“A guerra contra a Rússia na Ucrânia e a “guerra ao terror” de Israel em Gaza são fronts paralelos de uma única guerra global que se alastra de forma horrenda”. Recomendamos o artigo do jornalista Pepe Escobar, traduzido por Patrícia Zimbres para o 247
Tu roubaste os pomares de meus ancestrais
E a terra que eu cultivava
E não deixaste nada para nós Exceto estas pedras…
Se eu ficar faminto, a carne do usurpador será meu alimento.
Mahmoud Darwish, poeta nacional palestino
Está agora confirmado que a inteligência egípcia avisou seus colegas israelenses apenas três dias antes da Tempestade Al-Aqsa que alguma coisa grave viria do Hamas. Tel Aviv, com seu aparato de segurança multibilionário e a Força de Defesa de Israel, “o exército mais poderoso do mundo”, preferiram ignorar o aviso.
Isso configura dois vetores principais.
1) Tel Aviv consegue seu pretexto “Pearl Harbor” para implementar uma remixagem da “guerra ao terror” acrescida de uma espécie de Solução Final para o “problema de Gaza” (já em andamento).
2) O Hegêmona, abruptamente, muda a narrativa, afastando-a da inevitável e cósmica humilhação conjunta da Casa Branca e da OTAN nas estepes da Novarossia – uma derrota estratégica que faz a humilhação anterior no Afeganistão parecer um baile de máscaras na Disneylândia.
O total bloqueio dos “animais humanos” (direitos autorais do ministro da defesa de Israel) em Gaza, na verdade uma população civil de 2,3 milhões de pessoas, foi imposto nesta última segunda-feira. Sem comida, sem água, sem combustíveis, sem artigos de primeira necessidade.
Isso é crime de guerra e crime contra a humanidade, espezinhando os quatro princípios básicos da Lei dos Conflitos Armados (LCA) – e tudo sob os devidos aplausos ou, na melhor das hipóteses, a total indiferença do OTANistão e de sua mídia convencional controlada por oligarcas.
Cristãos, muçulmanos, judeus e outros grupos étnicos viveram pacificamente na Palestina durante séculos até a imposição do Projeto Sionista racista – acompanhado dos atributos Dividir e Dominar do colonialismo de assentamentos.
A Nakba é uma antiga lembrança de 74 anos atrás. Estamos agora muito além do apartheid – e ingressando na total exclusão e expulsão dos palestinos de sua terra natal.
Em janeiro de 2023, o próprio primeiro-ministro de Israel Netanyahu enfatizou que “o povo judeu tem o direito exclusivo e inquestionável a todas as áreas da Terra de Israel”.
Agora, o exército israelense enviou nada menos que uma ordem para que a ONU evacue por completo todos os residentes do Norte de Gaza – 1,1 milhões de pessoas – para o Sul de Gaza, próximo a Rafah, o único ponto de cruzamento da fronteira com o Egito.
Essa deportação maciça e forçada de civis seria o prelúdio para a destruição total do Norte de Gaza, somado à expulsão e confisco das terras ancestrais palestinas – chegando muito perto da Solução Final Sionista.
Bem-vindos ao Sociopatas Unidos
Netanyahu, um sociopata com uma notória folha-corrida, consegue se safar ileso de uma longa série de crimes de guerra devido ao total apoio da Casa Branca, o combo “Biden” e o Departamento de Estado – para não falar dos insignificantes vassalos europeus.Acabamos de testemunhar o Secretário de Estados dos Estados Unidos – um funcionário de QI baixo sem a menor noção de coisa nenhuma – indo a Israel para dar apoio ao castigo coletivo “como um também judeu”.
Ele disse que seu avô “fugiu pogroms na Rússia” (isso foi em 1904). Então veio a conexão direta – nazista – de “meu padrasto sobreviveu a Auschwitz, Dachau e Majdanek”. Impressionante, são três campos de concentração seguidos. O secretário obviamente se esquece de que a URSS liberou todos os três.
Então veio a conexão Rússia-Nazistas-Hamas. Pelo menos, tudo ficou bem claro.
Internamente, Netanyahu só é capaz de continuar como primeiro-ministro devido a dois parceiros de coalizão ultrassionistas especialmente hidrófobos, racistas e supremacistas. Ele nomeou Itamar Ben-Gvir como Ministro da Segurança Nacional e Bezalel Smotrich como Ministro das Finanças – ambos de fato incumbidos da proliferação de assentamentos por toda a Cisjordânia, em escala industrial.
Smotrich já declarou oficialmente que “não há palestinos porque não há um povo palestino”.
Ben-Gvir e Smotrich, em tempo recorde, estão a caminho de dobrar a população de colonos nos cantões de toda a Cisjordânia, de 500 mil a um milhão. Os palestinos – não-cidadãos de fato – são 3,7 milhões. Os assentamentos ilegais – não aprovados formalmente por Tel Aviv – estão pipocando por toda a parte.
Em Gaza – onde a pobreza atinge 60% dos habitantes e o desemprego de jovens é maciço – agências da ONU tentam desesperadamente evitar uma iminente catástrofe humanitária.
Mais de um milhão de pessoas em Gaza, a maioria mulheres e crianças, dependem de ajuda da ONU para se alimentarem. Dezenas de milhares de crianças vão às escolas da UNRWA (a UNRWA é a agência para refugiados palestinos).
Tel Aviv agora as vem matando – suavemente. Pelo menos onze funcionários da UNRWA foram mortos na semana passada (incluindo professores, um médico e um engenheiro), pelo menos 30 crianças mais cinco integrantes da Cruz Vermelha Internacional e do Crescente Vermelho.
Para arrematar tudo, ainda há o ângulo do Gasodutistão – roubando o gás de Gaza.
Pelo menos 60% das vastas reservas de gás descobertas em 2000 ao longo da costa Gaza-Israel pertencem legalmente à Palestina.
Um consequência importante da Solução Final aplicada a Gaza se traduz na transferência da soberania sobre os campos de gás para Israel – em mais um descumprimento maciço do direito internacional.
A Maioria Global é Palestina
Em meio à horripilante perspectiva de Israel despovoar toda a metade Norte de Gaza, ao vivo na televisão, aplaudido por hordas de zumbis do OTANistão, não seria forçado levar em conta a possibilidade de Turquia, Egito, Síria, Iraque, Irã, Líbano, Iêmen e as monarquias do Golfo se unirem, em diversos níveis, para exercer uma assoberbadora pressão contra a implementação da Solução Final Sionista.Praticamente todo o Sul Global/Maioria Global está com a Palestina.
A Turquia, problematicamente, não é um país árabe tendo mostrado grande proximidade ideológica ao Hamas em um passado recente. Supondo-se que a atual gangue Netanyahu venha a se engajar em diplomacia, a melhor equipe de mediação possível seria formada pela diplomacia da Arábia Saudita, Qatar e Egito.
A Índia acaba de se apunhalar na cabeça como um líder da Maioria Global: seus dirigentes parecem ficar com tesão quando encaram Israel.
Então, há os Grandes Soberanos: a parceria estratégica Rússia-China.
A Rússia e o Irã também estão ligados por uma parceria estratégica – incluindo todos os níveis militares estado-da-arte. A reaproximação Irã-Arábia Saudita, mediada e fechada pela China, levou, nesta semana, a uma conversa telefônica entre Mohammad bin Salman e Ebrahim Raisi, pela primeiríssima vez, coordenando seu firme apoio aos direitos legítimos do povo palestino. Bashar al-Assad, da Síria, acaba de visitar a China, onde foi recebido com todas as honras de chefe-de-estado.
A característica sofisticação diplomática da China – muito além da Tempestade Al-Aqsa – significa o apoio aos direitos palestinos. Todo o mundo árabe e todas as terras do Islã têm esse claro sentimento, enquanto Israel e o OTANistão são insensíveis a nuances.
Com a Rússia, entramos em território heavy metal. No início desta semana, o embaixador de Israel na Rússia, Alexander Ben Zvi, foi finalmente recebido, depois de diversas tentativas pelo Chanceler Adjunto Mikhail Bogdanov. Foi Israel que praticamente implorou por uma reunião.
Bogdanov foi direto ao ponto, sem rodeios: Ben Zvi foi advertido de que o plano do exército israelense de literalmente destruir Gaza, expulsar a população nativa e praticar limpeza étnica daqueles “animais humanos” estava carregada das “consequências mais devastadoras para a situação humanitária da região”.
Isso sugere um cenário bastante possível – cujas consequências seriam igualmente devastadoras: Moscou – em colaboração com Ancara – lançar, com o apoio de todo o Sul Global, uma operação fura-bloqueio contra Israel.
Não é segredo – além do modus operandi – que Putin e Erdogan discutiram a possibilidade do envio de um comboio naval humanitário turco a Gaza, que seria protegido de ataques israelenses pela marinha russa a partir de sua base naval de Tartous, na Síria, e da aeronáutica russa saindo de Hmeimim. Isso aumentaria os riscos a níveis inimagináveis.
O que já está claro é que a guerra por procuração do Hegêmona contra a Rússia na Ucrânia, e a “guerra ao terror” israelense remixada em Gaza são apenas fronts paralelos de uma única guerra global que se se alastra de forma horrenda.
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