O futebol revela a grandeza do craque humilde, o gozo vaidoso do vencedor temporário, o frenético desafogo do gol, a polêmica feroz apenas por um resultado.
Carlos Rodriguez Duval, escritor argentino.
Todo mundo já ouviu alguma vez aquela expressão que faz parte do “gauchês” e do folclore: “Mãe do Badanha”. É usada para mandar alguém longe, para definir pessoas que incomodam, chateiam, insignificantes, menosprezáveis, desprezíveis. Pois saibam, vocês aí: o Badanha existiu, sim (e a mãe dele também, por óbvio), e foi jogador de futebol! Na década de 1940! E como existe uma referência a ele na agenda da semana, abaixo, é um bom momento para apresentar a figura.
O caso é que a mãe do Badanha era uma mala, sem alça e sem rodinha. O profissionalismo estava chegando ao futebol naquela época, e era a velha faca-na-bota que negociava os contratos do filho com os clubes. A temida senhora também tinha o hábito de invadir os jornais, para reclamar aos berros de eventuais crônicas desfavoráveis ao seu menino. De modos que quando ela surgia nos gabinetes dos dirigentes e nas redações, cartolas e escribas tratavam de dar o pinote, vazar: “Lá vem a mãe do Badanha”.
Daí, virou xingamento, ofensa: “Vai pra Mãe do Badanha”, “Fala com a Mãe do Badanha”, “Pior que a Mãe do Badanha”…
Bom sujeito, boa instrução, descendente de italianos, o esforçado Badagna – o seu nome verdadeiro, de família – não merecia ser historicamente tão destratado. Jogou seu honesto futebol no São José em 1941 e 1942, na seleção gaúcha em 1941, no Grêmio e Brasil de Pelotas em 1943, no Renner de 1944 a 1949. Disputou quatro Gre-Nais. Teve a sua venda ao América do Rio de Janeiro por 8 contos de réis anunciada em 1942, mas preferiu ficar por aqui mesmo. Na seleção gaúcha, era o único com licença para sair da concentração, em Belém Velho, para as aulas no seu ginásio – Badagna trabalhava de dia e estudava à noite.
A sua foto no Grêmio de 1943 – quarto jogador em pé, da esquerda – é uma recuperação do grande ilustrador Hélio Devinar. A charge é de Pompeo, João Pompeu, da “Folha da Tarde”, em 1946.
Mel estrelinha
A gatinha Mel foi uma amável amiga e devotada parceira durante mais de 14 anos. Gostava simplesmente de ficar por perto, de estar ali, no canto dela, suave, de ser companhia e de ter companhia, esperando e dando carinho. Andava suavemente de um lado para outro, ou ficava deitada tranquila num paninho ou numa caixa de papelão (com sol melhor ainda), dormindo ou olhando com aqueles olhões mel-esverdeados, curiosos, amorosos. Estar junto!, isso bastava a ela para ser feliz – e nada de intrusos na área! Gordinha, Ratinha, Moléca quando resolvia sair correndo de pura alegria, Gambazinha, Jaguatirica, Anjo querido, Anjinha, dia 26 de maio partiu, a sua breve vidinha apagando-se como uma pequena vela. Encontrada filhote na rua, lá atrás no tempo – pela Kiara, valente e amada siamesa hoje com 16 anos! –, ela tomou conta do pátio, transformou um pequeno escritório num castelo dela, e ficava querendo adivinhar o que o cara grandão tanto teclava, “esse maluco”. De noite tinha “dorme com Deus, amada”. Depois de 5.200 dias de felicidade, certamente lembranças. Gratidão e agradecimento valem muito mais do que um pequeno texto de meia dúzia de tecladas, no momento sem graça alguma. Agora a suave Mel é uma estrelinha no Céu, e lá de cima está cuidando da casa, das amigas e do amigo tristes.
Agenda histórica do futebol gaúcho na semana
4.6.2017, domingo
2000 – Grêmio 2×0 Rio Grandense de Rio Grande de Rio Grande, gols de Amato e Ronaldinho.
5.6.2017, segunda-feira
1927 – São José de Porto Alegre é o primeiro time de futebol do mundo a viajar de avião, a Pelotas – duas horas e 45 minutos.
6.6.2017, terça-feira
1943 – Badanha, volante do Grêmio, é destaque em Gre-Nal com empate de 3×3.
2004 – Inter tricampeão gaúcho, 2×1 Ulbra , em Canoas.
7.6.2017, quarta-feira
1998 – Juventude campeão gaúcho, com 0x0 contra o Inter no Beira-Rio.
2007 – Inter ganha Recopa Sul-americana e tríplice coroa, 4×0 Pachuca do México, Beira-Rio.
2014 – morre Fernandão, capitão do Inter na conquista da Libertadores e do mundial de clubes, em queda de helicóptero em Goiás, aos 36 anos.
8.6.2017, quinta-feira
1985 – Seleção brasileira no Beira-Rio vence Chile, 3×1, amistoso.
9.6.2017, sexta-feira
1950 – Federação Rio Grandense de Futebol, FRGF, concede licença para que jogadores juvenis possam atuar na equipe profissional de seu clube, com a permissão dos pais.
10.6.2017, domingo
2001 – Após estar perdendo por 2×0, Grêmio empata em 2×2 com Corinthians no Olímpico, primeiro jogo das finais da Copa Brasil.