3º Neurônio | humor

Poeminha a passo de ganso

De surpresa a fala fez-se a bombástica

Proposta de edital duma arte mais estática

A vontade do estado como sempre errática

Acima deus pátria família, abaixo a plástica

De cívica tal língua fez-se entusiástica

Que no vídeo pregava mudança drástica

E nessa paixão pela retórica pleonástica

Declara a arte servil, regrada, monástica

 

Daqui em diante arte deve fazer ginástica

E manter-se não elástica mas eclesiástica

Se possível fardar-se e perfilar, fantástica!

E pintar-se verdosa e amarelosa, catártica

 

Finda-se o discurso numa voz sarcástica

Encomende-se ao artista obra escolástica

Goebbelslizada uma cultura nada cáustica

Premie-se logo a obediência encomiástica

Mal sai do ar o falastrão de aura asmática

Perde a função: falta de noção ou de tática?

Em seu lugar cogitada atriz teledramática

Reginar-se-á ela com o Poder, carismática?

Será tudo isso a gota d´água orgiástica 

Ou é parte duma enxurrada emblemática?

Estica o braço, heil!, saudação traumática

O lindo pendão resplandece ordem sádica:

Marcha o ganso, resoluto, rumo à suástica.

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