eleições 2020

Bordignons, oposição a Dimas

Daniel Bordignon e Rosane Bordignon, em casa | Foto RAFAEL MARTINELLI/ARQUIVO

Áudios que circularam por WhatsApps de políticos e jornalistas nesta terça-feira, com uma entrevista-bomba dada por Rosane Bordignon parecem explodir qualquer ponte entre Daniel Bordignon a Dimas Costa nas eleições para a Prefeitura em 2020 – um dos cenários eleitorais que projetei no Seguinte:, nesta segunda, no artigo Bordignon e Dimas como Lula e Ciro em 2020, e provocou indignação no Grande Tribunal das Redes Sociais, manifesta principalmente por eleitores do vereador.

A vereadora dedicou praticamente metade da entrevista concedida a Fabiano Nunes, na web rádio Alegria do Park, às avaliações – em minha análise, nada positivas – sobre o colega de Câmara.

– O Dimas não tem esses 18 mil votos – disse Rosane, em trecho, argumentando que, caso ela tivesse concorrido, o que explicou não ter ocorrido porque faltou dinheiro para campanha, Dimas não teria sido o candidato a deputado estadual que mais fez votos em Gravataí.

– Foi uma votação surpreendente, excelente. Eu não esperava tantos votos. Mas são votos voláteis – analisou, citando artigo onde o Seguinte: revelava durante a campanha de 2018 que parte do eleitorado de Dimas tinha nos perfis de Facebook o avatar do presidenciável Jair Bolsonaro.

– Ele fez votos junto com o Bolsonaro, a quem nunca contrapôs, não confrontou. Tirou isso como estratégia de campanha. Eu não faria isso – disse a eleitora de Ciro Gomes no primeiro turno, e de Fernando Haddad, no segundo, acrescentando que a campanha de Dimas teve “muito dinheiro”.

– Sobrou até para botar outdoors na cidade. Em geral, depois de campanhas o que sobra são contas para pagar.

 

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Mas fica pior.

Rosane criticou as “más companhias” de Dimas, o ligando ao advogado Cláudio Ávila, que foi vice do próprio Bordignon na eleição anulada de 2016; a Márcio Souza, ex-vereador e presidente estadual do PV e a Alexandre Bittencourt, ex-vereador e ex-secretário municipal de Canoas.

– Eles formaram um núcleo político.

E foi além. Fez ligações entre Márcio e a esposa Joice Dornelles, ex-secretária do governo Sérgio Stasinski que foi denunciada pelo Ministério Público no caso Gamp, investigação de corrupção em contrato bilionário entre a empresa terceirizada de saúde e a Prefeitura do município vizinho que também motivou pedido de demissão de Bittencourt, após a revelação de que sua esposa ocupava uma alta assessoria na empresa, enquanto ele era secretário.

– Tinha uma irmã no Gamp e o filho do Xaxá trabalhou no gabinete. Avisei que andava mal acompanhado, que iriam aprontar para ele. Sorte do Dimas que o escândalo estourou depois da eleição – disse.

 

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Tem mais (repare o tempo verbal usado por Rosane, ao fim da frase):

– Dimas tem um defeito que é a pressa, é um menino ainda. Quando estávamos no PT, em 2012, minhas duas filhas votaram nele, quando concorreu a vereador e o Bordignon a prefeito. Era uma pessoa que a gente apostava, que ali adiante poderia ser prefeito.

Ainda não acabou. Mesmo que fazendo uma ressalva, Rosane alertou sobre os riscos de, na política, “vender a alma ao diabo”, porque “o diabo vem buscar”:

– Acho que ele não fez isso ainda, não pode fazer isso.

Depois de brincar que o marido poderia fazer uma “campanha-relâmpago” para vereador, Rosane também falou que, caso não tenha sucesso em recurso que tenta reduzir a pena para poder concorrer em 2020, Bordignon não enfrentará a quarta eleição impugnado.

– Ele sofreu muito concorrendo impugnado. Durante toda a campanha as pessoas perguntavam “tu pode?”. Ele não tem disposição de concorrer novamente com ameaça de impugnação. A hipótese que trabalhamos hoje é que sou candidata a prefeita ou vice – disse, apostando na “construção de um bloco que vença a eleição” e na “capacidade de transferência de votos” de Bordignon.

– Mesmo sem concorrer Bordignon pode decidir a próxima eleição. E, depois de 2020, pode concorrer ao que quiser. Aí é na urna – acredita.

O que chamou atenção do jornalista, e de políticos da cidade, é que enquanto Dimas foi o vilão da entrevista, o prefeito Marco Alba (MDB) não foi alvo de críticas por Rosane, que inclusive elogiou influentes governistas.

– Achavam que iríamos para uma guerra na CPI, mas graças ao bom senso do vereador Alan produzimos um relatório único. Aprendi a respeitá-lo e admirá-lo – disse, sobre Alan Veira, colega na CPI do Ipag que, por acordo dos integrantes não ouviu Bordignon e ex-prefeitos das gestões que levaram a uma dívida milionária com o instituto de previdência.

A primeira-dama Patrícia Alba também recebeu uma menção:

– Ela ocupa muito bem o espaço, trabalha muito.

 

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Conclui assim o artigo no Seguinte: de ontem:

 

Aos apaixonados de diferentes matizes, alerto: é apenas uma análise de cenários possíveis, já que ninguém fala sobre o assunto, ainda. Ao fim, Bordignon e Dimas, que vivem uma relação de altos e baixos, tem até 2020 para responder ao dilema hamletiano: ser ou não ser (Lula e Ciro)? Mas, concorda que, no ‘nós contra eles’ que caracteriza as eleições em Gravataí, não seria exotismo a união das barbas branca e preta para tentar tomar a prefeitura da influência de Marco Alba? Na eleição suplementar de 2017, Dimas apoiou Rosane Bordignon. Após a eleição de 2018, é ele quem está nas paradas de sucesso. Em política, a comunhão de ódios é quase sempre a base das amizades.

 

Quando escrevi, não tinha ouvido os áudios da entrevista-bomba, onde Rosane atribui a Dimas “más companhias”, hoje inimigos mas que no passado já foram aliados políticos e conviveram com os Bordignons – dentro de casa, inclusive. Ao fazer mais críticas ao colega de oposição do que ao governo, a vereadora parece ter adaptado à aldeia aquela máxima da época da ditadura: “a esquerda só se une na cadeia”. Parece cada vez mais difícil uma ‘comunhão de ódios’. Estão todos no mesmo barco da oposição. Mas, resta uma grande questão: e a água?

 

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