Reunião na manhã desta quinta selou compromisso de aumento do subsídio direto para compensar subida dos custos operacionais do transporte coletivo em Canoas
Era uma quinta com cara de sexta já que a sexta, de fato, é Santa — e feriado; nem por isso, a semana mais curta eliminou da agenda política a espinhosa pauta do preço das passagens de ônibus em Canoas. Logo cedo, o prefeito em exercício Nedy de Vargas Marques chamou reunião do Conselho de Transporte e, depois, representantes do Sindicato dos Rodoviários e da empresa Sogal à mesa oval do segundo andar do paço. Estava para anunciar o congelamento da tarifa nos atuais R$ 4,80 mesmo diante de uma inflação setorial na faixa dos 7,14% de 2023 para 2024 e um custo real da operação que já bate na casa dos R$ 5,60.
Nedy comunicou que o governo decidiu absorver o impacto do aumento dos custos do transporte e não repassar à tarifa os novos valores. Em outras palavras, ampliou o subsídio. Os passageiros continuarão pagando R$ 4,80 na roleta e a prefeitura complementará o valor para que o sistema siga operacional.
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Vai dar choradeira — sempre dá. Mas alguns elementos precisam ser postos à luz quando o assunto é subsídio para o transporte. Aos que dizem que o dinheiro repassado à Sogal é dinheiro posto fora, repiso a posição que o blog sustenta há pelo menos dois anos, desde a pandemia: não tem transporte sem subsídio. Dá para discutir o ‘quanto’, mas não existe o ‘sem’. Com o aumento dos valores anunciados nesta quinta, 28, Canoas deve fechar o ano com repasse de R$ 15 milhões para o sistema de transporte em forma de subsídio e complemento de gratuidades; os mesmos R$ 15 milhões não pagam um mês de operação do Hospital Universitário e representam pouco mais de 10% do que Porto Alegre aplica no sistema da capital — que não é 10 vezes maior do que aqui. Lá, o governo Sebastião Melo deve fechar 2024 desembolsando R$ 132 milhões ao sistema para cobrir 62% das gratuidades.
Em São Paulo, até ônibus novos a prefeitura banca: 7 de cada 10 reais gastos com renovação da frota saem dos cofres públicos.
E por que tantos governo seguem a receita do subsídio? A razão é bem simples: o transporte impacta imediatamente na vida da cidade. Desde o usuário que põe a mão no bolso para pagar a tarifa ao empresário que empresa e precisa compra o vale-transporte de seus funcionários. Segundo um estudo do BNDES, o banco federal que financia o capital e a expansão das grandes empresas brasileiras, cada real a mais no preço das tarifas de ônibus nas grandes cidades implica em 8% de queda na renda do trabalhador e mais dificuldade na negociação dos dissídios coletivos — porque aumenta o custo das empresas.
Nedy aponta o novo subsídio como um ‘esforço’ que o governo está fazendo para manter o preço da tarifa. É, mesmo, um grande esforço. A crise financeira sem precedentes que vive a prefeitura implica em cortes, mas não dá para ficar indiferente à roda da economia.
E ela precisa girar.