Vereador assume comando do ‘partido do Bolsonaro’ com meta clara de disputar a prefeitura — como candidato a prefeito ou a vice — mas está ‘tudo em casa’ se tiver que concorrer à reeleição
Airton Souza recebeu do ‘bispo’ Bibo Nunes o anel do pescador que o faz o cardeal do bolsonarismo em Canoas neste pré-fechamento de janela de troca-troca. Reputo uma grande jogada — para ele e para o PL —, mas que só se saberá certeira la em outubro. Daqui até lá, o vereador que quase foi o vice de Luiz Carlos Busato em 2016 não só preside o PL, mas tem tudo para emergir de um metafórico conclave como pré-candidato à prefeitura, monta uma nominata que promete empolgar e espera ver encerrada, com ele, a era do ‘PL da virada de mesa’ que marca a política recente do partido na cidade.
Sobre as viradas de mesa, porém, tenho cá minhas dúvidas.
Airton vem costurando conversas com o colega Márcio Freitas, que nesta quinta-feira, 4, assinou ficha no novíssimo Partido da Renovação Democrática, o PRD — sucessor no papel do falecido PTB. Não precisa ser muito metido em política para perceber que entre um café e outro admitem irem juntos às urnas, um como candidato a prefeito e outro a vice. O PL também é cortejado pelo PP de Nedy de Vargas Marques, agora reposto no cargo de vice-prefeito e com acesso apenas protocolar ao paço.
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Tudo indica que Márcio seja o candidato a vice de Nedy, mas caso a candidatura do causídico esfarele, a porta para a chapa Márcio-Airton se escancara. É sobre isso, mesmo que neguem, que falavam nesta quinta-feira, 4, depois que a sessão da Câmara encerrou.
Airton veio trabalhando as últimas duas semanas em montar uma nominata viável para o PL que já considerada o ‘santo gral’ para a eleição de outubro mas revelou seus pés de barro com as tais viradas de mesa, troca de comando, disputas internas e o ‘puxa-prá-lá-puxa-prá-cá’ que se sucedeu. A mais recente aquisição do PL é o vereador Abmael Oliveira, que havia se filiado ao PP junto do vice-prefeito Nedy de Vargas Marques, mas sempre expressou identidade com o bolsonarismo.
Gilson Oliveira pode ser o próximo.
O crescimento do PL em Canoa contrasta, no entanto, com a costume da ‘guinada’ imposta ao partido pelo estimo bolsonírico com que seus dirigentes levam o partido. Presidente estadual, Giovani Cherini, é dado ao diálogo, tem ótimas relações com a cúpula nacional e uma postura republicana com as demais lideranças liberais no Estado. Volta e meia resta pressionado a abrir o poder para um deputado, um vereador, um possível aliado aqui e ali.
Em janeiro, quando deu sua bênção à filiação de Felipe Martini, Cherini pensava ter resolvido o tempo dos conflitos no partido em Canoas, embora ainda precisasse aparar arestas com a irredutível Nilce Bregalda e com um escanteado Coronel Pacheco — ambos lançados pré-candidatos ainda em 2023.
Não foi o que aconteceu.
Entre fevereiro e março, Cherini teve que entregar o comando do partido em Canoas para o deputado federal Bibo Nunes, mais dado às bravatas do que à estratégia. Bibo foi quem tratou a filiação de Airton e lhe deu carta branca para montar o partido, disputar a eleição ou emparelhar a carreira com um candidato — desde que este seja de direita e nem pensar em Jairo Jorge.
Bibo também tentou Juares Hoy, mas o líder do governo Nedy de Vargas Marques optou pelo PP já consolidado.
Inegável que com Airton o PL está montado, mas precoce admitir que não haverá mudanças. E antes que vire o papa bolsonarista que vê em si, o vereador tem a tarefa de dar a extrema-unção à candidatura de Felipe Martini — que se não era forte, estava posta e dada.
Se não der certo, Airton ainda pode concorrer a vereador pelo PL, só dependendo de si. Tranquilão ele está.