pura emoção

Aquele senhor de chapéu verde…

Todos os jogos vão para as estatísticas do futebol – os especiais vão para a história.

Osmar Loss, técnico gaúcho.

 

Não ganhei uma Copa do Mundo mas isso não importa: para a história de um jogador de futebol, mais vale ficar no coração das pessoas do que ganhar títulos.

Michel Platini, jogador francês.

 

A história do futebol tem valor pelo que ensina sobre os homens para os homens, para que fique como lição – a memória transformada em depoimento permanece como acervo coletivo, e se eterniza.

Luis Fernando Verissimo, escritor.

 

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Quando jogava no Fluminense, na década de 1950, o ponteiro-direito Telê Santana era o “Fio de Esperança”, por magro e porque com ele sempre alguma coisa de bom podia acontecer. Como técnico, Telê teve excelentes trabalhos no Atlético Mineiro, Grêmio, seleção brasileira, São Paulo…

Na maravilhosa seleção da Hungria da mesma década de 1950, o meia-direita Nandor Hidegkuti era o enlace tático, o jogador que organizava aquela equipe incrível, especialmente o seu ataque. Antes da final da Copa do Mundo de 1954, o técnico da Alemanha Ocidental, Sepp Herberger, mandou o seu time esquecer o craque húngaro, Puskas.

– Se preocupem com Hidegkuti, esse é o que decide – disse o técnico, respeitoso.

O baixinho Herberger sabia das coisas!

Telê e Hidegkuti se encontraram apenas uma vez na vida. Foi em março de 1986, ainda fazia muito frio em Budapest, a seleção brasileira em excursão estava hospedada no Hyatt Atrium Hotel. Na portaria, com um acompanhante carrancudo para segurar seus passos lentos, surge um velhinho – 64 anos na verdade, mas parecendo ter perto de sofridos 80 –, curvado, de bengala, humilde, chapeuzinho verde na cabeça, que pede com um sussurro para falar com o técnico Telê Santana: é ele, ninguém menos do que o grande Nandor Hidegkuti.

Telê, então com 55, é chamado, vem logo ao saber quem é o gentil e humilde visitante, aproxima-se solícito e emocionado, já de braços abertos ao encontro de Hidegkuti. O acompanhante carrancudo – e estúpido –, formal como todos os carrancudos, arranca com prepotência o chapeuzinho verde da cabeça do velho craque, achando que está fazendo grande coisa. Telê, com seu característico senso de grande humanismo, reage com clara indignação:

– Mas não mesmo, não precisa fazer essa estupidez – indigna-se, e recoloca o chapeuzinho verde na cabeça de Hidegkuti, comovido, humilde e respeitoso.

– Esse homem merece a reverência do futebol de todo o mundo, e se ele veio aqui de chapéu, deve ter algum motivo, e vai ficar com ele na cabeça – prossegue o técnico do Brasil, sem esconder a emoção.   

Ali estavam, frente a frente, dois grandiosos personagens da história do futebol mundial, mas também dois injustiçados. Três décadas antes, o húngaro Hidegkuti merecia ter sido campeão da Copa do Mundo: sua maravilhosa seleção largou ganhando a final com dois gols da vantagem, mas perdeu a final de virada para a Alemanha por 3×2. Apenas quatro anos antes daquele antológico encontro, o brasileiro Telê foi apagado de outra Copa quando a espetacular equipe do Brasil, precisando só de um empate, em 1982, perdeu para a Itália – também por 3×2. 

Naquele glorioso momento em Budapest, Telê levou Hidegkuti para uma poltrona num cantinho do hotel. Ficaram os dois ali durante horas de encantamento, de pura admiração mútua e de respeito, conversando, sorrindo, discretos e emocionados, gostando de conversar um com o outro. Devem ter até falado dessas injustiças: o meia Hidegkuti merecia ter ganho a Copa do Mundo de 1954, o técnico Telê a de 1982, ainda quente na memória. Se desse para ouvir, certamente se teria aprendido muito sobre futebol. Mas ambos eram gênios discretos, humildes, e preferiram ficar ali sozinhos, tratando de lembranças e projetos, compartilhando o respeito por dois outros amigos comuns: a bola e o futebol, que ambos amavam e tratavam como arte. Certamente sabiam que aquele momento era imperdível, e que nunca mais se repetiria.   

Que droga: além do registro na memória e no coração, ao menos uma foto poderia ter sido tirada com eles, ou no mínimo um autógrafo pedido, para guardar para sempre, como registro documental impresso de respeito.

 

: Telê em 1986 e Hidegkuti em 1954, emocionante encontro de gênios

 

Agenda histórica do futebol gaúcho na semana

 

23.7.2017, domingo

1926 – Fundação do Itapuí de Guaíba

1975 – Gre-Nal de Zequinha, ponteiro-direito do Grêmio e autor de dois gols em 3×1 sobre o Inter no Beira-Rio

 

24.7.2017, segunda-feira

1940 – Grêmio inaugura sua nova sede, na Rua dos Andradas, 1458

1956 – Prefeito de Porto Alegre, Leonel Brizola, recebe título de  “Legionário Olímpico” do Grêmio

2006 – Dunga é o décimo gaúcho técnico da seleção brasileira, após Sylvio Pirillo, Teté, Foguinho, Carlos Froner,  Osvaldo Brandão, João Saldanha, Cláudio Coutinho (nascido em Livramento), Falcão e Felipão

2008 – Maior goleada do Grêmio no campeonato brasileiro, 7×1 em Florianópolis contra o Figueirense

2010 – Mano Menezes é  11º. técnico gaúcho da seleção brasileira

 

25.7.2017, terça-feira

1968 – Grêmio primeiro heptacampeão gaúcho, 0x0 contra o Juventude de Caxias no Olímpico

2012 – venda mais cara do futebol brasileiro: meia Oscar do Inter por 25 milhões de euros ao Chelsea

 

26.7.2017, quarta-feira

1956 – Renner derrota Atlético Mineiro por 2×0, amistoso no Estádio Tiradentes, esquina da Avenida Farrapos com Sertório

1995 – Grêmio goleia Palmeiras por 5×0 no Olímpico, Copa Libertadores

 

27.7.2017, quinta-feira

1996 – Inter vence por 3×0 o San Lorenzo da Argentina no Beira-Rio e ganha Copa Mercosul

2007 – Francisco Novelletto Neto reeleito presidente da FGF, por aclamação

 

28.7.2017, sexta-feira

1931 – Primeiro estádio com iluminação em Porto Alegre, a Baixada, com Grêmio 2×0 Inter

1941 – Fundação do Sapucaiense

1974 – Maior público em jogo do Inter, 118.777, 2×2 Vasco, Maracanã

1983 – Grêmio campeão da Libertadores, 2×1 Penharol, Olímpico

1985 – Brasil de Pelotas perde para o Bangu por 3×1 no Maracanã, mas fica em terceiro lugar no campeonato brasileiro da primeira divisão

 

29.7.2017, sábado

1973 – Inter penta gaúcho pela segunda vez, 1×0 Gaúcho de Passo Fundo, Beira-Rio

1990 – Grêmio hexa gaúcho pela segunda vez, 4×1 Inter, Olímpico (vice o Caxias)

2010 – presidente da republica, Luiz Inácio Lula da Silva, participa do lançamento de pedra fundamental de modernização do Beira-Rio

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