Chegou no começo da noite de quarta (27) a notificação da Secretaria Estadual da Saúde à prefeitura de Glorinha, confirmando o registro do primeiro caso autóctone (contraído no próprio município) de dengue em 2019 no município. A informação, como confirma o secretário municipal da Saúde, Tiago Ramazzini, pegou todos de surpresa.
— Foi um diagnóstico até meio tardio, e de um paciente que entrou no sistema de saúde por outra enfermidade neurológica. Foi só depois de internado, tendo passado pelo nosso Pronto-Atendimento, pela UPA de Gravataí e no hospital em Porto Alegre, é que foram constatados os sintomas de dengue e foram feitos os exames. Mas já que houve a confirmação, vamos fazer uma varredura no bairro onde este paciente morava e aguardar novas orientações do Estado — diz o secretário.
Glorinha é um dos nove municípios com casos autóctones confirmados no Rio Grande do Sul desde o começo do ano. Ao todo, foram 24 confirmações de dengue em 2019. Há ainda 72 casos aguardando confirmação no Estado.
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O paciente é um homem de 56 anos, internado no dia 27 de dezembro de 2018, quando morava no bairro Vila Nova, na zona rural de Glorinha. Vítima de um AVC, segundo o secretário, ele apresentou algumas complicações neurológicas sem relação com a dengue, e por isso havia sido levado ao atendimento médico da cidade. Como Glorinha não conta com os recursos necessários para o tipo de tratamento que era exigido, ele foi transferido para Gravataí, e de lá, ao Hospital Conceição, na Capital, onde foi constatada a infecção por dengue.
Ele já não apresenta os sintomas, e atualmente estaria morando no distrito de Morungava, em Gravataí.
Suspeitas de chikungunya
A confirmação do caso acontece no dia seguinte ao primeiro registro de zika vírus, também autóctone, em Gravataí, em uma adolescente de 17 anos, na região da Morada do Vale. Aumenta o alerta e confirma indicativos que, desde o ano passado, apontavam a Região Metropolitana como um cinturão infestado pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika vírus e chikungunya. Gravataí, Cachoeirinha e Glorinha fazem parte da lista que atualmente inclui 323 municípios gaúchos considerados infestados — são todos onde foram localizadas larvas do mosquito em um intervalo de 12 meses. E a situação ainda pode se agravar, já que, conforme o último boletim epidemiológico do Estado, os três municípios têm notificações sob suspeita de chikungunya. São 22 casos ainda sob investigação no Rio Grande do Sul.
Desde quarta, os agentes municipais de prevenção a endemias de Gravataí fazem a desinsetização de todo o perímetro próximo à possível área de contágio na Morada do Vale. Difícil é conscientizar a comunidade sobre o papel de cada um na prevenção de novos casos.
— Em dois imóveis que guardavam entulhos nos fundos do terreno, nossas equipes foram impedidas de entrar e fazer seu trabalho. Precisamos utilizar da força para que as equipes pudessem agir. As pessoas precisam entender que o combate ao mosquito transmissor não depende somente do poder público, mas das atitudes de cada um na sua casa e na vizinhança. É solidariedade para proteger a todos. Em Gravataí, a ação preventiva por parte do poder público é permanente, ainda assim, aparecem larvas em praticamente todas as regiões do município — diz o secretário municipal da Saúde, Jean Torman.
Prevenção é prioridade
A cidade tem 64 agentes em endemias, e a Morada do Vale estava entre as áreas consideradas de maior risco pela presença de larvas do Aedes aegypti. Após a confirmação do caso de zika, além da desinsetização, o município mobilizou uma ação de “bota fora” entre as Moradas e os bairros vizinhos, para remoção de lixo e entulhos de qualquer natureza. Nos postos de saúde Morada do Vale I e II, Águas Claras e Vera Cruz, são disponibilizados preventivamente repelentes para gestantes.
Tamanho aparato para combater o mosquito transmissor é uma exceção na região. Em Cachoeirinha, onde atuam oito agentes, não houve confirmação de infectados pelo mosquito em 2019, mas o alerta está ligado.
— Temos o diagnóstico de que a larva está aparecendo em maior número e em praticamente todas as regiões do município. É um sinal de alerta para nós, mas principalmente para a sociedade. É responsabilidade de todos tomar as precauções, porque deixar água parada e criar possíveis focos para a proliferação do Aedes contraria a lei e põe em risco os teus entes queridos — reforça o coordenador de vigilância em saúde do município, Gélson Braga.
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Nos primeiros dias de fevereiro, o município fez um novo rastreamento, por amostragem, em dois mil imóveis de Cachoeirinha. O resultado foi preocupante. Em novembro, a cidade, assim como as vizinhas Gravataí e Glorinha, era considerada infestada, mas no nível de infestação predial classificado como satisfatório (abaixo de 1% em um conjunto de 450 imóveis). Agora, confirma Gélson Braga, Cachoeirinha entrou no nível de alerta (entre 1,1% e 3,99%).
O bairro Vista Alegre é o mais preocupante. Neste local, onde há maior acúmulo de moradias na zona norte da cidade, o coordenador diz que 65% das amostras deram positivas para a larva do Aedes aegypti.
— Estamos muito atentos ao que tem acontecido também nos municípios vizinhos, por isso, nos próximos dias, começaremos, nos bairros considerados mais preocupantes, visitações de orientação sobre como evitar a proliferação do mosquito. Também faremos mais ações de conscientização da rua nas próximas semanas — adianta Braga.
Em Glorinha, há cinco agentes de saúde que acabam encampando também a função de orientação à comunidade sobre o Aedes aegypti. O recolhimento de amostras e armadilhas fica por conta de uma fiscal sanitária.
— A nossa fiscal, inclusive, estava de férias. Nós tivemos que chamá-la às pressas e iniciaremos a ação específica na área da Vila Nova e uma nova ação de verificação dos pontos com risco de proliferação do mosquito. E, claro, aguardaremos as orientações de como proceder a partir da confirmação deste caso de dengue — diz o secretário Tiago Ramazzini.
A prefeitura está com edital aberto para seleção de dois novos agentes. Estes, específicos para a área de endemias. A expectativa é de que, em três meses estejam contratados. Segundo o secretário, o caso confirmado não estava dentro do perímetro considerado como principal foco para multiplicação do mosquito, que é a área urbana de Glorinha, próxima ao limite com Gravataí.
COMO EVITAR O MOSQUITO
: Feche caixas d'água, tonéis e latões
: Guarde pneus velhos em abrigos
: Coloque embalagens de vidro, latas e plásticos em lixeiras bem fechadas
: Limpe com escovação os bebedouros dos animais
: Mantenha desentupidos os ralos, calhas, canos, toldos e marquises
: Mantenha a piscina tratada o ano inteiro
: Guarde garrafas vazias com o gargalo para baixo
: Não acumule água nos pratos com plantas. Encha-os com areia
OS SINTOMAS
Dengue
: Febre alta e de início imediato
: Dores moderadas nas articulações
: Podem aparecer manchas vermelhas na pele
: Leve coceira no corpo
Zika Virus
: Febre baixa
: Dores moderadas nas articulações
: Manchas vermelhas na pele nas primeiras 24 horas
: Coceira de leve a intensa
: Pode haver vermelhidão nos olhos
Chikungunya
: Febre alta e de início imediato
: Dores intensas nas articulações
: Nas primeiras 48 horas, aparecem manchas vermelhas na pele
: Pode haver coceira leve
: Vermelhidão nos olhos
ZONA DE RISCO
: A Região Metropolitana é considerada um cinturão de infestação do mosquito Aedes aegypti. Porto Alegre, Alvorada, Cachoeirinha, Gravataí, Glorinha e Viamão estão entre os 323 municípios gaúchos na lista de infestados.
: Um município é considerado infestado quando, no intervalo de 12 meses, é localizado algum foco de larva do mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.
: Até novembro de 2018, Cachoeirinha, Gravataí e Glorinha eram considerados locais com baixo risco de contágio. No começo deste ano, porém, a classificação passou ao nível de alerta.