8 de março

CANOAS | Câmara com 6 mulheres: atitude elogiável, mas pauta continua essencialmente deles

Mulheres são a maioria na sociedade, tem escolaridade melhor e com menos idade - mas ganham menos, chegam menos aos postos de chefia e ainda precisam lutar contra o preconceito e a violência de gênero. Foto: Agência Brasil

É elogiável a atitude de vereadores que pediram licença do mandato para que mulheres tivesse espaço no plenário, mas a pauta feminina ainda aparece pouco no parlamento

Mulheres são 52% da população canoense, mas elegemos apenas uma em 21 para a Câmara em 2020. Parece pouco e é pouco: menos até do que os dados consolidados pela União Interparlamentar (UIP), organização internacional criada em 1889 responsável pela análise dos parlamentos mundiais, que indica que no Brasil, elas são 15% do parlamento nacional. Elas são a principal força motora dos pequenos negócios, mas entram em um funil de desigualdades quando se trata de cargos de chefia em grandes corporações. Em Minas, são responsáveis por 80% da mão de obra do setor hoteleiro – o que inclui os motéis -, mas não chegam a 1,5% no comando das 200 maiores empresas do país, de acordo com dados do IBGE que se mantém desde 2016.

E o salário? O delas é 74,5% do deles nas mesmas funções.

Dados da Fundação Getúlio Vargas indicam que 54,6% das mulheres brasileiras são chefes de família, ou seja, sustentam a casa e os homens que moram nela. Já viraram o jogo no ensino superior e são 57% dos recém-formados. Segundo o IBGE, 19,4% da população feminina com 25 anos ou mais tem instrução superior – entre os homens da mesma faixa etária, só 15,1% chegam ao mesmo nível de escolaridade. As reivindicações sobre respeito e igualdade de gênero, país afora, ainda encontram muros de resistência. Quer um número? A pesquisadora Janaína Feijó, da FGV, tem: o desemprego entre elas é maior do que entre eles – e a desigualdade cresceu mais durante a pandemia – apesar de elas terem melhor e maior formação que os homens. A média do desemprego em 2021 foi de 13,2% – 16,45% paras elas, 9,95% para eles, deixando quase 8 milhões de mulheres economicamente ativas sem renda alguma no final do mês.

 

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Na sociedade em que vivemos, tirar o emprego delas parece 'menos ruim' do que tirar o deles. E esse pensamento, por óbvio, está associado à ideia de que o homem é o provedor da casa – mas, como os números mostram, não é bem assim. Além de obsoleto e vil, essa postura é machista e preconceituosa, não diferente do discurso político dominante que atravessa seu melhor desempenho eleitoral no país – o mesmo que elege representações políticas predominantemente masculinas.

Avançamos na disposição de espaços públicos para acolhimento de mulheres vítimas de violência, mas não é menos preocupante que a gente precise ter uma delegada só para cuidar de homens que batem em suas companheiras em pleno século XXI. Em 1999, o então delegado Ronaldo Molina de Quadros comentou com um jovem repórter – eu – na porta da 1DP de Gravataí, que era mais fácil prender um cara que surrava um cachorro na rua do que um marido que dava um tapa no rosto da esposa. 23 anos depois, o delegado Molina não está mais aqui para ver que a Polícia evoluiu, mas a raça humana, nem tanto.

Em Canoas, mais de 300 inquéritos são abertos todos os anos para investigar a conduta que homens que cometem crimes contra suas esposas. É um por dia, pelo menos. E aumentam mais quanto mais a polícia trabalha – o que indica que há uma enorme subnotificação desse tipo de delito: quanto mais a gente mexe, mais a podridão de caráter aparece. E aí, de novo, a política que reforça o discurso do 'macho padrão' aparece: da piadinha sem graça sobre esquentar a barriga no fogão ao 'merece apanhar' é um pulo cruel e a realidade não só na periferia. 

Aliás, jamais se engane: a violência e o preconceito não é coisa de gente pobre. Quem tem educação formal e melhor poder aquisitivo só disfarça melhor – ou então, como se explica o nível de emprego das mulheres, a dificuldade para que elas chegue aos postos de comando e o salário que ganham inferior ao dos homens?

Hoje, 8 de março, a Câmara de Canoas deu um grande exemplo simbólico para a sociedade ao rechear o plenário com 6 mulheres. São elas Tina Colares (PV), Vivi Lottici (Novo), Neuza Ruffato (PSD) e Tati Sott (Avante) – além de Maria Eunice e Vani Piovesan, do PT. Mas a pauta política feminista ainda não recheia a pauta do parlamento, como deveria. Assuntos como desigualdade e violência, volta e meia, pressionam o posicionamento dos vereadores – mas é preciso ir além. Inclusão de mulheres na política e nos centros de decisão precisam ser o nosso cotidiano – no 8 de Março e sempre.

 

 

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