Crise do coronavírus

CANOAS | Mais UTIs, drive-thru e ’fecha-tudo’ fora do cardápio: o sábado em que demos adeus a quase um por hora em Canoas

Capacidades das UTIs supera os 110% e hoje não foi o primeiro dia com fila de espera para atendimento. Foto: Agência Brasil/Divulgação

Governo evita falar em lockdown e segue ampliando leitos. Alinhamento ao Estado é a palavra de ordem; drive-thru é a esperança no pior momento da pandemia por aqui

Canoas fecha o 13º dia de março com 749 óbitos por Covid-19 nesta pandemia que está a seis dias de completar uma ano. Só neste sábado, 13, foram 23 óbitos canoenses, quase um por hora, em média, fora os internados por aqui que vieram antes de outras cidades. As cenas que vimos da Itália pela TV se repetem aqui: daqui a pouco, haverão mais rabecões do que ambulâncias no pátio dos nossos hospitais.

 

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Escrever e falar sobre isso, sinceramente, não me dá prazer algum. Mas é necessário. Na época em que estamos, a realidade se impõe.

Chegamos ao temido dia em que as UTIs passam de 100% de ocupação. E isso foi há uma semana. Hoje, temos 132 internados em estado grave fazendo tratamento intensivo em 118 leitos – uma ocupação de 111,86%. Nas Enfermarias, a situação é só um sopro mais leve: com ocupação de 91,15%, restam 22 dos 260 leitos abertos para pacientes com o novo coronavírus. 52 pessoas esperam por uma UTI e não há vagas. Há gente nas UPAs e até em unidades de saúde que estenderam o horário, uma em cada quadrante da cidade, porque não há para onde levar os que precisam de socorro para superar o vírus.

Esses números só não são piores porque Canoas tem conseguido abrir mais leitos, apesar do eterno 'enxugar gelo' que isso significa; o contágio é muito mais veloz do que nossa capacidade de atender suas vítimas. O prefeito Jairo Jorge (PSD) anunciou na sexta, 12, em live, que obteve recursos em Brasília para abertura de 15 novas UTIs para o HU e 50 leitos de recuperação que devem ser instalados no Prédio 1 da Ulbra, aquele que fica logo atrás do hospital. Até o final da semana, Canoas chegará ao limite: 129 leitos de UTI e 310 de enfermaria, já contando esses últimos que devem ser usados por quem superou o vírus mortal, mas ainda precisa de cuidados para voltar à própria rotina.

Há boas notícias. Mais uma vez, Canoas fez um mega drive-thru e vacinou 4 mil idosos com mais de 75 anos na manhã deste sábado, no Parque Eduardo Gomes. A vacinação por lá tem gerado as imagens que despertam nossas melhores esperanças. Cada vovô e vovó imunizado reforça a certeza de que vamos superar esse momento crítico, mas jamais podemos esquecer dos números catastróficos que abrem esse relato. A vacina é o alento, mas a morte ainda é a triste realidade que ronda 6 a cada 10 sobre uma cama de UTI; e dos quatro que saem de lá com vida, um perde a batalha para sequelas em consequência dos danos ao organismo provocados pela Covid-19.

Nesse cenário, a clara estratégia do governo municipal de ampliar as estruturas de saúde e trabalhar pela compra de vacinas ganha seu sentido. Se puder imunizar 200 mil canoenses com recursos próprios, Jairo Jorge estima que todos acima dos 30 anos estão imunes ao vírus. Estimo mais: apesar do relato crítico, sou um otimista. A vacina local não irá inibir o programa do Ministério da Saúde, o que permite acreditar que poderemos ter entre 260 mil e 280 mil vacinados em meados do segundo semestre; algo entre 74% e 80% da nossa população.

No entanto, é importante o alerta, aos crentes da compra local e aos haters que acham tudo uma grande conversa comprida dos políticos, que a vacina só vale a pena se estivermos vivos até que ela chegue; por enquanto, o remédio que temos é o distanciamento, expor-se ao mínimo nos locais em que o contágio se facilita e em hipótese alguma, aglomerar.

Em uma conversa com o secretário da Saúde, Maicon Lemos, ainda na sexta antes da live, ele evitou falar em um lockdown em 100% da cidade. Sem a cogestão, aliás, a Prefeitura adere integralmente ao posicionamento do Governo do Estado, que também não fala em fechar tudo sumariamente. O temor de que o som das vozes do setor produtivo rompam o silêncio dos palácios sempre acompanha os tinteiros de nossos governantes. Mas um exemplo de que o fecha-tudo brasileiro funciona, já temos.

Em Araraquara, a 285 km de São Paulo, o prefeito Edinho Silva fechou tudo por sete dias. Ouviu os impropérios de sempre e outros inventados agora por quem acha que precisa convencer os demais no grito. O número de mortes ainda não caiu por lá e o colapso do sistema de saúde segue na ordem do dia; mas a velocidade de transmissão do vírus despencou. Após o lockdown, o número de contaminados caiu pela metade. E com menos gente contaminada, a cidade começa a ter menos doentes enchendo UTIs e enfermarias.

Sei que o assunto é tema proibido para quem comanda o próprio negócio e que parcela significativa dos políticos corrobora com a ideia. Também acho que o comércio não tem culpa, mas quem a tem? Não é feio mudar, já dizia o meu pai. Talvez seja a hora de pensarmos melhor – especialmente os que defendem a abertura apesar do esgotamento do sistema de saúde. 

Lembrem-se sempre: estamos em uma época em que a realidade se impõe.

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