É compreensível que o gravataiense Dimas Costa (PSD) queira mostrar serviço após ascender de suplente a deputado estadual. E serviço tem mostrado, em questões fundamentais para a população, como na criação da frente parlamentar para acompanhamento da situação dos hospitais da região metropolitana. Mas em sua estréia na tribuna na defesa do governo Eduardo Leite (PSDB) em votações polêmicas, trocou o ‘extremo centrismo’, com o qual até então se apresentava, por um discurso com método e expressões características da extrema direita.
“A Amazônia teve o pior índice de queimadas em 26 anos. Não acredito que exista queimadas do amor e destruição de árvores do amor. Defendo a vegetação aqui e em qualquer lugar. O Estado estava tomado de fumaça, sabemos vindo de onde. A gente sabe o que está acontecendo neste país. Sabemos as narrativas que tentam criar sobre esse projeto que busca reflorestar de forma organizada”, disse, ao defender o Projeto de Lei 301/2024, que amplia poderes de concessionárias de energia elétrica sobre manejo de árvores no Rio Grande do Sul – aprovado nesta quarta-feira na Assembleia Legislativa por 30 votos favoráveis e 11 contrários, sob protestos de entidades ambientalistas.
É um discurso Ad hominem, o “argumento contra a pessoa”, no caso o governo Lula e ambientalistas, e que desvia o debate do argumento em si.
Nem o governador cometeu algo semelhante durante a crise das queimadas.
Salvo engano, já li a expressão “queimadas do amor” em posts de gente como Carlos Bolsonaro e Ricardo Salles, por exemplo.
Vamos então aos argumentos.
Inegável é que o projeto do governo estadual careceu de debate social. Chegou como queimada, em regime de urgência. Mas, pela leitura que fiz, não é o fim do mundo. É apenas mais uma ‘privatização’ de responsabilidades estatais que, fiscalizadas e reguladas adequadamente, danos não causariam.
O problema é que testemunhamos, a cada evento climático, a ‘competência’ das concessionárias – o RS e São Paulo são exemplos. E a inação dos governos.
São essas empresas que terão mais poderes para preservar ou mutilar a vegetação das cidades.
Porém, esse é um debate saudável, que infelizmente o país perdeu – e justamente em um momento histórico no qual os gêmeos bivitelinos PT e PSDB experimentavam em seus governos o híbrido da ‘PPP’, a parceria público privada.
Hoje, por exemplo, quem faz a modelagem do programa de concessão de rodovias do governo Leite, e a privatização da gestão e construção de escolas pelo governo Tarcísio de Freitas, em São Paulo, é o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), sob o comando do prócere petista Aloísio Mercadante.
Sobre as queimadas, recomendo a leitura de Desmatamento em queda, fogo em alta. O que acontece com nossos biomas?, artigo da especialista Giovana Girardi, postado na Agência Pública, cujo conteúdo é financiado por doações, não pelos governos de turno.
Reproduzo dois trechos:
“De acordo com a análise dos pesquisadores ligados ao World Weather Attribution (WWA), o aquecimento já observado de 1,2 ºC do planeta em relação ao período pré-industrial, provocado por atividades humanas, e a transformação que estamos vendo no clima do planeta tornaram as condições para o fogo no Pantanal 40% mais intensas e entre 4 e 5 vezes mais prováveis. É um cenário que tende a piorar se o planeta aquecer ainda mais”.
“Em janeiro deste ano, o WWA divulgou uma análise apontando que a seca severa que atingiu a Amazônia em 2023 – a pior do registro histórico, com rios chegando aos níveis mais baixos em 120 anos – foi 30 vezes mais provável de ocorrer por causa do aquecimento do planeta. O problema se estendeu para este ano de 2024. A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, está perdendo sua umidade com o aumento da temperatura, seus enormes e caudalosos rios estão diminuindo”.
Ao fim, reputo Dimas pode mais do que se agarrar a defesas cuja profundidade cabe apenas em recortes para redes antissociais – como o trecho que ele próprio postou, e você assiste clicando aqui.
Leite pode ser sua inspiração.