Quem me segue no Twitter soube na quinta-feira passada, minutos depois, que Daniel Bordignon entrou com pedido de filiação no site do Partido dos Trabalhadores. Alertei sobre o prazo para um pedido de impugnação e aconteceu. Reputo um erro. A filiação do ex-prefeito e ex-deputado é a melhor coisa que poderia ter acontecido para o PT de Gravataí.
Entre os ‘contras’ não estão Rita Sanco nem Alex Borba, o ex-secretário da Fazenda e todo poderoso do governo da ex-prefeita vítima de um golpeachment em 2011, que brinquei seria miopia do alcance de seu grau não aceitar a filiação e ele esclareceu que havia corrigido o problema com cirurgia.
Porém, há pessoas historicamente ligadas a Rita e Alex, o que para otimistas pode parecer uma demonstração de visão e experiência política dos dois de não embarcarem na vendeta, mas para outros pode evidenciar covardia.
Sustento minha tese. Só Bordignon salva o PT e permite qualquer milagre eleitoral na próxima década; e neste artigo não trato de nada sobre seus governos, sobre os quais tenho elogios e críticas.
É o professor aposentado tão imperfeito quanto qualquer ser humano; raça entre as quais incluo os políticos. ‘Matou’ tantos adversários ou amigos reais e imaginários que acabou ‘morto’ – sempre politicamente falando, o que não significa muito, já que não há nunca mais em política, onde a morte resta apenas metafísica.
Mas tem Bordignon seu legado, inegável e, para o bem ou para o mal, parte da história de muitos personagens que ainda agem hoje, com bastante influência, na política gravataiense.
Não há como separar o PT de Gravataí de Bordignon. Na boa e na ruim. Se algo foi construído, ali está um pouco dele. Se algo foi destruído, também. Trajetórias políticas e famílias não “incluem-se fora disso”, para citar Marx – o Groucho.
Impõe-se a ele algo que irrita petistas, principalmente ao som da voz de William Bonner: “mea culpa”.
Aí se apegam os que não o querem no PT, exercendo o mesmo poder de algoz.
Lembram no pedido de impugnação que em 2016 ele saiu do partido aos 47 do segundo tempo do prazo para filiação eleitoral, levando apoiadores para o PDT de Claúdio ‘Dr. Golpeachment’ Ávila, o que fez com que o partido não tivesse nominata e protagonizasse um fiasco eleitoral.
Foi o ‘golpe das urnas’, como descrevi à época do saudoso (até para os canhotos) ‘Fora Temer’.
Pela primeira vez desde 1989 o PT não teve eleita bancada na Câmara e ficou atrás do PSOL – e um pouco a frente de Sadao Makino (PSTU) – em votos.
Tudo verdade.
Verdade de subir em caixote e gritar ao megafone, ou de desamassar boletos do passado em alguma garagem quente para cobrar o vilão barbudo.
Mas é preciso lembrar as circunstâncias.
A esquerda não via o sol sob a sombra das flechas e Lula restava um bandido de Rede Globo; e depois presidiário.
Bordignon jogou tudo na eleição de 2016, permitiu-se seduzir, mas, fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, venceu nas urnas.
Só não assumiu a Prefeitura e devolveu os petistas ao poder (que tenho certeza faria com cada que hoje assina sua impugnação) porque teve seus direitos políticos suspensos em um episódio em que seu vice, Ávila, mesmo sem provas, remete aos porões de Brasília, quando o ministro Napoleão Filho votou pela ‘absolvição’ no TSE, atravessou a rua e, 7h depois, tirou o prefeito eleito de qualquer eleição até 2024.
Ao fim, nos próximos dias saberemos se Bordignon será aceito ou não no PT. Ele não me atendeu e, pelo WhatsApp, disse que só gostaria de falar depois de uma definição do partido.
Um dos últimos políticos que conheço que ainda acredita nos partidos, e cumpre a chatice dos ritos partidários, de forma humilde ele fez o pedido de filiação pelo PT municipal, quando poderia chegar chegando por cima.
Agora, se o PT de Gravataí é tão puro que não permita Bordignon, talvez não permitisse nem Lula, que nas articulações políticas anda chamando até o diabo de “meu querido”.
Não é eliminatório entre petistas, mas Bordignon não tinha codinome na lista da Odebrecht.
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