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A nova galeria dos prefeitos e vices de Gravataí; a força das palavras

Galeria homenageia 22 prefeitos e seus vices, no saguão da Prefeitura | Foto RAFAEL MARTINELLI

Vou ser o chato que explica, por dever de ofício, para trazer um pouco de contexto ao release que certamente a assessoria de imprensa vai produzir, com o clima de celebração que marcou a inauguração da Galeria de Prefeitos e Vice, no saguão da Prefeitura de Gravataí, na tarde desta sexta.

Dos vivos, além de Marco Alba, autor da homenagem, participaram dois prefeitos ligados ao governo, Edir Oliveira e Sérgio Stasinski, e dois vices, o atual, Áureo Tedesco, os exs Francisco Pinho e Laerte Oliveira.

Filhas, filhos e familiares representaram os pais: Sônia Oliveira, Dorival; Simone Dutra, Ruy Teixeira; Maria Dilce, Darci Fonseca; José Marcelino Filho, José Marcelino; e Alison Silva, Acimar.

Dos vivos ausentes, os ex-prefeitos Daniel Bordignon e Rita Sanco; os vices Loreny Bittencourt, Cristiano Kingeski e Décio Becker. Os falecidos José Mota, Abílio dos Santos e Paulo Finck não tiveram representantes.

– Não gosto de chamar de ex. Prefeitos e vices são sempre prefeitos e vices – disse Marco Alba, pouco antes de descerrar as fotos.

Miki Breier falou pelos vices. O hoje prefeito de Cachoeirinha foi vice de Daniel Bordignon entre 1997 e 2000.

– Tinha muita coisa para fazer, mas pensei: tenho que ir. É um gesto singelo, mas importante, porque por mais que, no passado, e agora no presente, com as redes sociais, muitos tentem apagar o tempo ou destruir biografias, a História resiste nas memórias – filosofou, louvando “a política da lealdade e espírito público”:

– Não é a política a responsável pelo mau caratismo.

Edir Oliveira falou pelos ex-prefeitos. Como começou saudando a importância dos vices, ao contrário da máxima de Millôr, “o ócio faz o vice”, recordando o perfil participativo dos vices em Gravataí.

– Enquanto dura, a parceria é boa – disse, tirando risos dos presentes, aquele cujo vice, Finck, faleceu no segundo ano de mandato, mas testemunhou antes e depois de ser prefeito a ‘síndrome do vice’ na aldeia.

O primo Laerte, foi artífice do histórico rompimento dos ‘Oliveira’ com o prefeito Abílio; depois José Mota e Loreny; Miki e Bordignon, Bordignon e Stasinski; e Pinho e Marco, para ficar na história recente de separações mais ou menos traumáticas durante os períodos de governo.

No discurso, hábil com as palavras como é característico ao veterano político e radialista, Edir deu o elogia da tarde para Marco Alba:

– Quando ele assumiu, eu disse: guri, tu vai ser o terceiro prefeito que mais fez. Primeiro Dorival, depois eu, depois tu. Hoje posso dizer que será o segundo, porque cuida da estrutura da cidade para o futuro, não só do saibrinho e do asfalto. Porque o coração e as realizações de Dorival nunca serão esquecidas na História de Gravataí.

Marco Alba encerrou a cerimônia agradecendo a “gentileza” dos prefeitos, vices e familiares presentes, e observando que faz o debate político “com fatos e informações, nunca no pessoal”.

– Até o Dorival queria fazer mais e não fez porque não pode. Cada prefeito faz sua parte dentro das circunstâncias. Mas é preciso auto-crítica. O modelo político no Brasil está ultrapassado, faliu. Não há mágica. A população não agüenta mais o avanço no bolso. Então, tem que cortar na estrutura pública. Quem disser diferente, trata as coisas de forma rasa. É um modelo que, quando prevalece a mentira e as falsas esperanças, não permite a quem sai da Prefeitura ser mais do que um vilão – disse, usando como exemplo do desgaste da política testemunhar em 82 pelo menos 150 candidatos a vereador, quando hoje “para arrumar 33 alguns precisam de laranjas”.

– As pessoas não acreditam e estão assustadas com a política. Por isso, quando se entrega uma obra, se fecha o ciclo da boa política. O que deveria ser uma obrigação – disse, observando no Plano Plurianual do Brasil para os próximos quatro anos, R$ 3,5 trilhões são para previdência, R$ 1,5 tri para o funcionalismo, R$ 1,6 tri para o custeio da máquina pública e apenas R$ 200 bi para investimentos.

– Quer dizer: para o povo brasileiro, nada! É por isso que a saúde é uma chacina pública, com gente morrendo neste minuto. Para os técnicos do governo federal, estadual, as pessoas são percentuais. Não só por culpa do Bolsonaro ou de quem o antecedeu, mas de um sistema que, mesmo moribundo, ninguém parece querer mudar, para não perder os privilégios – insistiu em sua guerra quixoteana contra o ‘moinho de vento’ do establishment.

Analiso.

Por óbvio, era uma homenagem e Marco Alba não iria falar mal do morto no velório, e aqui faço uma figura de linguagem. Se o prefeito criticou gestões passadas em inaugurações, como tratei nos artigos  Marco Alba sem bandeiras brancas; aberta ’caça aos petralhas’ e Onde foi o dinheiro?; Marco Alba cobra dos ex, publicados nas duas últimas semanas no Seguinte:, não seria em uma homenagem o momento para medir gestões e resultados.

A opção por valorizar o que os prefeitos fizeram de bom e, de certa forma, explicar aos leigos o motivo da temperatura subir no embate político, faz bem até para a relação dele com os seus. Afinal, Edir e Stasinski fazem parte da base de apoio do governo. E muitas das dívidas que Marco lista pagar tem origem, ou foram roladas nos governos dos dois.

– O processo político às vezes nos torna ásperos. Não acredito que alguém queira ser prefeito para fazer maldades. Mas é bom ter resiliência e tolerância para enfrentam injustiças dos que ultrapassam todos os limites, não em relação aos políticos, que estão no jogo, mas aos familiares.

– Quem faz o discurso fácil, de que basta vontade a quem governa, vai pagar ali na frente – alertou, lamentando que, pelas regras da política, “quando o jogo começa: sai da frente”.

Concordo com Marco quando diz que no governo ou na oposição a matemática não deveria deixar de ser uma ciência exata, tanto que criei, para analisar gestões públicas, a expressão ‘ideologia dos números’. Comungo também da necessidade do compartilhamento de informações e, como falo, dos fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos.

Mas o debate político, que alguns chamam ‘fofoca’, mas é parte da metafísica da política, está nos genes do Zeitgeist, e, enfim, é do jogo, expressão que o próprio prefeito usou. Quem conhece a política da aldeia sabe que teve cutucões políticos nos discursos de celebração. E daí? Sem mi-mi-mi, o debate político existe desde a Polis grega, e sempre existirá, ao menos enquanto a política tiver como personagens gente, e não inteligência artificial.

Não creio faça mal, desde que não tenha um fim em si próprio.

Porém, ao fim, arrisco considerar que, goste-se ou não, as palavras quase sempre têm mais força que os números.

Aí, com torcida e secação: lutemos sempre, do lado ideológico que for da ferradura, para a verdade pelo menos fazer frente à mentira, ou mesmo à sua metade tão próxima quanto, que é a meia verdade.

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