Iniciamos com Dimas Costa uma série especial com candidatos locais que disputam a assembleia legislativa e a câmara federal nas eleições de 2018. Num formato diferente, o Seguinte: ouve as histórias de vida e traz relatos em primeira pessoa, onde são os entrevistados que contam suas trajetórias.
Assista ao clipe que o Seguinte: produziu na casa do Dimas. Depois leia o texto
Nasci no frio de um 4 de agosto. O pai, João Manoel, e a mãe, Margarida, tinham migrado para Gravataí naquele mesmo ano de 1981, vindos do Farol da Solidão, em Mostardas, litoral sul gaúcho. Em cima do caminhão de mudança, um filho e quatro filhas – Dilamar, Denize, Daniela, Deize e Dalva. A Daiane nasceu depois e é uma gravataiense como eu. Como muitos que partiam do interior naquela época, sonhavam com a vida na cidade grande e escolheram ficar perto de Porto Alegre. O pai deixou para traz a lida nas granjas de arroz. A mãe, o trabalho como doméstica e cozinheira da peãozada.
Moramos de favor numa peça nos fundos do tio Bernardino, até nos mudarmos para a casa onde a mãe vive até hoje, nas margens da RS-118, no mesmo bairro São Geraldo. Minha família sempre foi muito humilde, mas não faltava comida na mesa e roupa limpa para vestir. Não lembro um dia sequer sem ver a mãe trabalhar, limpando, cozinhando e costurando. O pai conseguiu um emprego de fiscal da Sogil. Da casinha, lembro do frio que passava pelas frestas da madeira e de deitar olhando para o teto sem forro. Das brincadeiras, a preferida era a contagem de carros. Ganhava que acertasse mais a cor dos veículos que desviavam pelos eternos buracos da rodovia.
Da primeira à quarta série, estudei na Rui Ramos. A mãe nos levava pela mão. Tinha medo de sermos atropelados na 118. Fui um bom aluno, apesar de gostar muito de conversar. Era da turma do fundão. Mas sempre respeitoso com os professores. Minha prô da primeira série, a Rejane, é minha amiga até hoje. As lembranças mais vivas, como todo menino, são das peladas nos campinhos do bairro. Eram verdadeiras peleias os grenais no Carvoeiro, onde as goleirinhas que montávamos hoje deram lugar a um loteamento. Agradeço ao Vilton Bolinho, nosso treinador, pela confiança de não me mandar para o gol, mesmo que eu fosse não mais que um centromédio – como chamavam os volantes na época – desengonçado e perna de pau. Eu, Leonel, Laiton, Tarcísio, Tiago, Ricardo e Daniel, amigos da vila, nos revezávamos entre os nomes dos craques colorados ou gremistas. O tricolor é meu time do coração. Muito Sogil peguei para assistir aos jogos no Olímpico, como parte da Jovem, torcida organizada que acompanhei até na Bombonera.
O gosto pela política herdei do pai. É inesquecível para mim a campanha em que concorreu a vereador, em 1988. Ele era do PDT do José Mota, eleito prefeito naquele ano. Era uma aventura andar pela cidade num Opalão branco, com alto-falantes em cima, daquele tipo que chamamos ‘caixa de abelha’, tão ruim o som. Adorava os debates da eleição presidencial de 89 entre o Collor, o Lula e o Brizola e suas tiradas, como o “filhote da ditadura” com que provocava o ‘caçador de marajás’. Mas meu primeiro palanque foi dentro de uma sala de aula da Josefina Becker, onde estudei da quinta à oitava série.
– Ainda vou ser prefeito de Gravataí! – eu disse um dia, para o sorriso da professora Ivana, minha amiga até hoje e que me lembrou dessa história logo após a minha primeira eleição para vereador, em 2012.
Como muito guris da periferia, comecei a trabalhar cedo, para ter meu dinheirinho e também para ajudar em casa. Aos 14, atendia numa locadora de videogame. Também fui empacotador no antigo super Econômico, onde hoje fica o Nacional, arrisquei de auxiliar de pintura, fui funcionário da Pistões Suloy e, aos 18, peguei de cobrador na Sogil.
Por seis anos fiz linhas municipais e depois o Ponte-Porto Alegre. Foi um emprego que mudou minha vida, porque aprendi mais sobre a relação com as pessoas, conquistei muito amigos e, quando concorri pela primeira vez, fiéis eleitores. Sempre procurei ser atencioso e conversava com todos que queriam assunto. Era daqueles que carregava sacolas, combinava de acordar o passageiro na parada certa. O que não era muito divertido era limpar o ônibus no horário da saída das festas quando, invariavelmente, algum bêbado saía do bailão, comia um dogão e despejava tudo no corredor.
Não está na carteira, mas por três meses fui garçom na pizzaria do Ilton Pereira da Silva, o popular Pandolo. Tinha saído endividado da eleição, estava sem emprego e fui servir as mesas até assumir como vereador em janeiro de 2013. O pessoal estranhava: “Mas tu é vereador, o que está fazendo aí? Pede um dinheiro pra alguém”. Era tudo que eu não queria. Não sou de ficar na mão de ninguém e o que sempre ganhei, mesmo que fosse pouco, foi com honestidade. Nunca tive medo do trabalho.
Na política, antes da minha primeira campanha vitoriosa, ajudei o tio Bernardino que, em 2000, concorreu a vereador pelo PDT. Em 2004 e 2008, fiz campanha para o pai, pelo PT. Na primeira eleição foram 1966 votos. Na segunda, 1726. Só não foi eleito porque naquela legislatura o número de cadeiras foi reduzido para 14. Em 2012, quando já eram 21 vagas em disputa novamente, fui eleito com a mesma votação que ele. Há quatro anos já me preparava para ser candidato. Depois de 2008 o pai tinha dito: “Agora é contigo”.
Um ano antes da eleição, nossa esperança aumentou porque a Anna Beatriz foi eleita conselheira tutelar com 1319, uma excelente votação. A Anna é minha companheira e nossa história parece escrita para ficarmos juntos. Somos vizinhos desde sempre. Uma foto do início dos anos 90 simboliza isso: éramos crianças e atuamos juntos numa encenação de Natal na comunidade Santo Antônio. Eu, um pastorzinho de 12 anos; ela, um anjinho de 6; a irmã dela, Vithoria, o menino Jesus e minha irmã Dalva, Nossa Senhora. Brinco com Anna que não ficamos juntos antes porque vivíamos realidades bem diferentes: enquanto eu mal tinha um chinelo de dedo, ela patinava num roller. Mas é uma brincadeira, já que ela também é de uma família de trabalhadores como eu.
Eu sempre sonhei ser político. Acho que projetava um pouco do pai, que foi diretor e secretário de obras e era muito querido e com fama de trabalhador, sério, incorruptível. Dá para dizer que mesmo que o pai tenha concorrido duas vezes, eu entrei como azarão na eleição de 2012. Só no meu partido disputava vagas com candidatos como Carlito Nicolait, que tinha sido eleito com 5 mil votos e foi reeeleito, e com Airton Leal, que estava no quarto mandato e não teve sucesso naquele pleito. Foi uma campanha familiar e entre amigos – os quais homenageio citando a Naimar, minha chefe de gabinete desde o primeiro dia, e a Odete – que deu certo.
O que eu mais queria, desde o primeiro dia do mandato, era representar bem aqueles que tinham apostado em mim, ainda um guri, para ser vereador. O que eu fiz, além de continuar o mesmo, indo aos mesmos lugares e andando com as mesmas pessoas, foi sempre atender quem liga, sempre responder no Facebook, nunca deixar alguém sem resposta no WhatsApp e, principalmente, estar presente, ao vivo. Para simbolizar isso, no dia 2 de janeiro de 2013, um dia depois da posse, estava junto aos assessores montando uma tenda na avenida Antônio Gomes Corres, no Parque dos Anjos. Era a estréia do Mandato na Rua.
Lembro que naquele dia, sob um sol de 40 graus, muita gente que passava se surpreendia por um político estar ali e não comemorando a vitória na praia. O que mais ouvia era: “Duvido tu fazer isso até o fim do mandato”. De lá para cá, nos dois mandatos, já fui a mais de cem bairros e vilas, colhendo reivindicações para depois, dentro dos limites do cargo, buscar soluções, facilitar a vida das pessoas ou, pelo menos, dar uma resposta.
O que mais aprendi com esse olho no olho é que as pessoas querem atenção não apenas a cada quatro anos, quando tem eleição. E atenção não no sentido de ficar de conversinha e sim no sentido de respeito ao que estão cobrando. Eu sempre vi o contribuinte como meu patrão.
No mandato procurei dar exemplo para as pessoas tão sofridas com as crises que vem tipo Copa do Mundo. Não usei nenhum real em diárias, não gastei com passagens aéreas ou cursos. Quando os fiz, paguei as viagens e as inscrições com meu salário. Também nunca usei o telefone celular e a conta que a câmara disponibiliza para os vereadores. Hoje ninguém mais usa diárias, o que não deixa de ser um reconhecimento ao meu exemplo.
Entendo que sou um político que as pessoas gostam. Avalio que meu trabalho é aprovado. Fui o vereador que mais cresceu em votação entre uma eleição e outra. Fui reeleito o segundo mais votado da cidade, com 2.880 votos em 2016. E foi em um momento difícil tanto da política, como para mim, já que tinha trocado de partido, ou poderia não ter legenda suficiente para a eleição. Não poderia arriscar jogar fora um mandato que é coletivo e representa tanta gente. Até tentei uma coligação, só que o PT não quis. Mas nunca me verão falando mal do meu ex-partido.
O que percebo é que os tempos são outros e as pessoas votam analisando o que o candidato já fez na vida. Uma prova é a reeleição da Anna como a conselheira tutelar mais votada de Gravataí e de todo Rio Grande do Sul, com 2079 votos. Ela nunca foi midiática, sempre fez um trabalho técnico e silencioso, mais preocupada com as crianças e adolescentes do que em aparecer no jornal. O resultado veio nas urnas. Hoje a vida de quem tem mandato está ao acesso de um clique. Só não se informa quem não quer. As chances de errar são bem menores que em outros tempos.
No segundo mandato continuei o mesmo Dimas, sempre à disposição das pessoas de segunda a segunda, sem gastar dinheiro público, vistoriando o 24 Horas, a fila da madrugada nos postos de saúde. Considero um grande lance a liberação de emendas, que consegui junto aos deputados Elvino Bohn Gass e Danrlei, somando mais de meio milhão de reais em equipamentos para a UTI e para manutenção do Dom João Becker. Os equipamentos, que salvam vidas, já estão no hospital. E o dinheiro não foi desviado: está na conta. Mostro as imagens e o extrato para quem quiser ver.
Na vida pessoal também continuei fazendo as mesmas coisas, comendo um hambúrguer e tomando uma cerveja na vila, ou dançando com a Anna no bailão de domingo do Veterano. O que me orgulho é de ter voltado a estudar: em dezembro me formo em gestão pública pela Ulbra. Um dia quero ser prefeito de Gravataí. Em 2020, quem sabe? Muita gente me pede isso. Entendo que quem ouve o povo e se prepara, sabe como melhorar a vida das pessoas. A escolha por concorrer a deputado estadual, e não federal, é um primeiro passo. A votação que eu fizer influencia muito na decisão de disputar a prefeitura. As urnas são o recado que o eleitor manda.
Acredito que posso ser eleito deputado e ficar mais perto da cidade, lutando por uma UTI neonatal e leitos pediátricos; para que as obras da RS-118 não parem, como sempre, assim que passa a eleição; por recursos para as pontes do Parque dos Anjos e, como fiz na câmara de vereadores nestes seis anos, cobrando respeito ao funcionalismo. Não pode um professor e um policial militar receber os salários com atraso. Minha posição em relação a eleição estadual e nacional deste ano todos sabem, já falei até na tribuna, está gravado. Você não vai me ver no horário eleitoral, por exemplo. Não quis participar. Quem me conhece sabe que nunca em minha trajetória defendi o indefensável ou aplaudi o que estava errado, independentemente do partido.
Acho que é uma eleição para apostar em alguém daqui. Enquanto Cachoeirinha viu eleitos um deputado estadual e um federal, Gravataí que é bem maior não tem representante. Nossa cidade está fora dos grandes debates da assembléia legislativa, não há ninguém brigando por mais recursos no orçamento do estado. Podem ter certeza: se eu for eleito, não ficarei sentado num gabinete ou entrando mudo e saindo calado do plenário. Vão ouvir falar muito de mim. E pelos melhores motivos, não por gastar o que não deve ou estar envolvido em algum escândalo. Prometo muito trabalho. Acho que estou preparado para ser um deputado de Gravataí, não de A ou B. Sem raiva, sem rivalidades. A política não é um GreNal.
O político está sempre sob avaliação dos eleitores, que nas urnas tomam suas decisões. Mas hoje, para além, tenho uma responsabilidade ainda maior, com o nascimento do Lorenzo. Tudo que faço, faço pensando em meu filho. Quero que ele sempre tenha orgulho do pai e da mãe. A vida me deu esse presente em 29 de fevereiro de 2016. Brinco que só podia ser filho de político, já que faz aniversário a cada quatro anos. Esse é o grande eleitor da minha vida. Com humildade, pelo seu voto, se você gostar do meu trabalho.
Meu número 55.456.
: Dimas Costa com a companheira Anna Beatriz e o filho Lorenzo