BLOG DO RODRIGO BECKER

CANOAS | Câmara inicia 2024 com incerteza sobre base aliada e rumores de CPI: a política e cumulus nimbus

Em uma das últimas sessões de 2023, Nedy de Vargas Marques tomou posse como prefeito em exercício: desafio do governo, agora, é formar nova maioria no parlamento. Foto: Bruna Ourique/Arquivo CMC

Quarta pós carnaval marca retomada dos trabalhados legislativos em Canoas de ‘governo novo’ e base ainda em formação

Ulysses Guimarães, o ‘pai’ da Constituição de 1988, dizia que a política é como são as as nuvens: se vê de um jeito e, quando se olha de novo, está de outro jeito.

Em Canoas, a política é um cumulus nimbus.

2024 começa para valer nesta quarta, 14, com o retorno das sessões da Câmara de Canoas com um plenário bastante dividido. E talvez por isso a chaleira já comece chiando por lá: governo Nedy de Vargas Marques segue as tratativas para compor uma base de maioria, busca um novo secretário de Relações Institucionais que seja capaz de lidar com o parlamento e alimenta não muito secretamente o desejo de que o rompimento do contrato de telemedicina na Secretaria da Saúde possa se transformar em uma CPI contra o prefeito afastado, Jairo Jorge.

É sinal de alerta laranja para uma metafórica tempestade política dando às caras por Canoas – tudo isso há duas semanas e um dia da abertura da janela do troca-troca, quando vereadores, partidos e bancadas se moverão por um lugar ao sol nas urnas de outubro.

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Relações Institucionais indefinida

Fontes do governo Nedy confirmam que o prefeito em exercício ainda não decidiu quem vai assumir a titularidade da Secretaria de Relações Institucionais. Por enquanto, segue no comando da pasta o ex-presidente do PDT, Rafael Silva, o Rafinha, braço direito de Márcio Freitas. 

Rafinha foi nomeado adjunto de Abmael Oliveira (Solidariedade) no final do ano passado e cresceu no espaço com o retorno do vereador à Câmara, dia 1º. Márcio vem dividindo com Juares Hoy (PTB) as tarefas de relação com a Câmara e, se Rafinha for mantido no cargo, será como Márcio estivesse por lá.

Governo, por enquanto, não tem maioria fechada

A questão da titularidade das Relações Institucionais ganha peso com a volta das atividades na Câmara e insólita situação de um governo que, por enquanto, não tem maioria. É a primeira vez que isso acontece nesta legislatura: Jairo Jorge chegou a ter 18 de 21 votos no parlamento e Nedy, todos os 21.

O afastamento de JJ em novembro, o imbróglio sobre quem deveria assumir enquanto Nedy estava hospitalizado e a proximidade com a eleição engessaram as negociações. 11 dos 21 vereadores apoiaram a decisão de Cris Moraes (PV) em não renunciar no final do ano e estabeleceram que esta será, então, a régua da oposição.

Em janeiro, em uma conversa com um influente vereador que apoia o paço, o blog ouviu a percepção de que este será a mais importante tarefa política do governo em fevereiro – nem tanto pelas leis que precisará aprovar na Câmara, mas pelo tamanho político que 2024 tem. Para aprovar leis, parte da atual oposição provavelmente não finque o pé e até seja pontualmente favorável aqui e ali; já para os planos políticos que envolvam a eleição, parece não ser bem assim.

A maior parte dos vereadores busca um espaço em um partido pelo qual possam se reeleger em outubro. A indefinição sobre uma candidatura de Nedy e um partido pelo qual possa disputar a eleição são apontados como fatores para o pouco avanço na consolidação de uma nova base – o que não quer dizer que ela não avance.

Uma CPI no meio do caminho

A senha para a nova base do governo parece ser a formação de uma CPI na Câmara para investigar a telemedicina na Secretaria de Saúde. O caso veio à tona a partir de um apontamento feito pelo Tribunal de Contas do Estado que apontou suspeitas de sobrepreço na contratação. Uma CPI feita sob medida para esmiuçar a gestão de Jairo Jorge e, de quebra, cotovelar o ex-secretário de Saúde, Felipe Martini.

O governo não admite oficialmente que tem interesse na formação da CPI, mas a cruzada que Nedy emprega com JJ indica que não esboçaria sequer um minuto de tristeza se acontecesse. Ela só sai, no entanto, se o governo tiver, de fato, maioria. Em ano de eleição, vereador nenhum quer se envolver em uma ampla investigação que depois será rejeitada em plenário par uma conformação de forças desfavorável.

O ‘janelão’ vem aí

As questões levantadas aqui pelo blog ainda se casam com a chegada da janela de troca-troca, em março. A cada dia, mais vereadores parecem dispostos a deixar os partidos pelos quais se elegeram em 2020 para tentar outra sorte em 2024. 

O União Brasil, por exemplo, deve emergir da janela com uma inédita bancada. Já se especula que Jonas Dalagna, de saída do Novo, possa reforçar o partido de Luiz Carlos Busato – embora Jonas tenha uma grande proximidade com PP de José Carlos Patrício e Aloísio Bamberg.

O PP, é preciso dizer, segue em crise. O rompimento da bancada com o presidente municipal Marcos Daniel indica que partido perca toda a bancada na janela – mas deve atrair pelo menos outros dois parlamentares, reequilibrando a balança. 

O PSD de Jairo Jorge pode ganhar um vereador, engordando a informação de que a oposição de hoje não endossará uma CPI contra o prefeito afastado. E, além do Novo, Solidariedade também deve se extinguir nessa janela: Abmael Oliveira, que deixou recentemente o governo Nedy, não fica e deve seguir caminho em um partido de alinhamento ao bolsonarismo.

O PTB, que elegeu três vereadores em 2020, ficará sem ninguém. Após a fusão com o Patriotas, a presidente municipal Simone Sabin entrou em rota de colisão com Juares Hoy, que tem convite do União Brasil e do PL para disputar a reeleição; ele só não contava que o PL filiasse Felipe Martini, rompido com JJ, com a intenção de lança-lo a prefeito em outubro. 

PSDB, partido do governador Eduardo Leite, deve ser outra novidade entre as bancadas nascidas da janela. Se perderem a queda-de-braço no PP, é para o ninho tucano que Bamberg e Patrício devem ir. Airton Souza também especula uma aproximação com o partido que pode, ainda, ser a nova casa de Abmael.

Será um março de bastante novidade.

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