Mais do que analisada, precisa ser assistida a live feita pelo prefeito Marco Alba na tarde deste domingo sobre a desistência do Mercado Livre prosseguir o megainvestimento em Gravataí. É, além de um apelo de um prefeito que perde um investimento de R$ 450 milhões, um ‘delivery’ de 2022, como tratei Marco Alba critica Eduardo Leite por perda do Mercado Livre; ’parole, parole, parole’. O gravataiense esticou a corda e se coloca como um crítico quase que solitário a Eduardo Leite (PSDB).
Clique aqui para assistir 'Mercado Livre, a verdade dos fatos', como nominou a transmissão em seu perfil pessoal no Facebook.
O prefeito apresentou uma cronologia na qual confirma a burrocracia do Governo do Estado na negociação, que se arrasta desde 1º de agosto de 2019, teve alvará expedido pela Prefeitura em 2 de outubro e resta parada na Secretaria Estadual da Fazenda há quatro meses, mesmo com nota da empresa, em 27 de fevereiro, comunicando que, até acerto tributário com o RS, estavam suspensas obras e contratações.
– São 2 mil empregos, não só boatos políticos, governador! – disse Marco Alba, que recebeu a confirmação da desistência na noite de quarta em um telefonema do diretor de relações institucionais do Mercado Livre, François Martins, o que foi reafirmado em nota oficial da empresa que, conforme notícias divulgadas pela imprensa, já teria acerto com Santa Catarina.
Marco Alba considerou as notas oficiais e os vídeos divulgados pelo governador “lero-lero” e “jogo de palavras para tentar diluir uma decisão catastrófica para Gravataí e o Rio Grande do Sul”.
– É pior do que a perda da Ford – comparou o gravataiense, argumentando que à época o RS já tinha a GM em instalação em Gravataí, o que garantia a expansão de uma cadeia produtiva para o setor automotivo.
– Governador, o senhor repete padrões que no passado trouxeram prejuízos ao Estado, espantando investimentos – criticou, instigando politicamente ao citar a terra natal de Eduardo Leite:
– Se o Mercado Livre estivesse negociando com Pelotas, o senhor seria tão insensível?
Marco Alba também deu uma invertida política ao usar a ‘crítica-meme’, repetidamente dedicada por Leite ao governador José Ivo Sartori (MDB) na campanha da eleição que venceu em 2018:
– Com todo respeito, governador, levante da cadeira, tenha atitude, procure Mercado Livre e faça tudo que for necessário para não perdermos esse investimento.
Como comentei no último artigo sobre o tema, é um prefeito que, por sua cidade, se insurge contra o governo estadual, do qual seu MDB faz parte, e mostra estar disposto a comprar a briga para não perder aquele que é o principal investimento privado de seu governo. Para efeitos de comparação, são cerca de 20 Havans., além do potencial de atração de um polo de logística para a RS-118 em duplicação.
Politicamente, Gravataí já viveu isso no final dos anos 90, quando o prefeito Daniel Bordignon era criticado por seu partido, o PT, por ser ‘amigo da GM’, já que o Estado ‘pagaria’ para Gravataí ter a montadora. Inegável é que, para Gravataí, assim como foi a GM, o Mercado Livre é um grande negócio.
Na técnica, reputo que o argumento mais forte para reforçar a cobrança de Marco Alba é a inevitabilidade do ‘novo normal’, que viveremos no ‘pós-pandemia’. Como o próprio prefeito bem observou na live, o e-commerce, o comércio de entregas, “é um modelo de negócios que se consolidará por força dos novos tempos e da tecnologia que assim permite”.
Ao fim, se o governador entender que o negócio é ruim para um Estado que só faz despencar do mapa econômico brasileiro, ou considerar ser vítima de um jogo de chantagem ao qual não vai ceder, em uma negociação desse porte é inadmissível que não seja ele, Eduardo Leite, a dizer não pessoalmente ao Mercado Livre e explicar aos gravataienses e gaúchos o ‘delivery’ do investimento para Santa Catarina; assim como Olívio Dutra fez e, 16 anos, a justiça confirmou, quando a Ford foi embora para Bahia por uma bolada maior. Aí, aceita o argumento quem quiser.
“Não sabia”, pega muito mal, mesmo ocupado com a COVID-19. Governador, não precisa (e nem deve, conforme o distanciamento social) tirar a bunda da cadeira, mas chama no aplicativo para negociar!
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