É difícil escolher o momento mais chocante do julgamento do já famoso processo do chamado estupro culposo, de Santa Catarina, em que a moça que acusa é transformada em acusada.
Mas é fácil escolher o momento mais constrangedor para o Judiciário. É aquele em que o juiz Rudson Marcos pergunta se a blogueira e influencer Mariana Ferrer quer se recompor e tomar um copo d’água.
A moça é agredida com palavras pelo advogado da defesa, Cláudio Gastão da Rosa Filho, que exibe fotos dela que ele considera ginecológicas, a moça chora, tenta se defender, e o juiz quer saber se ela quer tomar um copo d’água.
Ao invés de determinar, com a sua autoridade, que o advogado cale a boca e pare de ofender a moça, o juiz entende que um copo d’água resolve tudo.
Ela para de chorar, toma a água, se recompõe e o advogado do acusado pode retomar o julgamento remoto e seguir atacando. São quatro homens e uma mulher indefesa, que chora ao ser humilhada e ofendida covardemente.
Esse quadro que aparece na foto é a cena do Brasil bolsonarista, em quase todas as instituições. Quatro homens e uma mulher indefesa. Quatro.
Não há salvação quando um juiz supõe que um copo d’água pode acalmar uma mulher agredida, enquanto quatro homens ficam calados.
Quatro homens. QUATRO. O advogado de defesa do acusado, que vira acusador da mulher, o promotor, o advogado que deveria defender Mariana e mais o juiz.
Dizer que é revoltante é pouco. Dizer mais do que isso é correr o risco de ser cercado e processado pelos machos que não socorreram Mariana enquanto ela era atacada.
Eles que se entendam com Gilmar Mendes, que classificou o caso como exemplo de tortura e humilhação. Também é pouco.
Todo mundo sabe que o sujeito acusado de estupro, André de Camargo Aranha, foi absolvido. Mariana já foi condenada.
(O vídeo com os constrangimentos estão no link abaixo)
Texto publicado originalmente no blog do Moisés Mendes:
https://www.blogdomoisesmendes.com.br/a-mulher-e-os-quatro-machos/