Na entrevista A filha do ’pai dos pobres’; a aposta de Anabel e os Bordignons, lembrei a Lisiani dos Santos que, no século passado, seu pai me contou que, mesmo sem ser necessário, foi convencido a renunciar a candidatura a prefeito para apoiar o então vice, que foi eleito para governar Gravataí entre 1993 e 1996. Após segundos de silêncio, ela respondeu:
– Se ele te disse que foi enganado é porque foi. O pai não mentia. Naquela eleição, transferiu os votos para o eleito (Edir). É uma semelhança que ele e Bordignon têm, além de gostaram do povo. As pessoas sentem isso. Em 2004 só não foi prefeito por detalhe, mesmo enfrentando toda máquina da Prefeitura. E ele não guardava rancor, era puro coração.
Dois dias depois, assim que postei o artigo Filha de Abílio fez campanha para Marco Alba; prints desmentem Lisiani, Edir me enviou reprodução de 'A verdade saindo do poço', pintura de 1896 de Jean-Léon Gérôme, e também um vídeo explicando a ligação da obra com uma parábola do século 18. Entendi ser uma referência à citação do nome dele no episódio da eleição de 92. Perguntei sua versão e o ex-prefeito, ex-secretário de estado e ex-deputado federal me enviou um WhatsApp.
Assista e depois reproduzo a narrativa de Edir.
Siga na íntegra o WhatsApp de Edir:
“(…)
Já cansei de explicar aos abilistas. Não induzi o Abílio a nada. Naquele tempo o voto era com CÉDULA, e não digital como hoje. A candidatura do Abílio foi impugnada na Justiça Eleitoral em Gravataí. Recorremos ao TRE e perdemos. Mesmo pagando uma fortuna ao advogado Lia Pires. Não lembro se recorremos ou não ao TSE, pois o advogado pedia outro valor para o recurso, mais despesas de passagens aéreas e estadia em Brasília.
E não tínhamos o dinheiro.
Mas o fato é que chegou a data limite para a Justiça imprimir as cédulas. E a juíza mandou uma notificação dando prazo de 24 horas para o PTB substituir o candidato impugnado, pois senão o partido ficaria sem o nome do candidato na cédula. Foi decidido, então, de pleno acordo, pela renúncia do Abílio à sua candidatura e a recurso junto ao TSE.
Não havia e até hoje não há a substituição automática pelo Vice na chapa. A Escolha teria que ser em reunião da Executiva Municipal. E assim foi, até porque outros nomes surgiram querendo a vaga para concorrer. Alguns ainda queriam a desistência total do PTB em apoio ao candidato Rubi Moller. Com o apoio do Abílio fui o escolhido, pois eu não tinha nenhum indicado meu na Executiva, nem mesmo era membro.
É bom esclarecer, que o Abílio era assessorado por seus advogados, de sua confiança. E o Abílio podia não ser muito letrado, mas era inteligente e esclarecido o suficiente, para entender.
É claro que o apoio do Abílio foi importante e fundamental para ganharmos aquela eleição. Mas eu não era um simples poste. Já tinha sido vereador mais votado do MDB, secretário municipal por 10 anos consecutivos e secretário substituto de Obras do Estado. Tinha feito 16 mil votos em eleição para deputado estadual e 35 mil votos para deputado federal.
Então, não posso aceitar esta intriga, pois não induzi o Abílio a erro, nem armei situação para ele me ceder o lugar.
Lamento a escolha partidária dela, pois eu mesmo já a havia convidado a concorrer pelo PTB. E o Jô (da Farmácia, vereador e presidente do partido em Gravataí) insistiu com ela até o último dia antes de nossa convenção de maio passado para que ela aceitasse participar do Diretório Municipal e ser candidata pelo partido.
Admiro respeito e tenho muita consideração por ela. E desejo sorte na sua caminhada, embora trilhando ao lado dos ferrenhos inimigos do seu pai.
(…)”