Subsídio, custo elevado e renovação da frota: estão aí os motivos pelos quais ‘é caro’ privatizar o trem; mas até o presidente bolsonarista da empresa sabe porque Trensurb deve ser pública
Ouvi com atenção na manhã desta terça-feira, 9, a entrevista que o atual presidente da Trensurb, Pedro Bisch Neto, deu à Rádio Gaúcha repercutindo a paralisação desta segunda, 8, nos serviços por uma mobilização dos metroviários. A categoria defendia uma questão trabalhista que acabou determinando a greve de um dia, mas o pano de fundo é a privatização do trem. A medida consta do Plano de Desestatização do Governo Federal desde o início da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro e, até agora, Lula ainda não retirou a Trensurb da lista, embora tenha afirmado que não vende um parafuso das estatais nos próximos quatro anos.
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Pedro Bisch, indicado ao comando da empresa pelo governo Bolsonaro, deu informações – e números – que justificam porque a Trensurb deve permanecer pública. Conheço o presidente da estatal. É um homem de direita na assepsia do termo, engenheiro elétrico que fez fama na política como presidente da CEEE em governos do MDB. Defende o Estado-mínimo, não a ‘estatização’ dos serviços públicos. Como, então, o que ele disse justifica o trem público?
Nas palavras de Pedro Bisch, a tarifa paga hoje para andar de trem cobre apenas 40% dos custos operacionais da empresa. O restante vem de subsídios dos governos federal e estadual. Numa conta de padeiro, se o custo da Trensurb fosse bancado integralmente pelos passageiros, cruzar as roletas das estações tiraria do seu e do meu bolso R$ 12,50 por viagem – não interessa se vai da Fátima à Canoas ou do Mercado ao fim da linha em Novo Hamburgo. “É uma equação que não fecha”, disse Pedro Bisch à Gaúcha. “O retorno em mobilidade, em desenvolvimento é para cidade, mas não volta à empresa”.
E está aí o ponto. A valorização de áreas comerciais próximas à linha do trem não retorna aos cofres da empresa – nem banca a minha ou a sua passagem. Quando uma universidade se instala ou cresce próximo de uma estação, como acontece com a Ulbra, a La Salle, a Uniritter, a Feevale e a Unisinos, isso não banca o custo da empresa – mas catapulta a economia da cidade e o desenvolvimento da região. Mesmo a atividade imobiliária, a circulação comercial e os prestadores de serviço – todos ganham. E isso não entra na conta da tarifa. O que entra é o subsídio que, como bem lembra Pedro Bisch, deixou de ser ‘palavrão’ para entrar de vez na discussão sobre o transporte público, desde que com critérios, prazos e valores bem arrazoados.
O presidente da Trensurb também deu outra informação que merece a consideração neste post. A empresa precisaria de algo como R$ 1 bilhão para completar a renovação de sua frota. Há composições circulando hoje com 38 anos de atividade diária. Os trens novos são mais econômicos e silenciosos, além de confortáveis – tem ar-condicionado, por exemplo. Os antigos, só janelas. Que empresa faria esse investimentos sem amortizar na tarifa? E se é para o governo bancar, que banque a empresa pública, como é hoje.
A luta dos metroviários é também uma luta dos passageiros – mesmo daqueles que reclamam quando a composição vem cheia e repete mecanicamente em tom de bravata que ‘se privatizar, melhora’. Eles só dizem isso porque ainda não se deram conta do tamanho da bronca que os números de Pedro Bisch revelam. Privatizar não melhora; só vai custar mais caro.
Respostas de 2
A empresa pública, como a Trensurb, muitas vezes não é mais eficiente porque o próprio cabresto político não deixa.
Por que a empresa mantém contratos milionários montando e desmontando escadas rolantes de mais de 30 anos de uso ao invés de trocá-las por escadas novas, mais modernas, mais econômicas no consumo de energia e na manutenção? Por que faz a instalação de elevadores em estações de pouco movimento, como Anchieta e Petrobras, e deixa a estação Mercado Público por anos sem um elevador funcionando e a estação Rodoviária com um elevador ridículo? Isso seria para convencer a população de que a coisa pública não funciona?
Por que mantém um aeromóvel (projeto falido, extremamente custoso e inúmeras vezes inoperante) no lugar de um trem elétrico de custo baixíssimo pelo trajeto ao qual se destina? O povo sabe que são pagos royalties aos Coester até hoje por ele? Sabe que foi criado um departamento inteiro para gerenciar um trenzinho de 800 metros de linha sendo que já existe um departamento que gerencia 40 trens enormes em 47km de linha? Quem ganha com isso? Todos esses custos passam pelo Sr Presidente, que os aprova.
As pessoas físicas estão instalando placas solares em suas residências para economia de luz, achando espaço para tal em seus orçamentos já estrangulados pela crise econômica atual. A Trensurb, que possui projeto parado sobre o assunto há muito tempo, mantém telhados de 22 estações sem placas solares e mais, sem manutenção para que goteiras, cascatas melhor dizendo, convençam os usuários de que privatizar seria melhor (fora contratos e mais contratos de emergência para esse tipo de consertos).
A empresa não ganha recursos para modernizar sua frota, o que poderia reduzir seu custo com energia de tração enormemente e aumentar em muito a taxa de cobertura de custos, como citou em seus argumentos privatistas nosso presidente. No entanto, privatizando, seria fornecido dinheiro público para modernização de frota e subsídio para funcionamento. Expandir para até o Barra Shopping e colocar trens do tipo VLT para o interior de bairros como Niterói, Mathias Velho, centro de Sapucaia e outros, causando desenvolvimento de regiões e gerando empregos, é projeto há anos. Privatizando…..na hora!
A empresa pública pode ser eficiente sim, pois existem nela muitas e muitas pessoas interessadas em fazer direito. Se o povo, que é seu real dono, se interessasse em auditar as contas e os processos de uma empresa pública como a Trensurb, o que é seu direito, com certeza o serviço prestado e a estrutura da empresa seriam muito melhores. Não são os funcionários que mostram a cara para o usuário, trabalhando, os que prejudicam a empresa e não deixam ela evoluir. São aqueles que ficam atrás da cortina, os CCs que são pagos para fazer nada e/ou para não deixar fazer nada, os indicados e os que trabalham desviando recursos para esses.
O tipo de bandido que ataca na Trensurb, assim como em outras públicas, é o que se esconde nas sombras, o que tem discurso bonito e pronto para levar a opinião do real dono da empresa, o povo, a concluir aquilo que lhe interessa e que vai lhe dar mais lucro. Assim se consegue entregar por pouco mais de nada, como fizeram em Belo Horizonte, uma empresa que pertence ao povo e que estrutura o trabalho de milhares a baixo custo!
Sonho meu, difícil eu sei: Que advogados, contadores, administradores e outros interessados que circulam dentro do sistema formassem um grupo juntamente com a mídia honesta e passassem a exigir resposta da Trensurb para os vários absurdos que encontrariam na sua administração. Seria a cura, pois bandido desse tipo que há entranhado no serviço público, quando exposto a luz, se desfaz…
Eu concordo, em parte, com a fala do Pedro, mas alguns detalhes precisam ser esclarecidos. A folha de pagamento e falta de preparo na administração da empresa são os maiores gargalos da Trensurb. Basta verificar, que as irregularidades só são sanadas através do TCU, a direção não toma as providências para acabar com tudo de errado que acontece dentro da empresa. Muita gente com salários altíssimos sem terem o que fazer, não trabalham. Por isso que quando a empresa privada assume, a primeira coisa que fazem é demitir todo mundo.