 leitos de UTI para cada 100 mil habitantes; Gravataí 7,06.
Oficialmente, também é um fato.
Na 'ideologia dos números' ficamos assim: pelos dados oficiais, menos gravataienses morrem da COVID, mas a cidade testa menos e tem índice menor de leitos.
Se Ávila, Dimas ou alguém da oposição provar subnotificação, ou seja, que pela menor testagem há gente morrendo em Gravataí sem diagnóstico correto da COVID, aí a crítica é válida.
Do contrário, é, na melhor das hipóteses, informação desnecessária, já que o comparativo sobre capacidade financeira de comprar testes e disponibilizar leitos, mesmo que levando em conta a relação por 100 mil habitantes, não é justa com Gravataí e, para achar algum vilão, seria preciso voltar ao tempo em que, conforme o jornalista Rodrigo Becker pesquisa, Dom Pedro I defecou na Fonte do Forno.
Na hipótese do meio, é o tradicional discurso político, a busca de oposicionistas por espaço.
Já na pior das hipóteses, que reluto acreditar, seria só mais um caça-cliques no Grande Tribunal das Redes Sociais.
Ao fim, toda essa polêmica me lembrou o marxismo atualizado por Millôr: “Já que não podemos fazer nada pelos miseráveis, precisamos, pelo menos, diminuir a grita dos contentes”.
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