claudio oliveira

A cultura de rir do que é motivo de choro

Nos mais de 32 anos de profissão presenciei muitas mudanças no mundo e nas pessoas. Gostaria que fossem todas para melhor, mas infelizmente ainda não são. Determinadas coisas ficam tão arraigadas à cultura, à estrutura social, que a mudança é um processo que pode levar décadas, ou nem acontecer no nosso tempo. Uma delas é o hábito de fazer piadas com coisas que deveriam ser motivo de choro, no mínimo de vergonha, para quem a tem.

 Há coisas que perderam a graça nesse nosso Brasil onde uma mulher (ou menina!) é estuprada a cada dez minutos e onde um feminicídio ocorre a cada sete horas.

Tenho um amigo que costumava brincar com o respeito pelas mulheres. Ele começava dizendo que na casa dele todo dia era Dia da Mulher… “lavar a roupa, limpar o chão, cozinhar… etc. Incrível como ele conseguia fazer uma lista interminável de tarefas consideradas exclusivas do público feminino.

Era para fazer graça. Lamento pelas muitas vezes que acabei rindo daquela exposição feita apenas para o público masculino. Para elas, creio que jamais soava engraçado, porque diminuía, humilhava e desconsiderava até o papel de nossas amadas mães.

Um dia resolvi dar um basta naquela palhaçada, em nome de todas as mulheres, presentes e não-presentes. Não lembro de todas as palavras que disse, mas despejei em público meu desconforto com aquela linguagem preconceituosa e pedi que meu amigo tivesse a decência de pedir desculpas às nossas colegas.

Ele respondeu com um “ah, para (sic)”, ficou vermelho e se calou, porque de repente viu que ninguém mais estava rindo. Ficou sem falar comigo por mais de um mês, mas depois me deu razão. Admitiu que tinha crescido assim, vendo seu avô, seu pai e tios fazendo aquele tipo de brincadeira. Acabou achando normal e incorporando o preconceito a seu jeito de ser.

Nunca pediu desculpas às colegas, mas também não repetiu mais suas “gracinhas”.

Acho que meu gesto foi pequeno e simples e não vai provocar mudanças significativas na história. No entanto, fez diferença para mim. Dar um basta naquele tipo de comentário me fez bem, embora nenhuma das minhas colegas tenha agradecido. Nem precisavam fazer isso. Respeitar as mulheres deveria ser parte da nossa cultura e não o contrário.

Tenho seis filhos, cinco meninos e apenas uma menina. Todos aprenderam a ter respeito pelas pessoas, pura e simplesmente. Sempre mostrei a eles que a mãe deles não era nossa empregada, mas nossa rainha, a quem sempre deveríamos honrar, mesmo quando não estivesse presente.

A cortesia em nosso lar é baseada em uma regra simples: meninas e mulheres sempre têm a preferência! Nossos meninos cresceram aplicando esse conceito e entre muitas outras coisas, aprenderam que não existem tarefas exclusivas para mulheres, apenas responsabilidades divididas por quem vive sob o mesmo teto.

Creio que muita gente pode ter uma opinião diferente sobre essas atitudes, mas o resultado foi bom. Perguntem às namoradas ou esposas dos meus meninos como se sentem pelo tratamento carinhoso e respeitoso que desfrutam na companhia deles.

Esse é meu jeito de tentar abolir do planeta o preconceito contra a mulher.

Nesse Dia Internacional da Mulher, meu muito obrigado a todas elas, por tudo o que fazem por nós. Creio que se as tivermos sempre no coração, elas terão o respeito que merecem e nos retribuirão com felicidade, equilíbrio, sensatez e a paz que tanto buscamos, nestes tempos de guerra.

Por mais de 33 anos tenho recebido tudo isso e mais um pouco da minha melhor amiga, parceira, conselheira, minha doce esposa Mel. Na pessoa dela, a mais excelente de todas, homenageio as demais. Feliz Dia da Mulher!

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