a coluna da jeane

Uns versos de braço quebrado – 2

Pela primeira vez, deixei para escrever a coluna em cima da hora. A semana foi cansativa. Terça consultei com o médico especialista e vi o raio-x do estrago. O osso quebrou de um jeito muito difícil de colar naturalmente. E a fratura foi perto do nervo que vai até o dedão. Para saber a real lesão ao nervo, só abrindo. Então, nesta segunda-feira irei “pra faca” e ganharei placa e pino no braço.

O lado bom é que ficarei livre da tala, que pesa tanto que parece que estou carregando um bebê o dia inteiro. Meu sol em Sagitário já está pensando em fazer uma tatuagem depois sobre a cicatriz da cirurgia. Meu ascendente em Touro está preocupado com as horas que vou ficar em jejum, porque sou dessas que fica de mau humor quando está com fome.

No geral estou bem tranquila, porque sigo a filosofia do enfermeiro do Marcelo Rubens Paiva, como ele conta no livro Feliz Ano Velho: “Não esquenta a cabeça, senão caspa vira mandiopan.” Também penso que um procedimento no braço não é nada perto das 30 cirurgias que Frida Kahlo fez, a maioria na coluna. Não acho justo reclamar da vida.

É cansativo fazer as coisas com uma mão só (inclusive escrever a coluna), mas é uma situação temporária. Logo o bracinho estará consertado, e o dia em que não consegui dobrar a esquina será apenas uma história para contar e rir. Juro que estava sóbria! Por incrível que pareça, eu fico até com mais equilíbrio quando bebo aquela cervejinha. Um amigo dizia que o álcool me “regula a lenta”. Não sei se procede, mas nunca me estabaquei depois de uns copos.

E sigamos com dois poemas que escrevi antes do tombo, mas que agora ganharam mais sentido.

 

NAS ESTRADAS

Tropeços

deixam marcas

criam cascas –

escudos forjados

na resistência da pele – 

e também cicatrizes

bem mais profundas

que nos lembram sempre

do que faz cair.

 

Tropeços

são escola

para quem olha

dentro de si.

 

Mas há quem veja

apenas a pedra!

 

RASTROS

Minhas marcas

são meus mapas

das terras áridas,

dos caminhos de espinhos,

dos temporais…

Cada ruga, cada corte,

cada mancha

me mostra mais humana.

Na pele exponho

que nem sempre acerto

que não sou perfeita…

Sou de carne!

Carne que se rasga

e se reconstrói.

Cada cicatriz

me lembra que caí

mas levantei.

Minhas marcas

são emblemas de guerra,

são recados ao tempo;

quando esqueço,

minha pele me lembra:

você é mais forte do que pensa.

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade