Até o momento em que escrevo este artigo não há decisão do ministro Kássio ‘Com K’ Nunes sobre o pedido do governo Eduardo Leite ao Supremo Tribunal Federal (STF) para volta às aulas no Rio Grande do Sul, e em Gravataí e Cachoeirinha, como previ ontem em As aulas presenciais vão voltar em Gravataí e Cachoeirinha; Sorteio ‘Com K’, greve ’Com G’.
Se, por um lado, ao menos no termômetro do Grande Tribunal das Redes Sociais, a febre da indignação foi alta entre familiares, que anteciparam que não vão enviar seus filhos às escolas, o que será um direito garantido por Luiz Zaffalon e Miki Breier, por outro lado me assustaram comentários com críticas – e raiva, muita raiva – direcionada aos professores.
Reputo cada vez mais heróis os profissionais que recebem os filhos dessa gente, todos os dias, para ensinar e, queiram ou não, cuidar, educar e civilizar essas crianças, já que parece uma missão impositivamente delegada por esses pais.
É fake news que os professores pararam durante a pandemia. Trabalharam mais!, e às vezes pagando internet do próprio bolso, e atendendo famílias tarde da noite, porque era a hora em que mães e pais estavam em casa após um dia de trabalho.
Gênio foi Renato Russo ao, em crua poesia, entregar que “são crianças como você, o que você vai ser quando você crescer”. Em minha argumentação nem deveria citar um puto, pelo Zeitgeist, nosso espírito do tempo, permitir a ele não mais do que o ‘xingamento’ de comunista, mas já cansei, e como cita meu guru jornalista Roberto Gomes, naquela máxima, “para alguns não adianta explicar, não entenderão; a outros, não é necessário”.
Gente, os professores querem voltar às aulas, mas tem medo, conhecem a realidade das escolas.
Estou sempre aberto ao convencimento, mas entendo ilógico que, em bandeira preta, de alto risco de contágio, somente porque por decreto a educação infantil e o ensino fundamental foram transformadas em atividade essencial, devamos como sociedade submeter cada professor a conviver com 100, 200, ou até 600 crianças por semana – sem contar os contatos colaterais, que chegam a 200 mil pessoas em Gravataí e Cachoeirinha.
O prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon, citou aos empresários, no evento que reportei e reproduzi o vídeo em 90 dias de Zaffa em Gravataí: 10 coisas que o prefeito disse na Acigra, que se associa à Unesco, que é a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, que recomenda a volta às aulas pelo risco da defasagem educacional para os países.
Zaffa já me criticou por só buscar informações negativas sobre a volta às aulas.
Acontece que, apesar de concordar com ele e com a Unesco, de que estamos frente à uma tragédia educacional, não consigo enxergar na realidade das nossas escolas – e estão entre as melhores da Grande Porto Alegre – condições sanitárias para evitar surtos; e mortes; menos vidas perdidas de alunos, mais de familiares e professores e trabalhadores de escolas.
A maioria dos professores trabalha em escolas de diferentes cidades. Se não as crianças, assintomáticas e cientificamente apontadas como propagadoras do vírus, assim o serão os profissionais da educação e todos os envolvidos na ‘logística da educação’.
Mas vamos aos especialistas.
A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul comunicou ontem em nota que “não é o momento oportuno” de voltar às aulas presenciais. Como reporta GZH, “a entidade diz que vinha defendendo a reabertura das instituições de ensino, mas que, diante do avanço do coronavírus registrado em março, acredita que seja preciso esperar”.
O texto que a entidade de médicos enviou a todos os associados me parece definitiva ao observar que “nenhum país do mundo que adotou política de escolas abertas em meio à pandemia o fez com tal cenário de transmissão”.
Ao fim, antecipei ontem em As aulas presenciais vão voltar em Gravataí e Cachoeirinha; Sorteio ‘Com K’, greve ’Com G’. Se o Supremo autorizar, e os prefeitos de Gravataí e Cachoeirinha determinarem a volta às aulas presenciais, teremos greve dos professores.
Aí, desconfio, diferente de uma greve contra congelamento de salários, ou contra uma reforma da previdência, aposto será uma greve com apoio popular.
Como Zaffa e Miki, com muita propriedade, apresentam-se como ‘o prefeito de todos’, aguardemos.
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