Da série me cortem os tubos! Me aguentem ou…
Não lembro exatamente o ano. Foi lá pelos anos 80 quando eu recém andava pela faixa dos meus 25 a 30 anos, por aí. Eu viajava muito a serviço e contava com confiança plena os meus empregadores de então.
No caso, eu prestava serviços de toda ordem no Jornal do Povo, na terra dos arrozais.
E estas viagens tinham razões diversas porque, afinal, quem estava sempre disponível era eu. E como sempre fui muito curioso, sabia um pouco de tudo que envolvia a rotina de um jornal. Então era sempre o primeiro a ser lembrado, para qualquer missão.
Se viajar era meu nome, estrada era apelido e mudar a marcha meu sobrenome!
Certa feita, como parte de expansão e modernização do parque gráfico, fui o escolhido conhecer e levar um impressor para testar um equipamento na cidade de Três Passos. Máquina pretendida para melhorar qualidade da impressão do jornal e, também, poder ofertar policromia (cores!) em suas páginas, aos leitores.
Viagem longa.
Saímos cedo, passamos mais tempo na estrada do que propriamente no entorno da máquina que, recordo, estava sem uso há muito tempo e quando foi colocada à prova imprimiu mal uma barbaridade!
Mas com a garantia de que os rolos de borracha seriam restaurados, entre outras providências, acabamos aprovando a compra da máquina. Felizmente acertamos e o JP teve um salto na qualidade de impressão e passou a imprimir com cores na capa e contracapa, três vezes por semana.
Aos fatos!
Retornávamos para Cachoeira. Viagem tranquila num Fiat 147. Só quem dirigiu um desses sabe como é.
Já meio lusco-fusco, vindos das bandas de Júlio de Castilhos descíamos pela “Garganta do Diabo” na direção de Santa Maria. Época de safra de soja. Fila de caminhões, todos com primeira marcha engatada e freio-motor acionado para maior segurança na descida.
Mantive o ritmo de velocidade dos cargueiros, até porque ultrapassar ali era proibido e um risco de acidente. Mesmo que ainda fosse um jovem imprudente, vez por outra aflorava um rasgo de sanidade.
Em uma curva leve à esquerda, entretanto, o caminhoneiro à minha frente e que por ser o mais lento deixou que os demais se distanciassem dele, fez sinal com o braço para que eu o ultrapassasse.
Se ele disse que eu podia, então eu podia.
Iniciei a ultrapassagem e quando a estava finalizando, felizmente em segurança, adivinhe!
Dei de cara com o posto de Polícia Rodoviária Federal que, hoje, nem sei se ainda existe naquele ponto.
O patrulheiro correu para a pista e com uma lanterna luminosa me mandou encostar. Pediu minha habilitação, documentos do carro, perguntou se eu sabia da infração cometida (ultrapassar em local proibido) e puxou o bloco onde lavraria a autuação. Seria mais uma multa para eu pagar.
Seria.
Como expliquei a ‘filhadaputice’ do caminhoneiro que me mandou ultrapassá-lo, ele meio que sorriu entredentes, dando a entender que isso seria algo normal naquele trecho. Acho até que ele ficou com pena de eu ser mais uma das vítimas.
Deu mais uma volta no carro, leu que estava escrito o nome do jornal e a palavra “Reportagem”, parou do meu lado e me estendeu os documentos, falando:
– Já que o senhor me pareceu gente boa, vamos fazer o seguinte: hoje eu não vou lhe multar, mas assim que puder o senhor escreve, por favor, uma reportagem ensinando aos motoristas sobre como não se deve ultrapassar em local proibido, porque isso é um perigo e uma infração de trânsito muito grave. Tenha uma boa noite e boa viagem.
Me devolveu os documentos e eu dei a partida.
Claro, com o ‘rabo entre as pernas’, literalmente, e o meu parceiro de viagem se finando de dar risada… Da minha cara, claro!
Por estas e por outras que eu digo: para o mundo que eu quero descer.
Ah, aproveita e me corta os tubos!