crise do coronavírus

Governador quer mais mãos para colorir o mapa da COVID; a lógica do ’Decreto-Pilatos’

Foto AGÊNCIA BRASIL

Parece-me que aquilo que chamei ‘Decreto-Pilatos’ é um grito do governador Eduardo Leite para socializar a desgraça no pior momento da pandemia. Colorido pelo vermelho das bandeiras do Distanciamento Controlado, o Rio Grande do Sul bateu pelo terceiro dia consecutivo o recorde de mortes em 24h. Gravataí e Cachoeirinha já somam 2.700 casos e 78 vidas perdidas para a COVID-19.

O ‘Decreto-Pilatos’ é a proposta encaminhada às associações de municípios para dar maior autonomia aos prefeitos na definição de medidas restritivas, o que antecipei há duas semanas, em Eduardo Leite botou na dos prefeitos; Com ’Decreto Pilatos’, Marco Alba e Miki vão abrir ou fechar mais o comércio?.

O Estado continuaria calculando os indicadores e na sextas-feiras definindo as bandeiras (amarela, laranja, vermelha ou preta). Porém, as regiões poderiam adotar restrições previstas na bandeira imediatamente anterior, no caso da Região Porto Alegre, à qual pertencem Gravataí e Cachoeirinha, da vermelha para a laranja, desde que haja aprovação unânime dos prefeitos.

Faço o grifo pela impossibilidade. A Granpal já arrepiou.

– Não há como chegar a um consenso – resume o prefeito de Gravataí, alertando para as diferentes características dos 32 municípios ligados à associação da Grande Porto Alegre.

– O Estado precisa liderar, ouvir os municípios. É lero-lero dizer que há diálogo nas definições do Distanciamento Controlado – cobra Marco Alba, que desde a perda do Mercado Livre trava uma ‘guerra híbrida’ com Leite.

O exemplo que o prefeito usa, além do fato de nunca ter conversado com o governador desde o início da pandemia, é Gravataí ter ficado de fora do pedido inicial de 300 respiradores feitos pelo Rio Grande do Sul para o Ministério da Saúde. Só após reclamação em sessão remota da Granpal, a secretária da Saúde Arita Bergmann ligou para Marco Alba e, quatro meses depois, os ventiladores estão instalados em UTIs COVID nos hospitais de campanha e Dom João Becker.

A advertência que fiz no artigo que referi acima é a mesma do presidente da Famurs, Maneco Hassen (PT), que teme que as decisões sejam tomadas por “quem grita mais”. Um ‘Decreto-Pilatos’ liberando geral tornaria o RS uma cópia do governo Bolsonaro: sem ministro da Saúde, sem política nacional de saúde que interligue os estados. Na Região Metropolitana, que não tem ‘fronteiras’, e a circulação entre municípios é diária, poderemos experimentar uma tragédia ainda maior.

Ao fim, identifico – e entendo – o que está por trás da nova forma proposta pelo governador para colorir o mapa do Estado. O Distanciamento Controlado ainda é o melhor entre os piores sistemas de enfrentamento à pandemia. Mas parte do descontrole advém do não cumprimento dos decretos. É o que chamo distanciamento fake, a lei vampeta, do uns fingem que fecham, outros fingem que fiscalizam.

– Queremos trazer os prefeitos para a gestão do plano. É fundamental termos os municípios como parceiros. Buscar consensos, jogar juntos, em defesa da saúde pública e da vida – disse o governador à Rosane Oliveira, em GaúchaZH.

Grifo novamente porque aí está a evidência de meu diagnóstico: Eduardo Leite percebeu que, principalmente na Grande Porto Alegre, só um impopular lockdown resolve. Como não quer bancar, e nem os prefeitos, vai dividir o papel de vilão.

Com um ‘Decreto-Pilatos’, acabou a desculpa de que é só o governador quem decide.

 

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