Pelo que apurei, Gravataí projeta encerrar as atividades do Hospital de Campanha em 31 de outubro. É um mês depois do que projeta Canoas, cuja rede hospitalar é maior e referência no enfrentamento à COVID-19. A ‘ideologia dos números’ confirmará, ou não o fechamento. A pandemia, na expressão usada pelos médicos, “desacelerou”, mas não terminou.
Em números desta terça, Gravataí tem 4.073 casos, com 3.126 (76.75%) recuperados e 125 (3.07%) óbitos. Agosto terminou com 3.262 casos, 2.244 recuperados e 107 mortes. Em 20 dias, são 811 casos a mais de 18 mortes. Depois de uma estabilidade de dois meses, julho e agosto, com 2 mortes a cada 24h, no que chamei de ‘platô da altura do Morro Itacolomi’, neste mês a média é inferior a uma vida perdida a cada dia.
A Região 10, a qual Gravataí pertence, segue na bandeira vermelha, de alto risco, mas já praticamente rosa, tantas flexibilizações. Nesta tarde, o Estado responde a recurso apresentado pela Prefeitura para retornar à bandeira laranja, de médio risco.
A projeção de investimento total da Prefeitura no enfrentamento à pandemia é de R$ 20 milhões até o fim de 2020. O HC deve fechar as portas tendo consumido R$ 7 milhões em 7 meses.
Para fechar o HC, o prefeito Marco Alba deve anunciar uma reformulação na rede de saúde. Uma delas deve ser a manutenção das 20 UTIs abertas para COVID, transferindo para dentro do Hospital Dom João Becker as unidades de tratamento intensivo abertas na estrutura anexa aberta há 10 meses.
Mudanças também devem ocorrer no Pronto Atendimento 24H, que alterou funcionamento para ofertar leitos intermediários para pacientes com COVID que precisam recuperação após deixar UTIs. A rede também ganhará uma nova UPA, a da ERS-020, na região da Morada do Vale.
Em Canoas, a amiga médica Sirlei Ramos não considera adequado o fechamento em 30 de setembro. Siga o que escreve a profissional de saúde, após 6 meses na linha de frente em hospital de campanha no município vizinho:
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1. Os hospitais de campanha de Canoas irão fechar dia 30/09, mas não deveriam;
2. Pacientes estão retornando com sequelas respiratórias, gastrointestinais e neurológicas pós-covid, e não há um local para atendimento especializado;
3. Cloroquina: com, sem, ou apesar dela, vive-se ou morre-se de covid;
4. As células Thelper são, muito provavelmente, a diferença entre a vida e a morte (Não é milagre).
5. Exausta, deprimida e desiludida por trabalhar e salvar vidas, perder outras e me manter em quarentena, enquanto idiotas andam pelas ruas como se não existisse uma epidemia real, de uma doença que mata amigos, destrói famílias e deixa sequelas permanentes.
(…)"
Em 2 mil ’recuperados’ em Gravataí e Cachoeirinha; A boa e a má notícia já alertei para estudos que desvelam a falácia dos “totalmente recuperados”. Fato é que o ‘dia seguinte’ deve ser uma preocupação não só para governos mas, principalmente, para cada um de nós, invariavelmente cansados de experimentar esse ‘novo normal’, em um Distanciamento Controlado que já está mais para ‘descontrol’ e sob a Lei Vampeta, do “um finge que cumpre, outro finge que fiscaliza”.
Ao fim, aguardemos que a ‘ideologia dos números’ defina a data correta para fechamento do hospital de campanha, como indica o comportamento do governo e das autoridades de saúde locais durante a pandemia. Nunca foi, nem por decreto se tornou uma gripezinha. A cobra silenciosa segue entre nós. Pica e, se não mata, pode deixar sequelas.
Siga o vídeo do Seguinte: 'Entramos no Hospital de Campanha'