entrevista

Bordignon concorre a prefeito em 2020? Ele responde

Em outubro de 2020 já pode votar, como na foto de 2016

Desde a decisão do Tribunal Superior Eleitoral na noite desta terça, que tratei no artigo ’Bordignons’ são absolvidos; ele pode tentar Prefeitura de novo publicado pelo Seguinte: logo após o julgamento, a pergunta mais feita no meio político é:

– O homem vai tentar concorrer a prefeito em 2020?

O próprio Daniel Bordignon respondeu, em entrevista de quatro horas, na manhã desta quinta, em sua casa no Parque dos Anjos, onde o ex-prefeito, ex-deputado estadual  e hoje professor aposentado, carteirinha de jornalista no bolso e bixo de Direito na Ufrgs, fala com a força de um desabafo, como há tempos não fazia, apesar de concluir com uma charada:

– Vai ter festa na nossa rua!

Siga trechos.

Em breve comento.

 

Seguinte: – Alívio?

Daniel Bordignon – Sem dúvida. Sofro há quase 20 anos uma perseguição muito forte de Marco Alba, Jones Martins e Patrícia Alba, que representam o que há de mais forte no padilhismo (referência a Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil do governo Michel Temer). É aquela história: quem não tem voto, apela para os tribunais. A denúncia por eu pedir voto para minha esposa (Rosane Bordignon) foi feita pelo grupo do prefeito na tarde do domingo da eleição suplementar. Temiam perder nas urnas e precisar mais uma vez do tapetão. Só não ganhamos na justiça de Gravataí porque nosso advogado perdeu o prazo e não apresentamos defesa. Mas foi 7 a 0 no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e 6 a 1 no TSE, inclusive com o voto da presidente Rosa Weber e outros dois, Luis Roberto Barroso e Edson Faccin, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Então, agora espero que nos enfrentem nas urnas. Poderíamos nós denunciar abuso de poder econômico e político naquela eleição. Talvez seja hora de não entrar de sangue doce nas disputas. Nossa diferença é que gostamos de respeitar a vontade do eleitor.

 

Seguinte: – Farás algum tipo de representação contra o prefeito?

Bordignon – Prescrever não prescreveu. Como pode uma Prefeitura, interinamente sob o comando do MDB (Nadir Rocha) do prefeito, gastar praticamente todo orçamento da Secretaria de Obras em quatro meses? E asfalto sendo feito até na madrugada? Usaram a máquina pública municipal, estadual e federal. Só faltou a ONU. Suportamos muita coisa em 2016 e 2017. Seremos mais rigorosos. Onde já se viu ter que pedir autorização para a Rosane usar nosso sobrenome? Aí na eleição de 2018 a primeira-dama (Patrícia) usou o sobrenome Alba e teve uma das campanhas mais caras do Rio Grande do Sul, um custo por voto talvez dos maiores do Brasil. Para encerrar esta questão, gostaria de agradecer à advogada Christine Rondon, amiga de minha filha Danielle, que fez nossa defesa em Brasília. Defesa a qual, para pagar, penhorei meus dois carros velhos, 2007 e 2008. Fez-se justiça. Não foi fácil ficar por dois anos sob ameaça de uma morte política. E o governo e o MDB ficaram expostos por mais essa tentativa sórdida de nos banir da política. Saio mais forte e com muita vontade de fazer política.

 

Seguinte: – Estás com os direitos políticos suspensos até 23 de setembro de 2020. Antes da eleição, mas depois do prazo para registro de candidaturas. Arriscarás disputar outra eleição sob impugnação, como em 2008, 2012 e 2016? Daniel Bordignon é candidato a prefeito.

Bordignon – Em 2024, possivelmente sim. Sobre 2020, tenho tanto a falar, mas ainda não posso… Faço uma reflexão desde 2016. Em 2008, renunciei para a Rita (Sanco, do PT) ser candidata. Ela fez quase 70 mil votos. Jones, apoiado por toda a oposição, fez 50 mil. Em 2012, meus votos, sob impugnação, somados aos da Anabel (Lorenzi, do PSB) chegaram a 80 mil votos, enquanto Marco foi eleito com 51 mil. Em 2016, somando meus votos, de Anabel e Levi (Melo, PRB), foram 90 mil votos e Marco fez 32 mil. Em 2017, Rosane e Anabel fizeram 70 mil votos e Marco, com apoio de Levi e do ex-vice de Anabel (Francisco Pinho, do PSDB), fez 40 e poucos mil. É um indicativo do tipo de governo que a cidade quer. Em 2016 procurei Anabel para estarmos juntos. Não se trata só de ganhar a eleição, mas conseguir governar, com apoio popular, participação das pessoas e uma relação republicana com a Câmara de Vereadores, não toma-lá-dá-cá. Por isso, respondendo a tua pergunta: minha missão primeira é trabalhar para unificar esse campo político. Quem for mais adequado para representar o projeto, que seja o candidato ou a candidata. Tenho conversado com o PSB do vereador Paulo Silveira, com o Dilamar Soares, parlamentar muito preparado e que pode nos aproximar do Cidadania (ex-PPS). Em nível municipal as coisas são diferentes, não se trata de esquerda, centro ou direita, mas de um programa para a cidade. Sendo mais direto: colocarei meu nome ao grupo? Respondo em uns 30, 40 dias.

 

Seguinte: – A esperança é porque tens uma ação rescisória aguardando julgamento no Tribunal de Justiça (TJ) que pode reduzir a pena de suspensão dos direitos políticos e permitir o registro da candidatura?

Bordignon – É. Há teses de que posso concorrer mesmo com a suspensão dos direitos políticos encerrando em setembro, porque é antes da eleição; há teses contrárias. Mas não gostaria de concorrer novamente sob impugnação.

 

Seguinte: – Como ‘Bordignons’ poderiam abrir mão de uma candidatura, tua ou de Rosane, se foram os mais votados da oposição em 2016 e 2017?

Bordignon – É por isso que temos mais responsabilidade. Podemos sim abrir mão.

 

Seguinte: – Em entrevista ano passado falaste do desejo de uma aproximação com Anabel. Pode acontecer?

Bordignon – Anabel sempre foi uma possibilidade. Chegamos a conversar em 2016. Se tivéssemos nos unido, hoje possivelmente ela seria a prefeita. Estamos dialogando com o PSB, construindo juntos.

 

Seguinte: – Também sinalizaste para uma aproximação com Levi.

Bordignon – É uma possibilidade, mas a entrevista dele ao Seguinte:, dizendo que esperava por mim e por Marco Alba complica um pouco. Temos uma boa relação, é meu médico, uma pessoa honesta. Podemos conversar sim. Até pela ótima relação que temos historicamente com o PRB. Porém, hoje considero mais provável Levi ser o candidato de Marco Alba.

 

Seguinte: – E Dimas Costa?

Bordignon – Temos uma decisão de partido: não coligaremos com MDB e PSD em 2020. Então, não há conversa.

 

Seguinte: – Com tua experiência em eleições desde o início dos anos 80, que quadro eleitoral projeta para 2020?

Bordignon – Trabalharei por uma aliança do campo de centro esquerda e acredito que o candidato do governo seja o Jones e o Levi. Marco parece ter tentado algumas experiências, mas avalio que o candidato será um dos dois, ou talvez um a prefeito e outro a vice. O PSL também pode tentar uma candidatura…

 

Seguinte: – Não acreditas na candidatura do Dimas?

Bordignon – Vamos ver.

 

Seguinte: – Que nota daria para o governo Marco Alba?

Bordignon – Nota quatro.

 

Seguinte: – O que te agrada e desagrada?

Bordignon – Me agrada que esteja terminando. É um governo sofrível. Opino porque o prefeito nos ataca a cada lugar aonde vai. As obras são financiadas por empréstimos, mesmo com R$ 300 milhões entrando da GM, o que eu não tinha em meus governos. Também não concordo com o que o prefeito faz com os servidores, o arrocho nos salários, a retirada de direitos. Uma prefeitura precisa de servidores motivados para funcionar.

 

Seguinte: – Qual o principal desafio de quem assumir a Prefeitura em 2021?

Bordignon – Além do óbvio, que é melhorar a educação e a saúde, fazer com que as pessoas se sintam parte do governo. É preciso mais alegria, auto-estima, participação e controle popular. E o prefeito, ou prefeita, tem que andar mais na rua, conhecer os problemas. O que às vezes é uma coisa pequena, de fácil resolução para a Prefeitura, pode ser um problema enorme para aquela pessoa. Agora não adianta sai para a rua só às vésperas da eleição ou para melhorar a imagem porque assim as pesquisas indicam.

 

Seguinte: – Já fazes alguma avaliação do governo Eduardo Leite (PSDB)?

Bordignon – Insipiente, mas é cedo. O PDT votou contra a retirada da necessidade do plebiscito para vender estatais, porque somos a favor da participação popular. Mas o governador parece tentar o diálogo, diferentemente do anterior (José Ivo Sartori, do MDB), que foi um governo trubulento.

 

Seguinte: – E o governo Bolsonaro?

Bordignon – São apenas 100 dias, mas os sinais não são nada bons. Muitos que votaram em Bolsonaro o fizeram de boa fé, porque estavam revoltados com a política, com a corrupção generalizada. Não acredito que todos concordem com a linguagem agressiva, de ódio. Há muita gente que votou nele perplexa com o primarismo do governo, com a falta de conhecimento, os atropelos. Identifico uma tentativa permanente de agredir as instituições. Um político, alguém do judiciário, da mídia, pode ter suas culpas, mas as instituições não podem pagar por isso, não se pode generalizar. Sem democracia não se vai a lugar algum. Não é possível alguém defender uma ditadura. E não falo só de direita, como no Brasil e Argentina, mas também de esquerda, como Stalin ou Maduro, hoje, na Venezuela. Temos posições e documentos do PDT, do Ciro (Gomes) avaliando os primeiros 100 dias, principalmente os riscos dessa política econômica ultraneoliberal, que prejudica o pobre e o trabalhador, enquanto entrega as riquezas do país a grandes grupos econômicos internacionais.

 

Seguinte: – Lula livre ou Lula preso?

Bordignon – Sou a favor da prisão de todos os corruptos, não só de um. Mesmo que tenha cometido erros, só Lula está preso com condenação em segunda instância, o que afronta a Constituição Federal. Há no Brasil um Código Penal especial para o Lula. Acho que deveria estar solto.

 

Seguinte: – O prefeito Miki Breier (PSB) enfrenta um processo de impeachment em Cachoeirinha que parece um Control C + Control V daquele que cassou Rita Sanco em Gravataí. Seu PDT votou pela instalação de uma comissão processante.

Bordignon – Opino ao longe: a abertura de processo faz parte da política, mas acredito que antes de aprovar o partido deveria ter saído do governo. Não dá para ser governo e oposição ao mesmo tempo. Não sei corrupção no governo de Cachoeirinha, não há CPI ou uma grande denúncia. Sou contra impeachments políticos, sem denúncias graves. O que ocorreu em Gravataí foi uma violação da democracia. Rita não teve nenhuma condenação, mas o judiciário não quis interferir no processo legislativo. Não pode uma maioria de parlamentares desconsiderar a vontade de 68 mil, 34 mil eleitores. Ah, mas era a foto do Bordignon na urna! Esse é um argumento muito desqualificado. A cada seção eleitoral estava o número e nome da Rita. Foi um atalho para quem não tinha votos chegar ao poder. O que criaram a partir daquilo foi um ambiente muito ruim em Gravataí. Fez mal à cidade. É hora de governar sem ódio, pelo bem geral. O Marco teve o tempo dele, nove anos contando o Acimar (da Silva) e o Nadir.

 

Seguinte: – Acrescentaria algo?

Bordignon – Faço política com a verdade. Concorri em 2008, 2012 e 2016 porque achava que podia, tanto que o TSE considerou legal e só me impugnou porque um ministro do STJ (Napoleão Filho) mudou a própria decisão, e o fez de forma retroativa, sete horas depois. Mas vamos olhar para a frente. Aprendi muito, procuro sempre aprender, com humildade. Mas gostaria de concluir com uma frase: vai ter festa na nossa rua!

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