A política da aldeia é um ouroborus.
Parece que acertei quando revelei a reaproximação entre os companheiros na disputa pela Prefeitura de Gravataí em 2016 Daniel Bordignon (PDT) e Claudio Ávila (PSD), em Histórico: Miki e Bordignon fizeram as pazes; O efeito 2022 e 2024 em Gravataí, mesmo depois da volta que o vereador deu no ex-prefeito há um ano, como contei em Cláudio Ávila deu um 1º de abril em Bordignon; o habeas corpus.
Antes da última da dupla, relembro.
Por articulação do vereador, a ex-vereadora Rosane Bordignon, esposa do ex-prefeito, foi nomeada pelo prefeito Miki Breier (PSB) para alto cargo na Procuradoria Geral de Cachoeirinha.
A indicação foi feita pelo vereador Paulinho da Farmácia (PDT), de Cachoeirinha, ajudado por Ávila em sua reeleição. Em troca, duas semanas depois Ávila empregou em seu gabinete na Câmara a companheira de Paulinho.
Agora, a última troca de gentilezas.
Ávila aprovou requerimentos solicitando ao governo prorrogação no prazo de pagamento de impostos e a renegociação de aluguéis recebidos por “grandes empresários” durante a pandemia e, no vídeo que você assiste clicando aqui, Bordignon comentou no perfil do vereador no Facebook:
“…
Ótimas iniciativas vereador. Parabéns
…”
Ávila agradeceu com textão.
Reproduzo na íntegra e, abaixo, sigo.
“…
Daniel Bordignon ilustre amigo e sempre Prefeito. O verdadeiro e único melhor prefeito da história de Gravataí. É uma satisfação a tua manifestação sobre o trabalho desse humilde parlamentar. Vejo que a maré está mudando nesse país, em especial o restabelecimento dos direitos, a plenitude constitucional com reflexos salutares e necessários na nossa democracia. Nunca mais passaremos por anos como o de 2016, quando juntos assistimos uma das maiores injustiças e ofensas ao voto popular. Mas o tempo trata de colocar tudo no rumo certo. Tenho certeza que 2024 será tão glorioso para a nossa cidade, quanto a grande vitória do povo brasileiro que se consolida e se aproxima. Até breve meu querido amigo! #Avante
…”
Sigo eu.
O “até breve” é a confirmação do que todo meio político sabe: Ávila e Bordignon conversam sobre repetir em 2024 a chapa de 2016.
– Só que o sonho de Ávila é ser ele o candidato a prefeito – antecipa um experiente político.
Resta saber como fica o segundo colocado, com 35 mil votos na eleição de 2020, Dimas Costa, presidente do PSD do qual Ávila é o líder da bancada. O afastamento entre os dois, que reportei em A Fazenda Gravataí: Operação isola-Dimas, a Eliminação; O grito de Ávila, já não existe mais. Porém, certeza não é Ávila apoiar Dimas a deputado estadual em 2022, e muito menos em 24.
– Em 2024 estarão todos juntos. Sabem que com a oposição dividida a derrota é certa – discorda outro político experiente.
Porém, Anabel Lorenzi, presidente do PDT e que foi a candidata de Bordignon em 2020, seria hoje uma coadjuvante na articulação.
A parceria – que quando da filiação da professora projetava 70 mil votos e saiu das urnas com 13.181, como tratei em artigos como Um encontro de 70 mil votos; ainda os tem? e Quem mais perdeu na eleição de Gravataí; o Diabo em Moscou – estaria estremecida. Inclusive, ela e o ex-prefeito devem estar em lados opostos na eleição para a presidência do partido, em maio.
O que tem a ver com isso o Lula, que agora há pouco falou tanto quanto Fidel?
Ao lembrar a “injustiça” da anulação da eleição vencida nas urnas em 2016, Ávila, que é advogado, obviamente faz uma ligação com a anulação das condenações do ex-presidente pela incompetência de Moro: “Vejo que a maré está mudando nesse país, em especial o restabelecimento dos direitos, a plenitude constitucional com reflexos salutares e necessários na nossa democracia”.
Ao fim, resta muita alquimia neste ouroboros. Se o estreitamento de inimizades vai durar, aguardemos. Bordignon, Ávila e Dimas são personagens ambiciosas e temperamentais. Millôr dizia “o pior ano da vida de casado é este”.
ATUALIZAÇÃO
Após a publicação do artigo, Cláudio Ávila enviou mensagem pelo WhatsApp.
Siga na íntegra.
"…
Prezado Rafael;
Me envaidece a sua prematura matéria sobre as eleições de 2024.
No entanto, o meu principal desejo para o longínquo ano referido é estar vivo, com saúde, trabalhando e lutando pela minha família e pelo que acredito. Não há planos políticos para algo tão distante, pois como sabes, existem milhares de variáveis naturais até as eleições de 2024. Ingênuo sei que tu não és!
Quanto a indicações políticas dos partidos, nomeações de qualquer autoridade pública, não tenho o menor poder de ingerência. No meu gabinete não há um assessor que esteja nomeado sem ter preenchido os requisitos legais do cargo, merecimento e a moralidade pública.
Por fim, para retribuir a tua generosa lembrança, se por ventura fosse possível ocorrer em tese a sua alusão: “Ávila e Bordignon conversam sobre repetir em 2024 a chapa de 2016”…A palavra “repetir” não se confunde com a palavra “inverter”. Fraterno abraço!
…"
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