Quando eu participei do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom) de 2016, apresentei meu artigo com a proposta de periodização do comentário esportivo no rádio de Porto Alegre. Era um mestrando começando meu projeto de pesquisa. O texto foi o pontapé inicial da minha dissertação, defendida em março de 2018. Era um empolgado aprendiz que levantava a hipótese de que, a partir de diversos pressupostos, encontrados no artigo e na pesquisa final, havia num novo modelo de comentário esportivo no rádio de Porto Alegre — hipótese confirmada pela pesquisa. Entre quatro fatores essenciais que delineiam este modelo está o aumento de relevância das análises tática e de desempenho, com base em dados — números, mapeamentos, índices e comportamentos individuais e coletivos no campo de jogo. Após minha apresentação, um professor comentou algo que eu não tinha percebido. Afinal, havia um deslumbramento com a pesquisa, com o mestrado e, também, com este modelo. Acreditava que, em breve, o comentarista contemporâneo — rótulo utilizado por mim para designar este profissional — seria o modelo correto, hegemônico e preciso a se seguir. Que os novos termos seriam incorporados inevitavelmente pelos analistas, que suas complexidades seriam, até por força de sobrevivência no trabalho, irreversivelmente compreendidas. Que esse comentarista seria, obrigatoriamente, o comentarista do futuro e que era um modelo infalível, irreprovável, novo, fresco e embasado. Depois de explicar o que eram as análises de desempenho e tática, com fonte, embasamento e segurança, o professor, em voz baixa, comentou: “Se fôssemos seguir a risca tudo isso, Garrincha jamais seria o que foi”.
O professor João Paulo Medina, ao explicar sobre ao psicologia do esporte, citou o Mané:
“O [psicólogo] pioneiro em sua aplicação no futebol brasileiro foi o Prof. João Carvalhaes. Sua atuação, entretanto, apesar da conquista brasileira, foi muito questionada. O fato marcante deste trabalho inovador não foram as inúmeras contribuições para buscar-se um entendimento mais profundo da mente do atleta ou dos aspectos psicológicos que influem no rendimento de uma equipe. O que se destacou na verdade foi o fato do psicólogo, dentro do modelo limitado de avaliação que dispunha naquela época, ter considerado o genial Garrincha inapto para a prática de um esporte de alto rendimento como o futebol. Este, talvez, tenha sido um aspecto determinante para a grande resistência que a psicologia do esporte ainda encontra para se estabelecer de vez no futebol e no esporte de uma forma geral”.
É claro que as lendas e os folclores tomam conta do imaginário de uma forma mais rápida que os fatos. São mais deliciosas e alimentam nossa eterna busca por uma teoria da conspiração que nunca vem. Carvalhaes foi declarado incapaz e toda a psicologia do desporto vista como uma superficialidade no mundo do futebol. Entretanto, com o desenvolvimento da ciência, entendeu-se que o futebol é multidisciplinar e que o mental é preponderante para a prática de um esporte de alto nível, onde existem diversas tomadas de decisão e índices altíssimos de concentração. Garrincha foi declarado inapto pelo psicólogo. Antes, já havia restrições ao atleta: desobediente em campo, driblava em excesso e, por vezes, de forma desnecessária, fisicamente incapaz, de pouca compreensão tática, só fazia uma jogada etc. A ciência, bem menos apurada que em 2018, descartava Garrincha. Em 1962, sem Pelé, Garrincha foi o melhor jogador da Copa: fez gol de ponteiro, de fora da área e de cabeça. Ruim de cabeça, torto de pernas, desobediente em campo e taticamente primitivo, Garrincha não seria o que foi se dependesse única e exclusivamente das análises científicas, táticas, de desempenho, físicas e psicológicas. Ele é o calcanhar de aquiles histórico do novo modelo de comentarista apresentado por mim na dissertação. Um ponto fraco que entortou o percurso da minha pesquisa, fazendo com que eu adotasse uma perspectiva bem menos otimista daquela que eu tinha sobre o novo comentarista. Textos como o que eu publiquei em agosto de 2017escancaravam um dilema pessoal que gerou desgaste com essa nova turma, incompreensões gerais sobre o que eu pensava e alimentam até hoje o que eu penso sobre o presente e o futuro da análise esportiva. O novo comentaristaprevê índices, bases, comportamentos, tendências, novos termos e novas medições para apontar o que serve e o que não serve para um time de futebol. Mas, talvez, não considere algo fundamental: intuição. Intuição que coloca em campo um baixinho de pernas tortas, dribles desnecessários, vocação para a irreverência e descumprimento aos joões, aos psicólogos e aos tecnocratas. Aquele que tinha tudo para dar errado e que deu certo. Aquele que a ciência desprezou, mas que ganhou duas Copas para o Brasil. Garrincha driblou a ciência.
Efeito Moneyball: nem tudo são números
Revi recentemente Moneyball, adaptação do livro de Michael Lewis sobre a história da montagem do Oakland A’s, time de beisebol que fez grande temporada em 2002 na Major Baseball League, com uma equipe que foi armada através de índices e estatísticas dos jogadores, já que a franquia não dispunha de muito dinheiro. A ideia era: ao invés de comprar jogadores, comprar índices feitos por esses jogadores. A teoria foi concebida por Bill James, a partir de fundamentos da matemática e da economia. Ou seja, o atleta seria essencialmente aquilo que ele desenvolvia dentro de campo. Sua produção, nada mais que isso. Este modelo mudou o esporte nos Estados Unidos, colocando o campo da análise de desempenho num novo patamar. Há, na obra, um ferrenho debate entre os olheiros, treinadores e especialistas antigos, os intuitivos e o economista aparentemente neófito no ramo, que é uma espécie de mentor intelectual de Billy Beane, o manager da franquia. Esse debate, curiosamente, é quase uma reprodução do comentarista raiz x comentarista Nutella/videogame, essa contradição definitiva do jornalismo esportivo pós-moderno.
No entanto, tem uma cena que passa despercebida — intencionalmente? — pelos analistas que têm o livro/filme como uma Bíblia do esporte moderno. O time é montado, mas lá pelas tantas, um dos jogadores contratados por causa dos índices, Jeremy Giambi, faz jus à sua fama de marrento, bad boy e encrenqueiro. Contratado pela base de dados, depois de uma derrota da equipe, o jogador está performando alegremente no vestiário. Com o time desandando, entra em campo a intuição do ex-jogador Billy Beane: é preciso limpar a casa. Dispensa vários, contrata outros e, entre a fiel escolha pelos números e o espasmo de intuição de que era preciso equilibrar o vestiário, tem-se a sintonia de como um time anda. Nem tudo é ciência, nem tudo são números.
Um mesmo ser humano é capaz de ser um profissional brilhantemente produtivo num lugar e não conseguir jogar noutro. André Gomes, meia português, de bom desempenho no Valencia, convocado para a seleção, passou a jogar mal no Barcelona. Tempos depois, o desabafo do jogadortrouxe à tona mais um elemento que pouco se fala no futebol. Existem pressões, ambientes e momentos da vida em que nada parece dar certo. Desaba a confiança, o rendimento e, por fim, eles, os números. Esse fator ainda é imprevisível, por mais que se tenha um acompanhamento psicológico competente. Há acidentes na nossa vida. Há incompatibilidades, problemas, confusões que a gente não consegue prever. Eu não sei se serei o mesmo profissional se for trabalhar em outro lugar, por exemplo. Por mais que a multidisciplinaridade atue, com os departamentos de um time integrados, fatores essencialmente pessoais podem gerar desconforto. Pode ser uma rusga com um companheiro, uma tragédia pessoal, a saudade de casa ou não gostar do ambiente de trabalho. Os números não serão repetidos e o talento não funcionará.
Com isso, é preciso que outras dimensões sejam pensadas na hora de contratar um jogador. Ou na hora de convocar um jogador. Mas como saber? O que vem primeiro? Os índices? Um histórico de vida? Uma avaliação psicológica? Como as características do atleta vão encaixar na equipe? Ou o talento?
Luan, Sané e Nainggolan: talentos desprezados
Na história do futebol, são vários os casos de jogadores que ficaram de fora de convocações por decisões estranhas de treinadores. Em 1986, Telê Santana cortou Renato Portaluppi por indisciplina. Renato era o melhor jogador em atividade no futebol brasileiro. Em 1978, por escolha de Cláudio Coutinho, Falcão não foi ao Mundial. Em 2002, para ganhar o grupo, Felipão optou pela ausência de Romário e apostou tudo em Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho. Talvez em menor proporção, chamou a atenção em 2018 duas ausências em especial: Leroy Sané, um dos melhores jogadores da edição 17/18 da Premier League pelo Manchester City não foi relacionado para disputar a Copa pela Alemanha e Radja Nainggolan, fundamental para a campanha da Roma semifinalista da Champions, cortado da lista da Bélgica. Li muitas explicações sobre as duas ausências. Entre elas, a de que Sané não era um jogador que se encaixava no sistema de Joachim Löw, por ser um extrema que busca a ponta e não o meio (como Brandt, Reus, Müller e Draxler, os outros escolhidos) e a de que Nainggolan não lidaria bem com a reserva na Bélgica, já que é um contumaz bad boy. Em suma, as organizações táticas de Alemanha e Bélgica não tinham espaço para talentos como Sané e Nainggolan. No Brasil, a discussão maior foi em torno de Luan. Se, por um lado, entendeu-se que Arthur perdeu a posição para Fred, sobre Luan, o debate foi mais amplo. Com características extremamente peculiares, o jogador do Grêmio não teria espaço na proposta construída por Tite.
Via de regra, as três escolhas foram bem consideradas pelos analistas táticos. A defesa é de que a capacidade individual e o talento são instrumentos e não finalidades. Ou seja, que a qualidade desses jogadores deve ser contextualizada dentro da ideia que o treinador pretende colocar em campo. Não interessa se Luan foi o melhor jogador da América. Suas características não são aplicáveis no time de Tite. Sané, inexperiente, mas, no meu ponto de vista, o mais talentoso ponta alemão do momento, não tem as mesmas características que seus concorrentes têm. Lembro que Brandt é menos jogador, Draxler tem menos minutos na temporada, Müller menos partidas na posição e Reus um histórico de lesões. Mesmo assim, eles estão na Copa. Sané, não. Já Nainggolan, barrado por Roberto Martínez, técnico da Bélgica, fica num meio termo entre a explicação oficial — a de que ele não conseguiria se adaptar ao sistema utilizado — e a mais provável — de que é indisciplinado. Nos três casos, ficou evidente que o talento está em segundo plano.
No final de 1992, Romário passava a ser persona non grata para a dupla Parreira-Zagallo. Num amistoso em Porto Alegre, ele ficou no banco de reservas na partida contra a Alemanha. O escolhido foi Careca, que naquela altura já não era mais o grande centroavante que brilhou no futebol brasileiro dos anos 1980. Romário estava jogando demais no PSV. Meio ano depois, transferiu-se para o Barcelona de Cruyff e formou uma dupla inesquecível com o búlgaro Stoichkov. Romário disse: “não saí da Holanda para ficar no banco”. Romário deixou de ser convocado. Parreira, na campanha de 1993, utilizou Careca como titular e Evair como opção imediata. Passou a utilizar um ataque sem centroavante, com Bebeto e Müller. Romário brilhava em Barcelona. Parreira precisava do talento de Romário. Convocou o jogador para o jogo decisivo contra o Uruguai. Romário fez dois, o Brasil foi para a Copa, ele foi o melhor jogador do Mundial e a seleção foi tetra.
Pelé ou Tostão? Uma seleção com quatro “camisas 10”
No dia 26 de abril de 1970, tendo Zagallo como treinador da Seleção, Pelé ficou no banco de reservas em um amistoso contra a Bulgária, que terminou empatado em 0 a 0, na preparação para a Copa do Mundo do México. Naquele dia, no Morumbi, o titular da posição, o número 10, foi Tostão. Não se falava em outra coisa na época: Tostão e Pelé podem jogar juntos? A rigor, o debate se estendia para outros setores do time. Jairzinho jogava “por dentro” na época pelo Botafogo. O ponteiro direito era Rogério. Tostão e Pelé despenhavam a função de ponta-de-lança em Cruzeiro e Santos respectivamente. Rivellino era o clássico 10 do Corinthians. Zagallo queria um 9, um centroavante. Testou Toninho Guerreiro. Convocou Dario. Mas seu titular era Roberto Miranda, centroavante do Botafogo.
Fosse optar pelo “modelo do treinador”, o time estava definido. Zagallo era ortodoxo e utilizaria um esquema tradicional com dois pontas, um ponta-de-lança e um centroavante. Então, resolveu fugir um pouquinho do convencional e resolveu acomodar as melhores melancias da feira. Jogaram juntos Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino, que nunca tinha sido ponta-esquerda no Corinthians. Para completar, Gérson. Um lateral-base (Everaldo) e um apoiador (Carlos Alberto). A ideia contraria um pouco o que alguns analistas pregam hoje em dia: o tempero principal (e não acessório) seria (foi?) o talento. Zagallo poderia muito bem escalar Paulo César Caju, um ótimo cumpridor de função pelo lado esquerdo (fez com Dirceu quatro anos depois). Ou, quem sabe, Roberto Miranda para manter a ideia de um camisa 9. Talvez tivesse realmente que escolher entre Pelé e Tostão. Preferiu colocar todos na equipe. Os jogadores compreenderam o espírito e entenderam o oposto: naquele caso específico, o talento é propulsor do jogo coletivo e não o contrário. O talento era finalidade e não instrumento.
A revolução dos novos analistas: uma hipótese do futebol tecnocrático
Afinal, é possível medir talento? O que é talento? O talento é uma manifestação visível, palpável ou é uma espécie de entidade filosófica de caráter subjetivo? Um driblador é mais talentoso que um marcador? O que designa o talento? Os números? A ciência? Ou seria um conjunto de fatores? Melhor, como aproveitar o talento? É preferível abrir mão dele por conta de uma ideia de jogo fundamentada? Ele é meio ou fim? Existe algo que impede a manifestação do talento?
Vários casos foram citados no texto. Em alguns momentos, verificou-se que as imprevisibilidades humanas podem inibir o talento. Noutros, a previsibilidade da estatística se mostra inócua diante dele. A história nos mostra que em vários momentos o talento se sobressaiu à indisciplina (Romário), à psicologia (Garrincha) e à estrutura tática (Copa de 1970). Nos casos de Sané, Nainggolan e Luan, talento não é o suficiente. A hipótese de que o individual é um instrumento para a engrenagem coletiva se baseia, essencialmente, em entender que ser bom não basta por si só. É preciso se encaixar num sistema, geralmente pré-determinado por um gestor. É preciso que se tenha índices corretos para que o jogador sirva, seja em seu comportamento extracampo, em seu comportamento dentro de campo, em sua movimentação, em sua característica, em seu papel diante dos companheiros e dos adversários. A fraqueza dessa hipótese é a confirmação histórica de que é possível montar equipes onde o talento vem à frente do rigor tecnocrático imposto por aquele que monta o time.
Entre tantos equívocos que vejo dos analistas táticos modernos, um deles é se prender de forma cartesiana a este novo modelo de análise, onde tudo é perfeitamente compreensível, explicável e previsto. Futebol é um jogo caótico, às vezes provocado por acontecimentos que ficam longe da alçada de quem analisa. É uma obsessão por ver conceito em tudo. Um gosto especial pela aplicação do conceito acima da delícia que é simplesmente ver um cara que joga bem em campo. É desconhecer uma lei que atua sobre nós o tempo todo: somos adaptáveis, suscetíveis e variáveis. Garrincha driblava sempre para o mesmo lado e ninguém conseguia marcar. Romário se posicionava sempre na mesma faixa na área e ninguém conseguia parar. Porque jogador não é robô. Porque a ciência determina padrões e não verdades absolutas no futebol. Porque os números podem indicar um momento e não o todo. Porque há variantes incontroláveis, daquelas que só o ser humano é capaz de fazer. Porque ninguém previa que o Karius fosse entregar a bola nos pés do Benzema, nem a “postura corporal perfeita” dele — qualquer atacante faria aquilo, certo? Porque o chute do Bale era defensável. Porque ninguém sabia, nem ele, que havia sofrido uma concussão momentos antes. Porque ninguém prevê uma coisa dessas. Nem o Bale.
Somente uma coisa, igualmente inexplicável, é capaz de resolver estes problemas: intuição; tão combatida pelos modernos e tão utilizada pelos antigos. Sabedoria vem com o tempo. Isso explica, por exemplo, porque há menos elogios a Abel Braga do que a Fernando Diniz. Porque tudo que é novo parece ser melhor, mais arejado, mais ousado. Abel, intuitivo e um mestre na gestão de pessoas, trabalha coisas que outros treinadores, mais jovens, não conseguem. Um dia eles certamente conseguirão. Intuição é como faro, melhora com o tempo. Intuição também não significa desmerecer a ciência. Futebol se trabalha com mesclas, o tempo todo. Se ele é multidisciplinar (técnico, psicológico, tático e físico), também é uma fusão de diversas dicotomias: intuição e ciência; homem e grupo; velho e novo; razão e emoção; estatísticas e imprevisibilidades. Desmerecer totalmente o empirismo, a intuição e a sabedoria dos velhos é tão preconceituoso quanto aquilo que os modernos mais condenam, que é o preconceito que os antigos têm com os analistas modernos. Outro engano é acreditar, de fato, que há uma revolução na análise de futebol. Seja pelo Moneyball ou pelo Júlio Garganta, esta revolução vem pelos livros, pelo estudo e pelo uso perfeito da ciência, sem qualquer espaço para a intuição, o empirismo e a prática. Este é um assunto que pretendo abordar em outro texto, já que considero uma revolução incompleta. Ninguém é revolucionário do próprio umbigo, é preciso impactar de verdade. Os novos analistas ainda não conseguiram fazer isso, seja por ainda não entenderem como funciona a comunicação, por uma cultura que é difícil de quebrar ou por pura arrogância.
Portanto, se o talento é considerado um instrumento para auxiliar o processo, o modelo e o pensamento que norteiam a construção de uma equipe, acredito que este papel cabe à ciência e não, evidentemente, ao talento. Ela pode e deve ajudar nestes contextos. No entanto, não pode ser determinante para apartar talentos e categoricamente definir que um atleta talentoso não renderá o esperado porque o mapa de calor dele não bate com o que o treinador que pensa ou porque ele é indisciplinado ou porque ele faz melhor a ponta que a diagonal. A mágica do futebol é ver em campo um jogador fazer aquilo que ninguém prevê. A mágica do ser humano é poder se adaptar. Logo, presumir que o Luan é inapto para jogar na seleção porque seu estilo não se adapta ao jogo proposto pelo treinador é desconhecer que um ser humano é capaz de fazer. É como dizer que o Garrincha era inapto em 1958. Nesse caso, como em 1970 e em 1994, o talento venceu. Será preciso bem mais que livros, podcasts, megalomania, egos insuflados, termos incompreensíveis e preconceito para que eu deixe de realmente acreditar nisso, já que, até agora, não passa de uma hipótese que, por causa da deliciosa certeza de que o futebol é incerto, nunca vai se confirmar.
Carlos Guimarães é jornalista (PUCRS); comentarista esportivo (Rádio Guaíba); mestrando em Comunicação e Informação (UFRGS); especializado em Jornalismo Esportivo (UFRGS).