Cachoeirinha tem sua ‘Janja’; e isso diz muito sobre como para além das rosas, restam espinhos para as mulheres que ocupam espaços de poder.
Explico.
A primeira-dama de Cachoeirinha Fabi Medeiros ganhou estrutura de gabinete na reforma administrativa, mas para além disso participa de reuniões com secretários, cobra e tem suporte do prefeito Cristian Wasem (MDB).
Aproveito o ‘mês da mulher’ para abordar a polêmica – cujo ‘fogo amigo’ ainda está nos bastidores – e o faço sem deboche, e sim com admiração: corajosamente Cristian tem mulheres em postos chave, como a Saúde, Educação e Economia.
Por que comparar a filha do falecido e popularíssimo prefeito Medeiro com Janja e não com Michelle Bolsonaro, em quem ela e Cristian votaram, acredito não é preciso explicar; enquanto uma, apesar do abuso político de sua imagem, se ajoelha ao chão e não tem vergonha de representar a mulher submissa, Rosângela Lula da Silva, a Janja, não.
E assim é Fabi. Em outras palavras, o próprio prefeito disse o mesmo que Lula, que no governo a primeira-dama faria e opinaria sobre o que quisesse. Ou “lugar de mulher é onde ela quiser” não é mais que um meme?
Já tratei disso em julho passado quando, antes da eleição nas urnas, Cristian era prefeito interino, em Primeira-dama ocupa espaço do vice em Cachoeirinha; A força do(a)s Medeiros.
É notório para alguém que conhece outrem que trabalha na Prefeitura, e isso é a coisa mais comum em Cachoeirinha, que Fabi é temida e manda.
Há quem descreva a dinâmica do casal na relação com o secretariado como “a policial malvada e o policial bonzinho”, já que Cristian é contemporizador e a companheira não gosta de deixar nada para amanhã.
Esses dias Eliane Cantanhêde viralizou nas redes, ressuscitando a “bela, recatada e do lar” ao questionar qual seria o papel da nova primeira-dama do Brasil. Fez a ridícula comparação entre Janja Lula da Silva e Ruth Cardoso, primeira-dama do governo FHC.
Para a jornalista da Globo, a influência política de Janja era excessiva, enquanto Ruth “não tinha voz nas decisões políticas, se tinha, era a quatro chaves, dentro do quarto do casal”.
Vergonhosamente, Cantanhêde tentou se esconder sob o inexistente ‘machismo reverso’: “E se fosse o contrário? A mulher presidente com um marido interferindo em tudo?”, questionou, ao responder a uma crítica do professor de Direito da FGV Thiago Amparo.
O advogado, mesmo fora do ‘lugar de fala’, contrapôs o falso dilema educadamente ao lembrar que “inverter o sexo na equação não elimina serem as mulheres – não homens – sujeitos à subordinação”.
A ex-presidente Dilma Rousseff também entrou no debate e lembrou a autora de “O Segundo Sexo”, para muitos o útero do feminismo:
– Simone de Beauvoir ensinou que o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.
Reproduzo post que fiz hoje no Facebook, agora repico no Twitter, e acabou inspirando este artigo.
Abaixo concluo.
Ao fim, é isso. Recebam! E aí recomendo como homem criado em décadas machistas: aprendam! Não adianta mensagem bonita para a mãe, a esposa e a filha se não ajudarmos a quebrar os espinhos que restam às mulheres que se arriscam a ocupar os espaços de poder.
Seja Fabi, Fabi. Que teus acertos e erros sejam medidos pela mesma régua que a dos machos em seus vestiários de governo.