Geólogo de Gravataí, Sérgio Cardoso é presidente da Câmara Técnica de Água Subterrânea (CTAS) do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH) do Rio Grande do Sul e alerta em artigo para o Seguinte: sobre necessidade de cuidado com aliado invisível para nós: as águas subterrâneas
Por instinto temos trabalhado com o que está ao alcance de nossos olhos. Este é um dos motivos da falta de cuidado com o vírus. Quando falamos em água a primeira coisa que vem em nossa mente são as águas superficiais de nossos arroios e do rio Gravataí, sem nunca antes esquecer a torneira, nossa fonte urbana e conhecida de muitos como a principal e única.
Mas o que queremos abordar aqui é de onde está vindo a pouca de água que ainda manté alguns ambientes com vida aquática vivos na bacia do Gravataí.
Somos alimentados por dois sistemas aquíferos principais: Basáltico, Guarani e o Litorânea, que circunda o território de nossa Bacia Hidrográfica, nas porções mais altas, conforme figura abaixo (verde, azul e amarelo).(Fonte: Plano de Bacia,2011)
Entender esta dinâmica de como funciona os sistemas aquíferos é fundamental para manter um processo de gestão das águas subterrâneas, como estamos tentando fazer com as águas superficiais.
Se hoje continuamos recebendo água no leito do rio, só temos que agradecer aos arroios que a trazem destes aquíferos, que estão em muitos casos sendo explorados sem o mínimo cuidado técnico.
Aproveitemos este momento, no qual o H2O não cai do céu, para chamarmos atenção das águas sobre as quais estamos nós.
Estamos construindo nos últimos anos no Rio Grande do Sul uma política de gestão das águas muito longe do ideal, porém estamos avançando dentro de uma política pública que ficou por muito anos abandonada, como se fossemos um estado de abundancia hídrica.
Na lei 15.434, de 9 de janeiro de 2020 (Código Estadual de Meio Ambiente), temos 4 artigos principais que buscam, ainda que de maneira muito tímida resgatar seu papel principal na sustentabilidade e segurança hídrica, trabalhando com a qualidade e quantidade destes recursos hídricos, muitas vezes esquecidos.
Estamos apenas olhando a ponta do iceberg, com os cadastros de uso da água subterrânea-SIOUT, pois este recurso hídrico é estratégico e merece ser gerenciado de maneira mais nobre.
Que sirva de aprendizado e reflexão do caminho que estamos percorrendo. É assim que devemos tirar uma oportunidade da crise.