‘Projeto Rio Limpo’ foi aprovado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí e tentará financiamento junto ao governo estadual. Recomendamos a reportagem Projeto de educação ambiental quer levar alunos para dentro de um ‘barco-escola’ no rio Gravataí, de Luciano Velleda, publicada pelo Sul21, sobre a iniciativa de Gravataí
Colocar os alunos de escolas públicas dentro de um barco para verem de perto o rio Gravataí e aprenderem a importância e os desafios de uma bacia hidrográfica. Esse é o objetivo central de educação ambiental do “Projeto Rio Limpo”, aprovado nesta terça-feira (10) pelo Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí.
O projeto, diga-se, não é exatamente novo, embora seja inovador. Elaborado pela Associação de Preservação da Natureza – Vale do Gravataí (APN-VG), que completará 45 anos de fundação em 2024, o “Projeto Rio Limpo” começou em 2016, financiado pela Petrobras e teve duração de dois anos. Desde então, o “barco-escola” realizou em torno de 300 viagens pelas águas do rio Gravataí.
A proposta almeja que o governo estadual financie 400 viagens com o “barco-escola”, nos nove municípios inseridos dentro da bacia hidrográfica do rio Gravataí, para que alunos de escolas públicas da região possam ter aulas de educação ambiental e a oportunidade de entender a complexidade do sistema hídrico da bacia do rio Gravataí.
O geólogo Sérgio Cardoso, presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, destaca que 66% da bacia hidrográfica é uma Área de Proteção Ambiental (APA), a APA do Banhado Grande, a maior unidade de conservação do Rio Grande do Sul. Cerca de 1,3 milhão de pessoas moram no território da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, abrangendo nove municípios – Santo Antônio da Patrulha, Glorinha, Gravataí, Taquara, Canoas, Alvorada, Porto Alegre, Cachoeirinha e Viamão. Juntas, as cidades concentram cerca de 12% da população do RS.
– O projeto apresentado tem a concepção de misturar a política de recursos hídricos com a política de resíduos sólidos, mas na sala de aula tradicional? Não, lá dentro do barco. O objetivo do projeto não é substituir o professor. Queremos que o professor se qualifique e faça o debate de formação dentro da escola, mas queremos trazer esse aluno para dentro do barco – explica Cardoso.
Ele destaca que o rio Gravataí é considerado um dos mais poluídos do Brasil, algo que até concorda, mas se restrito a cerca de 30% do rio, no trecho próximo à zona norte de Porto Alegre, Cachoeirinha e Canoas. Somente a zona norte da Capital, pondera o geólogo, tem em torno de 500 mil pessoas morando dentro da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí e despejando esgoto não tratado no rio. Ele calcula que cerca de 50 toneladas de esgoto cheguem diariamente no rio Gravataí. No entanto, os outros 70% do rio, afirma Cardoso, não têm o mesmo grau de poluição e não enfrentam o mesmo problema da falta de saneamento.
O presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí conta que, dependendo da metodologia, as escolas podem preferir trazer o aluno “verde” para o barco e completar o aprendizado depois em sala de aula, ou fazer o contrário, dando o conteúdo antes em sala de aula e finalizando com a visita técnica ao rio.
O projeto está planejado contendo cinco paradas ao longo do rio Gravataí, nas quais os alunos poderão aprender sobre a dinâmica hídrica, as questões envolvendo a Área de Proteção Ambiental (APA), as lutas ambientais e as diferentes responsabilidades dos atores envolvidos.
Próximos passos
Após a aprovação unanime pelo Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, a Associação de Preservação da Natureza – Vale do Gravataí (APN-VG) deve agora aprofundar a linha pedagógica e logística do projeto antes de apresentá-lo ao governo estadual para obter apoio financeiro.
– Para nós, o desafio é fazer o debate da educação. Precisamos reeducar as pessoas. A meta agora é fechar o projeto técnico-pedagógico para encaminhar ao governo do Estado, pleiteando o recurso para apoiar as 400 viagens que foram aprovadas pelo plenário do comitê – afirma Sérgio Cardoso, que ocupa o cargo de presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí e também tem ligação com a entidade criadora da proposta.
As 400 viagens do “Projeto Rio Limpo” estão orçadas em R$ 840 mil, o que representa R$ 2.100,00 por viagem.
Nos próximos dias, o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí encaminhará o projeto para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (SEMA), direcionado ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos, buscando apoio financeiro do Fundo Estadual de Recursos Hídricos.
Cardoso espera que o projeto avance e que o governo estadual concretize o convênio com a Associação de Preservação da Natureza – Vale do Gravataí (APN-VG). Caso o governo de Eduardo Leite (PSDB) não financie o projeto, ou apoie em parte, ele explica que o custo pode também ser dividido entre os nove municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, respeitando a proporcionalidade do número de escolas em cada cidade. Ele estima que haja cerca de 300 escolas nas cidades abrangidas pela Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí.
O geólogo afirma que a educação ambiental não tem sido prioridade do Brasil e nem do Rio Grande do Sul nos últimos anos e que a crise do clima, com severas secas sucedidas por enchentes torrenciais, exige trabalhar a educação e a formação político-social das pessoas:
– O que está acontecendo agora no Rio Grande do Sul, a enchente do rio Taquari-Antas, é um tapa na cara dos negacionistas das mudanças climáticas. Precisamos parar de negar que as coisas vão acontecer porque já estão acontecendo. A educação ambiental foi abandonada no estado, os municípios não colocam dinheiro nesse tema, parece que é perda de tempo. Então esse é o momento mais oportuno de trazer as crianças e os municípios começarem a fazer o seu papel.