candidatos locais

BIOGRAFIA | Stédile:

José Luiz Stédile

Seguimos com José Stédile uma série especial com candidatos locais que disputam a assembleia legislativa e a câmara federal nas eleições de 2018. Num formato diferente, o Seguinte: ouve as histórias de vida e traz relatos em primeira pessoa, onde são os entrevistados que contam suas trajetórias. 

 

Assista ao clipe que o Seguinte: produziu na casa do Stédile, na Lídio Batista Soares, em Cachoeirinha. Depois leia a biografia

 

Nasci em Nova Prata em 11 de agosto de 57. Meu pai, Alcides, era caminhoneiro. Faleceu jovem, aos 25 anos, quando a mãe, Lurdes, estava grávida de mim e meu irmão, João Pedro, tinha três. Confeiteira de padaria, ela casou com meu padrasto, coincidentemente outro Alcides, ferreiro mecânico, uma união que me deu como irmão Alzir, Ciane e Marilza. Sou casado com a advogada Alessandra Cichelero, com quem tenho uma filha, Anna Clara, de seis anos. Do primeiro casamento, tenho a Joana e a Adriana.

Gosto muito de cães, de ler – indico ‘O totem do lobo’, de Jiang Rong – e, colorado, de futebol, mas hoje só pela TV. Sem tempo, me resta às vezes sonhar que estou jogando bola. Minha grande aventura foi ter, em 2003, como prefeito, representado o Brasil em uma vistoria para averiguar armas químicas no Iraque, pouco antes da guerra que, por puro interesse econômico dos Estados Unidos, matou tanta gente e destruiu um país. De 40 convidados pela ONU, apenas eu e Eduardo Suplicy viajamos.

De uma família pobre do interior, fui cedo para o seminário Santo Antônio, dos frades capuchinhos. Aos 11 anos a mãe me levou até Vila Flores, um lugar lindo, com açudes, pomares e campos de futebol, e perguntou se eu queria ficar.

– Claro! – respondi, como não seria diferente para um menino curioso e cheio de energia.

Fiquei no internato até os 15 anos. O convívio com outros 300 alunos me ensinou a conviver coletivamente, a dividir e respeitar. Além de aprender a me virar. Meu irmão João Pedro estudava junto. Era uma inspiração por ter uma personalidade forte. Quando saiu, com 15 anos, foi sozinho para Porto Alegre fazer a vida, estudar economia e depois cursar no México um doutorado em agricultura familiar. Não por acaso se tornou o líder do movimento dos sem-terra, o MST. Nos falamos pouco porque ele não usa celular e nossas trajetórias políticas e partidárias seguiram por caminhos diferentes, principalmente quando votei pelo impeachment da Dilma.

Quando acabei o seminário voltei a Veranópolis, onde a família estava morando. Conclui o segundo grau na escola pública Divino Mestre. Ali começou a nascer meu gosto pela política, no grêmio estudantil, em um período de ditadura e muito silêncio. Em casa, numa família humilde, a política nunca foi assunto do almoço. Ainda adolescente trabalhei com tipografia e numa fábrica de balas, aquelas em formato de um peixinho. Estraguei muito dente comendo os caramelos! Como queria continuar estudando, as opções eram Caxias, Passo Fundo ou Porto Alegre. Escolhi a Capital.

Me inscrevi no vestibular, mas não tinha dinheiro para passagem, apenas uma cama garantida pelo meu irmão na casa do estudante, porque era verão e os inquilinos iam visitar as famílias. Soube então que o conjunto Impacto tocaria na cidade. Esperei na rua até acabar o baile e, na madrugada, falei com a gerente da banda para me liberar uma carona. Embarquei com eles até Canoas e de lá caminhei até a rua Riachuelo, em Porto Alegre, onde ficava o pouso. Passei em economia na PUC, mas não conclui porque não conseguia pagar. Me formei alguns anos depois na Unicamp, em Campinas, São Paulo.

Já vivendo em Cachoeirinha, trabalhei na Racini, FBM e Neumanns, no distrito industrial. No sindicalismo comecei a viver na prática uma participação política que até ali era alimentada muito mais pela teoria, desde a faculdade, onde quase todo mundo era de esquerda e vivíamos um período de certa distensão da repressão e muitas greves. Em 82 fui eleito vice-presidente do sindicato dos metalúrgicos, que atuava em toda a região metropolitana. Eu coordenava aqui na cidade. Também criamos a associação de moradores da Vila Fátima, bairro onde eu morava.

Na época, fui fundador do PT e o primeiro presidente municipal. Era muito próximo de Olívio Dutra, pela militância sindical. Concorri a vereador e fui o mais votado, com pouco mais de 100 votos. Ficamos próximos de ter um eleito, mas faltou legenda. Era uma eleição de voto vinculado, para vereador, deputado, senador e governador. A polarização no estado entre Pedro Simon e Jair Soares incentivou o voto útil, já que não se podia votar em um vereador de um partido e no governador de outro, por exemplo.

Só fui disputar eleição novamente em 96, quando o PT já tinha crescido e eleito Delmarino, Denoir e Olvari. Nos mais de dez anos anteriores me dediquei ao partido e ao sindicalismo. No movimento sindical, aprendi muito a defender a igualdade. Era um sindicalista de muita cautela, porque sempre pensava naqueles que, como conseqüência de uma greve com hora errada para começar ou terminar, poderiam perder o emprego e o sustento da família. Isso fez a categoria ter confiança em mim. Sempre fui um conciliador. O Lula, lá no ABC, também era assim. Nunca foi um líder radical. Nem no sindicato, onde negociava muito bem pela categoria, nem na presidência da república, onde governou tranquilamente com um Congresso majoritariamente de oposição.

Quando concorri a prefeito em 96 fiz 20% dos votos, o que nos permitiu sonhar em um dia governar Cachoeirinha. Como planejava chegar à prefeitura, em 98 concorri a deputado federal, já que havia poucos candidatos locais. Fiz 13 mil votos, quase todos aqui. Em 2000, fui eleito prefeito com 40% dos votos, concorrendo contra dois ex-prefeitos, Valdecir Mucillo e Gilso Nunes. Soube construir uma aliança, principalmente com o PDT. Também foi uma eleição com uma influência positiva dos governos petistas de Gravataí e Porto Alegre. O Daniel Bordignon, o Olívio e depois o Tarso Genro estavam fazendo obras, asfaltando as cidades, e o eleitor também queria o mesmo em Cachoeirinha. Em 2004 fui reeleito com 45% dos votos, num reconhecimento do trabalho que fizemos.

Quando assumi em 2001 a prefeitura estava com dois meses de salários e o 13º atrasados. Até aquele ano, era uma bagunça: a lei de responsabilidade fiscal ainda não punia, o tribunal de contas pouco fiscalizava, os prefeitos pagavam quem queriam… Lembro que, em 1º de janeiro, os salários estavam atrasados, mas os fornecedores recebiam em dia! Já a partir de março consegui pagar regulamente servidores e fornecedores, o que fez girar a economia com o dinheiro dos salários e ainda garantia custos mais baixos para a prefeitura, porque os empresários não embutiam nos preços a inflação e os riscos de calote.

Investi em obras importantes, como o conduto forçado, para acabar com os alagamentos na Flores da Cunha e em outros bairros. Não havia áreas de lazer, então fizemos praças. O 24 Horas é realização do meu governo e perco a conta de quantos postos de saúde abrimos… Também agimos na Frederico Ritter, que era uma exigência da Souza Cruz, inaugurada no meu tempo. Ainda trocamos toda a iluminação pública, asfaltamos. Enfim, acredito que fiz bons governos. O equilíbrio nas contas me permitiu buscar um financiamento no Fonplata, que chegou entre o fim de meu mandato e e a gestão do Vicente, que foi um grande executor de obras, do conduto, na avenida. E sempre valorizei os servidores. Entendo que uma prefeitura não funciona sem a participação do funcionalismo. É como uma família, todos tem que estar contentes para conviver e trabalhar bem. Não me arrependo de ter aprovado plano de carreira, regime jurídico, vale-alimentação… Era um período sem crise e onde a arrecadação crescia. Estava tudo dando certo, então por que não investir no funcionalismo?

Sai do PT em 2005. O partido demonstrava que não me queria, e eu também não queria mais o partido. Houve inclusive um movimento para que eu não disputasse a reeleição, mesmo com 40% nas pesquisas, enquanto a outra pessoa que queria concorrer tinha 2%. Foi um momento difícil, porque eu esperava apoio, até por nunca ter sido um prefeito que fez filiações em massa para atropelar o partido, o que tão comum. Também me incomodava a falta de transparência da direção nacional para explicar o escândalo do Mensalão, que recém tinha explodido.

A escolha pelo PSB se deu por ser um partido limpo, sem manchas de corrupção e próximo aos meus ideais. O Miki Breier, que era meu secretário de educação, também acompanhou. Mas não foi assim: eu e o Miki sentamos e decidimos! Fizemos um grande debate e nos filiamos em grupo. Unificados, trabalhamos pelo Miki em 2006 e os votos de Cachoeirinha foram decisivos para a primeira eleição dele a deputado estadual. Em 2008, debatemos entre Miki e Vicente, que era o vereador mais votado, para escolher o candidato a prefeito. Optamos por manter a cadeira na assembléia e o Vicente foi eleito para prefeitura, mesmo numa eleição de muita maledicência por ele ser um ex-dependente químico. Ao fim, Vicente foi um fazedor de obras, reeleito com 70% dos votos, a maior votação proporcional do Rio Grande do Sul.

Tanto nos dois governos do Vicente, como agora no governo do Miki, nunca me evolvi sem ser convidado. Se me chamam, dou minha opinião. Mas não acho que fica bem um ex-prefeito querendo impor as coisas. Cada prefeito, cada governo, tem seu jeito. Nunca fui, não sou e não quero ser coronel de ninguém.

Em 2010 fui eleito para o primeiro mandato como deputado federal. O pessoal dizia: “tu é louco, concorre para estadual que é mais fácil!”. Até o Miki me propôs concorrer ele para federal, abrindo espaço para uma candidatura minha à assembléia. Mas sempre respeitei o trabalho dele. Concorri como azarão e fui eleito com 40 mil votos, 20 mil deles em Cachoeirinha e a outra metade em Gravataí, onde sempre fiquei entre os mais votados, e outros 15 municípios.

A chegada a Brasília foi um choque de realidade. Sonhava com grandes projetos, imaginava que poderia influenciar nas grandes questões da nação, mas percebi que o Congresso é um grande balcão de negócios. Aos dois meses de mandato lembro de votação que limitava o lucro dos bancos. Sete deputados se inscreveram para falar a favor e ninguém para argumentar contra. Acreditei que seria aprovado. Foram 400 votos contra! Ou seja, 400 a favor dos bancos! Isso não é sério, pensei. Deixei de lado as grandes coisas e passei a focar em pequenas ações que mudam a vida das pessoas mais simples, como projetos equipando bibliotecas em escolas, facilitando a entrega de fraldas geriátricas, ampliando a lista de remédios gratuitos… Em um novo mandato quero seguir na comissão de defesa do consumidor, na qual consegui ingressar neste ano, que é eleitoral e, por isso, difícil de funcionar, para participar das decisões sobre coisas caras aos trabalhadores, como reajustes dos combustíveis, telefonia, planos de saúde e lucros bancários.

Nos oito anos de mandato sou o deputado gaúcho mais assíduo. Na única semana que fiquei de fora, quando a Anna Clara nasceu, não houve votação. Faço isso não por marketing, mas para mostrar meu voto e provar que ele não está à venda. Ninguém imagina a pressão que há nas votações mais polêmicas! Mas, por minha consciência, votei a favor do impeachment da Dilma, a favor da cassação do Eduardo Cunha e a favor do afastamento do Temer.

O voto contra Dilma me custou relações familiares, muito ligadas ao João Pedro e à esquerda. Mas vivi aquela época em Brasília e não havia uma semana sem denúncias, públicas ou nos bastidores. Lembro que avisávamos os deputados do governo, mas nenhuma providência era tomada. Eu participava da comissão de minas e energia, estudava as coisas da Petrobrás, e tinha certeza de que Dilma sabia de casos de corrupção, como a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, por dez vezes o valor de mercado. Era o PMDB quem operava, mas com a conivência da presidente. Aí penso que é como um policial não prender um bandido porque o que assumirá no lugar é pior. Não que a Dilma fosse uma bandida, mas sabia o que acontecia. Não acredito que tenha feito algo para ela, mas muita gente, e tantos partidos, ganharam muito.

Votei pelo impeachment, mas sempre fui oposição ao governo Temer. Votei contra a reforma trabalhista. Acho que alguns itens da CLT poderiam ser modernizados, mas não de forma tão ampla como foi, retirando direitos dos trabalhadores. Como também entendo que é necessária uma reforma previdenciária, para salvar a previdência pública, mas não do jeito que o governo propôs, sem atacar os privilégios dos militares, do judiciário e dos políticos.

Por que votei pelo afastamento do Temer? Aquela mala de dinheiro do Rocha Loures fala tanto quanto as gravações que todos ouviram na TV. Quando votei pelo impeachment da Dilma, havia um entendimento geral no Congresso de que o próximo passo seria cassar o Temer e realizar novas eleições, o que acabou não acontecendo. Foi um presidente tão horrível quanto ela.

Sou um cara que viajo muito. Além das sessões em Brasília, acho que já rodei mais de 500 mil quilômetros pelo interior gaúcho. Se na primeira eleição fiz 40 votos em menos de 20 municípios, na segunda fui votado em 50 cidades e agora tenho relações com mais de 250. Essa rede me levou, outra vez como azarão, à presidência do PSB estadual, não como oposição ao que o Beto Albuquerque fazia, mas como uma renovação, uma valorização da base, dos pequenos municípios. Por isso também acredito piamente em uma nova reeleição à câmara federal.

O custo é ficar longe de casa. A Alexandra é minha mega-sena, porque cuida da família e suporta minhas ausências, por vezes de até uma semana. É comum eu chegar depois de minha filha Anna Clara dormir e sair antes dela acordar.

– Aninha, vem dormir com o pai! – chamei, um dia em que cheguei tarde.

– Não tenho agenda! – ela respondeu. Tem seis anos!

Esperávamos as dificuldades que temos enfrentado no governo de Cachoeirinha. Além da crise nacional, a receita caiu muito, principalmente com a saída da Souza Cruz. Se um dia quero voltar a ser prefeito? Aos 61 anos a gente não faz muitos planos de longo prazo. Mas o que mais gosto é de ser prefeito, de estar próximo do povo, da minha gente. Cada vez que vou ao supermercado em Cachoeirinha demoro umas três horas para fazer o rancho! Mas hoje acho que sou um deputado necessário para a cidade. Minha projeção reeleito é enviar R$ 8 milhões em emendas para Cachoeirinha. Se concorrer em 2020 e for eleito, metade poderia ficar no caminho, o que é muito dinheiro com toda essa crise. É preciso pensar nisso. Nunca planejo tirar o lugar de ninguém, mas sou um cara de partido: se me chamam, eu vou.

Agora, peço teu voto para deputado federal.

Meu número é 4080.

 

: José Stédile com a esposa Alexandra e a filha Anna Clara

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