crise do coronavírus

Sindilojas move ação para abrir comércio em Gravataí; das ‘carreatas da morte’ à Justiça

José Rosa, presidente do Sindicato dos Lojistas | Foto GUILHERME KLAMT | Arquivo

O Sindilojas ajuizou nesta segunda-feira ação da 3ª Vara Cível pedindo a reabertura imediata do comércio em Gravataí. O que começou com o que chamei de ‘carreatas da morte’ em Parem Gravataí que eu quero descer!; declaro-me Inimigo do Povo, amigo da vida agora chega à Justiça.

O prefeito Marco Alba seguiu orientação do governador Eduardo Leite para toda a região metropolitana e prorrogou a retomada, que seria dia 22, para o dia 30, como tratei em A vida em Gravataí não volta ao ’normal’ dia 1º de maio.

Não tive acesso aos autos. Mas o que dá para entender da confusa nota publicada no site da entidade é que, concedida a liminar, estabelecimentos comerciais respeitariam “as normativas de prevenção expedidas pelas autoridades competentes (ANVISA, OMS, Ministério da Saúde e Secretaria Estadual da Saúde)”.

– No entendimento da entidade, os casos positivos em determinados municípios são mínimos (ou zero) em relação à estrutura hospitalar existente no local – diz trecho do texto do sindicato patronal comandado pelo quarto mandato consecutivo por José Rosa

Fato é que essa valoração entre (expressão minha) ‘CPFs internados e CNPJs fechados’ não serve para Gravataí, que registra 15 casos da COVID-19, um a cada dois dias desde a primeira infecção, e tem mais 12 pacientes aguardando resultado de teste.

Aplicando a fórmula ‘1 para 15’ usada pelo governo do RS para aproximar os dados de reais de subnotificações (como casos de síndrome respiratória aguda grave, que cresceram 253% no país nos primeiros três meses do ano), Gravataí teria potencialmente 225 casos.

Detalhei o modelo matemático em O estudo que prorrogou para o dia 30 abertura do comércio; Gravataí, Cachoeirinha e Glorinha teriam 15 vezes mais casos.

Cenário pior é calculado por especialistas como Margareth Dalcomo, pneumologista da Fioruz e a principal referência da área no Brasil, que usa a fórmula ’30 para 1’. Gravataí teria 500 potenciais infectados.

Diz ainda a nota da entidade que “os decretos que estabeleceram o fechamento do comércio estão causando efeitos não razoáveis e desproporcionais no varejo. Diante disso, seria coerente a abertura total do comércio de bens e serviços enquanto tivermos um equilíbrio no número de casos x estrutura hospitalar, baseando-se no fundamento constitucional que trata da Razoabilidade de Proporcionalidade”.

Só que, como tratei em Gravataí, Cachoeirinha e Viamão tem mais casos de COVID 19 que UTIs; o 11 de setembro, as UTIs de Gravataí já estão lotadas por enfermidades diversas e o ‘hospital de campanha’, com respiradores, ainda não está pronto. Nos hospitais referência, Clínicas e Santa Casa, em Porto Alegre, e Universitário, em Canoas, para onde são enviados os pacientes infectados pelo SARS-CoV-2, quase 8 a cada 10 leitos – públicos e privados – já estão ocupados.

Dados compilados pelo Google sobre o deslocamento das pessoas em diferentes cidades apontam uma taxa de isolamento social de apenas 50%, o que significa que em Gravataí mais de 140 mil pessoas circulam pelas ruas. Já a estimativa sobre o transporte público municipal aponta para uma queda de 75 mil para 15 mil passageiros. É o público potencial, parte em algum grupo de risco, como tratei em COVID 19 rejuvenesce em Gravataí; siga perfil dos casos e Os milhares de Gravataí que estão no grupo de risco da COVID 19; teste se você escapa.

Mesmo com esse isolamento social parcial, pelos números oficiais, se todos os pacientes contaminados pela SARS-CoV-2 precisassem ao mesmo tempo de tratamento intensivo nas três cidades, já não teríamos mais leitos.

Gravataí tem 15 casos e 12 leitos de UTI.

Como a média de internação de pacientes em UTIs de pacientes em decorrência do novo coronavírus é de 5% (conforme estudo da Science, revista científica mais importante do mundo), calculando no ‘1 para 15’, Gravataí, com 12 leitos, teria potencialmente 11,25 pacientes precisando de internação e respiradores.

No cenário catastrófico do ‘1 para 30’, 25 infectados graves para 12 leitos em Gravataí.

Nenhuma das três cidades é referência no tratamento da COVID-19, o que alivia a pressão nas UTIs, que tem maior rotatividade. Em Gravataí, Cachoeirinha e Viamão a estratégia é estabilizar o paciente e aguardar a transferência para leitos nos hospitais Clínicas e Santa Casa, em Porto Alegre; e Universitário, em Canoas.

A rede da Capital já registra, nos 75% de ocupação de UTIs, 10% com casos da COVID-19. Entre 25 de março e 1º de abril, última estimativa divulgada, o número de doentes relacionados ao coronavírus nas UTIs havia disparado 107%.

Em São Paulo o primeiro hospital atingiu sexta-feira 100% de lotação em UTIs: o Instituto de Infectologia Emilio Ribas.

É preciso observar que o período médio de internação de pacientes graves em UTIs chega até a 21 dias, o ocasiona a ‘fila’ que, mundo afora, tem feitos pacientes morrerem à espera de leitos ou em casa, na ‘Escolha de Sofia’, que médicos já tiveram que fazer na Itália, por exemplo, seguindo protocolo internacional que, entre um jovem e um idoso, a prioridade é para o paciente que tiver mais chances de responder positivamente ao tratamento.

Nesta segunda, o governador comemorou o ‘achatamento da curva’ de contágio no Rio Grande do Sul e projetou que as medidas de distanciamento salvarão quase 300 vidas até o fim do mês. A projeção é de que haja, no dia 30, 62 mortos – hoje, são 27. Até a manhã desta segunda-feira (20), o Estado tinha oficialmente 869 pessoas com COVID-19.

‘Liberou geral’, então?

Por enquanto, a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a liberação de movimento seja feita pelos governos de forma lenta.

Infelizmente, o mundo será outro até a descoberta de uma vacina, que vai demorar, conforme as projeções mais otimistas, pelo menos até 2022.

À GaúchaZH, Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, avaliou que a curva no RS está “totalmente achatada” e creditou o sucesso momentâneo às medidas restritivas, tomadas antes do rápido crescimento da epidemia.

Porém, o médico alerta que estudos orientam relaxamento das medidas somente após 10 semanas de isolamento.

– A liberação nesse momento é precoce. Temos que continuar com distanciamento social e etiqueta higiênica. A liberação deve ser gradativa. Aglomerações não podem ocorrer, pequenos comércios podem abrir, mas com distanciamento – diz o infectologista.

Em Gravataí, completamos quatro semanas no último sábado. Não estaríamos nem na metade da ‘quarentena’ necessária,  apesar da óbvia angústia dos comerciantes que passam mal ao ver boletos acumulando e perdem a respiração com a chegada do dia de pagar funcionários.

Conforme o decreto do prefeito, e se o Judiciário não decidir a favor do Sindilojas, o comércio permanece fechado até o dia 30. Nesta semana, conforme Marco Alba anunciou em live sexta, será editado novo decreto com regras sanitárias para estabelecimentos, funcionários e clientes, além da recomendação do uso de máscaras também nas ruas.

O que o prefeito também alertou é que, se cuidados não forem tomados e o sistema de saúde colapsar, não descarta um lockdown, que é o fechamento de tudo que não for serviço essencial e deu certo na China comunista e na Nova Zelândia liberal, mas teria um custo econômico ainda maior.

Ao fim, o Sindilojas, como entidade, ao acionar a justiça sem apresentar publicamente um estudo que comprove a possibilidade do fim do isolamento social 10 dias antes do prazo, me parece descolado da grave realidade. Seu presidente, opino, está – e isso testemunho diariamente em seus posts e compartilhamentos no grupo de WhatsApp do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Codes) de Gravataí.

 

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