O vereador Fernando Deadpool se filiou ao Patriota, que tem o número 51 na urna eletrônica. Já foi lido na última sessão da Câmara de Gravataí ofício do presidente municipal, ex-vereador Ricardo Canabarro, comunicando a filiação.
Antecipei a negociação segunda-feira, em É da política a fantasia que veste o vereador Deadpool em Gravataí.
O Patriota está na ‘nova base do Zaffa’, ou ‘Situação A’, que reúne vereadores que ficaram com o prefeito Luiz Zaffalon (PSDB), ou foram atraídos da oposição para o governo, caso de Deadpool, após a deflagração da III Guerra Política de Gravataí: Zaffa x Marco Alba, pós Abílio x Oliveiras e Bordignon x Stasinski.
Reputo a escolha é de ‘vida ou morte’ política para Deadpool.
Terceiro mais votado em sua primeira eleição, com 2.162 em 2020, e popularíssimo nas redes sociais, o vereador encontrava dificuldades em ser aceito em algum partido, desde que foi dispensado do União Brasil por Cláudio Ávila.
É vítima de um daqueles Grandes Lances dos Piores Momentos da política: quando ter votos e popularidade atrapalha.
Explico.
Seja o gigante MDB de Marco Alba, ou o novo PSDB de Zaffa, qualquer partido ao aceitar Deadpool praticamente garante uma vaga a ele, pelo potencial de votos. E isso inevitavelmente desagrada os atuais vereadores e os futuros candidatos à Câmara em 2024.
Ao se filiar ao Patriotas, Deadpool aposta em um partido – na linguagem da política – nanico.
Como nenhum dos 21 vereadores é eleito apenas com os próprios votos, é preciso, para garantir a eleição, uma nominata de candidatos que some ao menos o cociente eleitores: pelas projeções, a cada 7 mil votos recebidos pelas candidaturas de um partido, um é eleito.
É negociada em Brasília uma fusão entre o Patriota e o PTB, partido do vereador líder do governo, Alex Peixe, eleito com 1.157 votos na última eleição. Talvez Deadpool conte com os votos do colega para garantir vaga, caso apenas um seja eleito pelo novo partido, que deve se chamar Mais Brasil.
Mas, e se Peixe concorrer por outro partido? O PSDB de Zaffa, por exemplo? Na filiação do prefeito, o presidente municipal tucano, Demétrio Tafras, disse negociar filiação com “três vereadores”.
Clebes Mendes (MDB) já me confirmou que é um deles. Os rumores são de que Bino Lunardi (PDT) é outro. O terceiro seria Peixe.
Ao fim, é por isso que falo em ‘vida ou morte’ política. Polêmico, controverso, não falta no meio político quem torça – colegas da base de governo, inclusive – para que não seja eleito.
Em um partido nanico, Deadpool pode já estar recebendo a extrema unção política. Arrisca até aumentar a votação e ficar de fora, mesmo fazendo mais votos que eleitos, pelo Patriota não atingir os 7 mil votos necessários de cociente eleitoral. Se o 51 do Patriota será “uma boa ideia”, só a eleição dirá.
Alguns dos secadores do super-herói, em regozijo, poderiam caber naquela história que Millôr contou em 73:
Eu e Jaguar, à meia-noite, paramos nosso jipe na porta de uma churrascaria em Arraial do Cabo. Um bando de garotos avançou pra nós para tomar conta do veículo. Quando saímos, duas horas depois, o bando voltou, em algazarra, pra pegar os trocos. O menor deles porém ficou gritando: “Moço, moço, não fui eu que guardei o carro, não, foi aquele ali. Não fui eu não”. Distribuí o dinheiro que podia, depois chamei o menorzinho e, numa lição prática em favor da honradez, dei a ele dez vezes mais do que tinha dado aos outros e disse: “Você ganhou isso porque não mentiu”. Mais adiante comentei pro Jaguar: “Fodi esse menino pra sempre. Ele vai passar o resto da vida pensando que honestidade compensa”.