Chegaremos em breve a um tempo onde a pessoa dirá "ufa" ao ser alvo de fake news, agradecendo por não ser vítima de crazy news, tipo mamadeira de piroca, masturbação de crianças, turismo sexual com animais ou terraplanificações.
Deivti Dimitrios, presidente da OAB subseção de Gravataí, saiu em defesa do réu da vez, o presidente nacional da entidade, metralhado no Grande Tribunal das Redes Sociais pelas milícias da Guerra Ideológica Nacional após a viralização de manchetes distorcidas como “Felipe Santa Cruz quer o fim da Lava Jato”.
Reproduzo o ofício enviado de Gravataí a Brasília, depois contextualizo e comento.
A verdade, não aquelas meias verdades sempre mais próximas da mentira e úteis a mal-informados e informados mal, é que o presidente da Ordem disse, em em entrevista ao jornal O Globo, ter considerado que “em muitos momentos” o Estado sacrificou o direito de defesa na Lava Jato.
– Não pode haver vazamento, é sagrado o direito de defesa. Exorbitamos nas prisões preventivas e na politização dos processos – avaliou, obviamente se referindo ao episódio envolvendo conversa entre a então presidente da República Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Sérgio Moro, sobre quem opinou ser um “erro histórico” ter assumido o Ministério da Justiça.
– É uma escolha legítima, legal, mas equivocada. Para o processo que o Brasil viveu, o ideal era que ele não tivesse migrado para o Executivo. O processo ainda está em andamento, e ele virou, bem ou mal, símbolo dele – argumentou.
Mas o serviço da canalha foi digno de ganhar o emoji do vômito para quem concorda com o oitavo mandamento: quando Santa Cruz, não o Tico, já era chamado de comunista, petralha ou esquerdopata, fake news ‘denunciava’ que a OAB ameaçava expulsar quem advogasse de graça para vítimas da tragédia de Brumadinho (MG). O golpe final veio com foto circulando nas redes sociais com a falsa informação de que o presidente da Ordem estaria apoiando Cesare Battisti, revolucionário para uns, terrorista para outros, mas condenado pela justiça de seu país e recentemente deportado para a Itália.
Mas o que preocupa ao colunista é outra coisa. Santa Cruz foi alvo dos gritões e dos robôs por dizer que “há no país ampla garantia para qualquer investigação e há no país absoluta unanimidade sobre a necessidade da luta contra a impunidade”, mas que “o país é muito mais do que isso e que precisa urgentemente, entre outras coisas, reencontrar a agenda do crescimento econômico que possa devolver a esperança de dias melhores ao nosso povo”.
– Sim, defendo que o Estado não gera riquezas e que a estabilidade jurídica deve ser rotina dos povos que querem progredir através do trabalho, do respeito ao meio ambiente, às minorias, aos contratos – disse.
O que há de feio nisso?
Surpresa, não mais me causa: no dia da eleição presidencial postei um card no Facebook com a frase “Na dúvida, fique do lado dos pobres”, de Dom Pedro Casaldáliga. Pelo menos sete em cada dez comentários foram críticos.
Inevitável se tornar polêmica entre colegas, alguns que nem coram ao propagar fake news, mas acerta Deivti (que foi eleitor de Jair Bolsonaro) em postar a nota. A boa OAB me parece aquela que, com erros e acertos, existe de verdade, que representa a “voz da cidadania”, não um clube de amigos, uma sucursal de seita, máquina de cargos ou mais um fórum de desserviço à democracia ao preço de diatribes ideológicas para caçar-cliques ao agradar maiorias, ou mesmo minorias, circunstanciais.
Ao fim, com o que se lê, e se ouve por aí do filhos de Demóstenes, dá para parafrasear Tim Maia: o país não corre o risco de dar certo quando prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e advogado aplaude violações às garantias ao direito de defesa e uma Constituição “é verdade esse bilhete”.
Chama síndico!
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