Vereador foi eleito em segundo turno com pouco mais de 52% dos votos para comandar o governo da 3ª economia do Estado a partir de 2025
Airton Souza (PL) é o prefeito eleito de Canoas.
Por volta das 18h04 deste domingo, 27, o site do Tribunal Regional Eleitoral, o TRE, dava a contagem por irreversível: mesmo que todos os votos ainda a apurar naquele horário fossem para Jairo Jorge (PSD), a soma dos seus não passaria os de Airton.
Foi o estopim para uma explosão na frente no comitê do candidato do PL, na Rua Dr. Barcellos, no Centro de Canoas. Pelo menos uma centena de apoiadores acompanhava dali a totalização das urnas e via a diferente entre os candidatos diminuir a cada parcial, mas sempre com Airton mantendo a dianteira. 18h40 a apuração chegou a 100% dos votos contados: Airton fez 75.688 votos contra 69.518 de Jairo — ou 52,12% a 47,88%, para quem prefere os percentuais.
Abstenção foi maior no segundo turno
Ainda tivemos 11.229 (6,73%) de votos nulos e 10.434 (6,25%) em branco para um comparecimento de 166.869 eleitores — uma abstenção de 35,72%, maior do que a registrada no primeiro turno, que foi de 31,83%. Quase 10 mil pessoas a mais deixaram de votar do primeiro para o segundo turno; vale lembrar, aqui, que a diferença de votos de Airton para JJ foi de apenas 6.170 votos.
A abstenção em 6 de outubro foi de pouco mais de 82,6 mil votos; no domingo, chegou a 92.724 — se fosse um candidato, a abstenção e não Airton Souza tomaria posse em 1º de janeiro.
Os motivos que levaram tantos canoenses a abandonar a alternativa das urnas são assuntos que renderão, certamente, novos posts por aqui, mas por hoje, vamos aos pulos do gato que fizeram de Airton o vencedor das eleições na cidade.
O pulo do gato #1: os ‘Busatos’
Não dá para negar: Airton Souza foi para o segundo turno por ter ao seu lado os ‘Busatos’: o pai, Luiz Carlos, deputado federal, e o filho, Rodrigo, agora, vice-prefeito eleito. Foram eles que avalizaram Airton junto ao eleitorado a candidatura do vereador do PL que era mais conhecido na Câmara pelas ‘carioquices’ do que pela fidelidade ideológica. Tanto é que Airton, vereador desde 2004, já passou por diversos partidos e só recentemente encontrou no bolsonarismo um cantinho da ferradura ideológica — e do conservadorismo — para chamar de seu.
Quando as tratativas para que Rodrigo fosse o vice de JJ naufragaram, nos primeiros dias de agosto, a parceria União Brasil e PL deu musculatura a Airton que teria enfrentando as urnas em chapa própria, com um vice tirado dentre os postulantes a uma cadeira de vereador.
Pouco provável imaginar que teria chegado à eleição sem que os Busatos tivessem ‘comprado’ a ideia de que Airton poderia, de fato como foi, ser eleito.
O pulo do gato #2: a rejeição de JJ
Outro dado inegável desta eleição: vivemos, torcedores ou secadores do prefeito que deixa o paço em dezembro, o pior momento da popularidade de Jairo Jorge. O homem que em 2008 venceu a eleição contra um verdadeiro ‘frentão’ liderado pelo tucano de Marcos Ronchetti e determinou uma ruptura no momento como Canoas vive a relação com seus políticos sofreu um enorme revés no último mandato.
Os afastamento e não a enchente, reputo, foram determinantes para o ‘chega’ que os eleitores deram a JJ.
Essa é a justificativa que os Busatos deram para encerrar as tratativas com Jairo em agosto, antevendo uma derrota nas urnas. Imaginavam que não havia como se recuperar — especialmente após a enchente — e que não ‘pagava a pena’ confundir o eleitorado que vê Busatos e JJ como antagonistas, não parceiros.
O pulo do gato #3: bolsonaristas sem Bolsonaro
Airton teve habilidade para convencer o eleitorado conservador que ele era o candidato de Bolsonaro mesmo sem que o capitão tenha feito gestos de apoio ostensivos. Fora uma ‘chamada de vídeo’ feita por intermédio do deputado federal Zucco, Jair Bolsonaro ignorou Canoas olimpicamente.
Nem a ex-primeira-dama, Michele, que havia marcado agenda na cidade, veio. Relatou um atraso no vôo e partiu direto para um evento em Porto Alegre, onde exagerou na crítica à candidatura petista de Maria do Rosário e saiu de lá com um processo por difamação, além de um nova denúncia eleitoral.
Mesmo assim, na cidade, Airton personificou o estereótipo do candidato bolsonarista. Andou com a popular camisa amarela da seleção de futebol sempre que pode, repetiu o discurso de que a Direita gosta da família e a Esquerda gosta de política.
Fez do simplório o simples e venceu sem um claro embate de biografias com Jairo Jorge — com quem, inclusive, evitou debates no segundo turno, outra articulada estratégia vista por candidatos do PL em cidades com disputa em duas etapas.
Airton repisa o papel de Bolsonaro ao propor-se um outsider que fará Canoas ter novamente o respeito como virtude. Terá a chance de, a partir de janeiro, de que isso não é só um discurso vazio e da boca para fora.