Nos estertores da tragédia do fechamento até 2021 da Pirelli, em Gravataí, há uma esperança que vem do Japão, e não da China: a possibilidade da Yokohama comprar a Prometeon, fabricante de pneus para veículos pesados criada a partir da italiana, e que hoje funciona separadamente, com 1,4 mil funcionários, e apenas usa a marca licenciada para o produtos. Mas também há um temor: o negócio não evoluir e os pragmáticos chineses buscarem vantagens tributárias em São Paulo.
– Ainda não houve proposta, mas a Prometeon já passou pelo chamado due dilligence, um pente fino da compradora interessada – confirma ao Seguinte:, sob condição de anonimato, fonte com experiência de mais de três décadas no setor.
– O fechamento da Pirelli é inevitável, já é notícia velha, de 2019. Mas o parque industrial está ali. Se o negócio concretizar, a expectativa é que a japonesa, que não tem produção no Brasil, e apenas importa pneus, faça investimentos que utilizem a capacidade das duas fábricas, retomando empregos – acrescenta, contando que, mais timidamente, a Goodyear também sondou investimento na fábrica que restará da Pirelli.
Pratique o Falun Gong aquele que espera por uma confirmação da Prometeon. A empresa do ‘Dr. Chem’ é tão fechada quanto as redes sociais chinesas. A Yokohama do Brasil também silencia sobre o negócio.
– Pelo que sabemos, está tudo parado com a pandemia – diz Flávio de Quadros, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Borracha em Gravataí (STIAB), que confirma o temor de que os chineses troquem o Rio Grande do Sul por São Paulo.
– Em Gravataí a mão de obra é mais barata, mas o ICMS gaúcho é de 18%, enquanto em São Paulo, 12%.
Não é uma preocupação nova. No artigo Tirando a bunda da cadeira para socorrer Pirelli; Eles Não Usam Black-tie, de um ano e 5 dias atrás, reportei o temor do presidente, que confidenciou ter ouvido de negociadores da ChemChina, em audiência no Tribunal Regional do Trabalho, em Porto Alegre, a ameaça de abandonar o RS por SP.
Sigilos, ou boatos à parte, mesmo que diferente da familiaridade de 40 anos dos italianos, a vida continua no pesado chão da fábrica da Prometeon. A partir dos primeiros minutos desta quinta, o sindicato promove assembleia online para submeter à aprovação uma participação nos lucros e resultados, INPC e um prêmio pela desistência de processos de 2004 e 2005 que, pelo que apurei, podem colocar no bolso dos trabalhadores, dia 10, próximo a R$ 10 mil líquidos.
Para efeitos de comparação, o PPR, que no ano passado foi de R$ 12 mil, despencou para cerca de R$ 5 mil com o ‘contágio’ da pandemia na produção.
– Não gostaria de falar em valores, para não expor os trabalhadores – despista o presidente.
Sobre o ‘Ciao, Pirelli’, Flávio de Quadros explica que os 150 demitidos de hoje fazem parte do Plano de Demissão Incentivada (PDI) firmado em 2019 entre a empresa e os trabalhadores, com intermediação do sindicato, que encerrará em 2021 a operação da empresa em Gravataí, com o desligamento de outros cerca de 800 funcionários.
– Tentamos negociar, adiar os desligamentos ao menos até o fim da pandemia, mas os negociadores da empresa não foram sensíveis. É um momento triste.
A construção do PDI já tratei em detalhes em artigos como Como ficou plano de incentivo a demissões na Pirelli, Sem acordo assinado, indenizações da Pirelli restariam suspensas e A estabilidade até 2021 na Pirelli; da depressão ao grito e Pirelli, uma fábrica em depressão; entenda o que está acontecendo.
– Seguimos lutando, mas (nos casos Pirelli e Prometeon) nem a Prefeitura, nem o Governo do Estado ajudaram – diz Flávio, que divulgou nota no site do STIAB nesta quarta, que você lê clicando aqui.
Ao fim, a direção do sindicato socializa a tragédia do dia, e a de um potencial amanhã: nem empresas, nem governos estão ajudando – culpar um ou outro, ou todos, não vai recuperar os mil empregos perdidos na Pirelli, ou garantir os 1,4 mil ameaçados na Prometeon.
A esperança está à 18.897 quilômetros de Gravataí, do outro lado do mundo, no Japão, e atende por Yokohama Rubber Co. Ltda.
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