Desde domingo, Gravataí acordou mais segura, mas nem todos parecem dispostos a celebrar. Controladores de velocidade na Avenida Ely Corrêa e avanços semafóricos na Avenida Dorival de Oliveira entraram em operação, escolhidos a dedo pela Secretaria de Mobilidade Urbana (Semurb) por um motivo gravíssimo: o histórico de acidentes e mortes nesses locais. A reação em certas parcelas do ‘Grande Tribunal das Redes Sociais’, contudo, foi previsível e preocupante. Surgiram as críticas rasas à suposta “indústria da multa” e, mais grave ainda, dicas criminosas de como adulterar placas para burlar a fiscalização.
Diante desse cenário, é preciso clareza: radares não são uma indústria da multa, são uma indústria da vida. E os dados, frios e incontestáveis, gritam essa verdade.
O secretário Guilherme Ósio resume o objetivo: preservar vidas e organizar o trânsito. O ponto da Avenida Ely Corrêa, onde o radar foi instalado (sentidos Parada 97), já registrou mortes por excesso de velocidade. Os avanços semafóricos na Dorival de Oliveira (Parada 68 com São Luiz e Parada 74, próximo ao Bombeiros e UPA) foram priorizados devido à reincidência de acidentes graves e atropelamentos causados por quem desrespeita o sinal vermelho. Os equipamentos, vale destacar, passaram por aferição do Inmetro. Não há arbitrariedade, há critério técnico e transparência.
Agora, à eficácia, que os críticos convenientemente ignoram.
Conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), após um ano de radares em SP e DF a redução de 21,3% e 8,5% nas mortes, respectivamente. O Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) mostra que vias com radares fixos têm 32% menos mortes. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informa que em rodovias federais com radares, queda de 12 km/h na velocidade média e redução de até 40% em acidentes graves. Na BR-116/RS, 28% menos mortes pós-instalação. O Ministério da Infraestrutura registra que os trechos fiscalizados eletronicamente têm 52% menos acidentes graves e 60% menos mortes. Já a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) detectou que 7 em cada 10 motoristas reduzem a velocidade ao saber da existência de radares.
O resumo é cristalino: fiscalização eletrônica salva vidas. Reduz a velocidade média em 10-15 km/h, diminui as mortes em 20-30% e os acidentes graves em até 40%. São números que representam pais, mães, filhos e amigos voltando para casa.
Há, em Gravataí, um exemplo vivo: a “Curva do Bigode”, por muito tempo a ‘curva da morte’, localizada em frente ao quartel do Corpo de Bombeiros, na parada 74 da Dorival. Desde que os radares entraram em funcionamento, em 1º de maio de 2023, o local não registrou acidentes no local, nem com lesão corporal nem com vítimas fatais.
Para completar, as imagens dos ‘pardais’ serão compartilhadas pelos órgãos de segurança pública, como o Seguinte: reportou em Imagens de controladores de velocidade serão acessadas em tempo real pela BM no combate ao roubo e furto de veículos em Gravataí.
O efeito Dunning-Kruger e o antivax
Reputo beira o absurdo a postura de alguns ‘cidadãos de bem’ nas redes, ensinando ilegalidades e negando a realidade dos dados. Remete, infelizmente, ao conhecido efeito Dunning-Kruger. Como explica Christian Dunker, psicanalista da USP, esse fenômeno mostra que indivíduos com baixo conhecimento em uma área frequentemente superestimam sua competência e são incapazes de reconhecer sua própria ignorância.
Quem é realmente péssimo em algo (como avaliar políticas públicas de segurança viária baseadas em ciência) tem enorme dificuldade em perceber isso. As redes sociais, nesse caso, amplificam vozes ruidosas, mas vazias de fundamento –– o movimento antivax, e a queda na cobertura vacinal, estão aí para mostrar os estragos: no município só uma a cada três pessoas do grupo de risco vacinaram contra gripe, por exemplo.
O prefeito Luiz Zaffalon, ao agir respaldado por evidências e pelo dever de proteger vidas, demonstra estar imune a esse efeito pernicioso. Optou por seguir especialistas em trânsito e estatísticas, não os especialistas gravataienses das redes antissociais.
Por fim, um lembrete óbvio, mas que a fúria irracional parece apagar: os controladores de velocidade e os avanços semafóricos não multam quem não comete infração. Eles registram e penalizam quem coloca em risco a própria vida e a dos outros, quem ignora limites técnicos estabelecidos para a segurança de todos e quem avança sobre o direito de passagem dos demais.
Em Gravataí, os equipamentos estão lá para lembrar que o asfalto não é território selvagem, que a pressa não justifica a morte e que a verdadeira ‘cidadania de bem’ começa pelo respeito às leis e à vida alheia. Quem teme o radar, talvez deva temer mais a si mesmo ao volante. A cidade, com certeza, ficou mais segura. Resta saber se alguns estão dispostos a se tornar cidadãos mais responsáveis.