Na carona em viagem para Belo Horizonte, Nelson Rodrigues ouviu de Otto Lara Resende:
– O mineiro só é solidário no câncer.
Da frase, cujo ensaísta Antonio Bonfim bem atribui “carga sociológica maior que as 600 páginas de Os Sertões de Euclides da Cunha”, o escritor criou ‘Bonitinha, mas Ordinária’.
No enredo da peça, que depois virou filme, perdura a crença de que o homem é um lobo do próprio homem e a bondade é apenas a exceção.
A Câmara de Cachoeirinha vive dias de ‘Bonitinha, mas Ordinária’. Não é solidária nem na COVID-19 – a não ser como exceção, e só na promessa, quando ganhou boa mídia anunciando devolução de repasses à Prefeitura, o que ainda não aconteceu na prática.
Sem votar nada em 2020, e com 25 projetos ‘em quarentena’, o legislativo não permite que o governo Miki Breier use pelo menos R$ 2 milhões da saúde. Há projetos parados que permitiriam usar sobras do ano passado. Há dinheiro de emendas parlamentares e repasses federais que começaram a entrar para a UPA mas não estavam inscritos no Orçamento, que serão usados para reformas, custeio e compra de equipamentos para unidades de saúde, e até para o pagamento de profissionais de saúde do programa Mais Médicos.
A escandalosa, por cruel estratégia política, vai da leitura arrastada do relatório da amalucada ‘CPI dos Pardais’, até uma higienização da Câmara agendada para esta quinta, cancelando mais uma sessão.
Se inteligência (do mal) suficiente há para tal manobra, a Câmara faz a Prefeitura se aproximar dos 11% permitidos para movimentar o orçamento sem precisar do amém dos vereadores, mesmo com o decreto de calamidade pública. É o contrário do que acontece no Congresso, que vota aprovação do ‘orçamento de guerra’, para que não falte dinheiro para salvar vidas ou socorrer quem tem fome.
Em A epidemia de ’secadores de hospital’ em Cachoeirinha, já opinei sobre o ‘baixo clero’ que tomou de assalto a política local, com uma milícia de aspirantes a políticos, e aspones de políticos, metralhando teclados e espalhando ódio e fake news pelo Grande Tribunal das Redes Sociais.
Acontece que, ao não unir esforços com o governo para liberar milhões em recursos para a saúde, que estão PARADOS NA CONTA, detentores de mandato fazem pior, já que esperava-se a responsabilidade – consagrada pelo voto – de colocar o interesse público acima do político, eleitoral, pessoal ou de suas seitas.
Ao fim, caberia na leitura do trecho bíblico na abertura da próxima sessão (se acontecer, e não se inventar uma dedetização, sabe-se-lá), 2 Coríntios 12:20:
Pois temo que, ao visitá-los, não os encontre como eu esperava, e que vocês não me encontrem como esperavam. Temo que haja entre vocês brigas, invejas, manifestações de ira, divisões, calúnias, intrigas, arrogância e desordem.
Opino com a experiência de quem há 25 anos acompanha a política de Cachoeirinha: à distância de um céu e inferno da envergadura necessária para o cargo, o pastor Edison Cordeiro é o segundo pior presidente da Câmara. Isso porque o ‘campeão’, o pior, foi pego com dinheiro na cueca na porta do legislativo.
Fato é que, hoje, em meio a uma das maiores tragédias da história da humanidade, ao impedir o uso, seja de um real, ou dois milhões, como é o caso, e parafraseando Otto & Nelson, "A Câmara de Cachoeirinha não é solidária nem na COVID-19".
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