Vistorias indicam que estrutura do prédio não foi comprometida, mas equipamentos do primeiro andar — incluindo um tomógrafo novinho — se perderam com a invasão da cheia
Enquanto milhares de pessoas tentavam deixar suas casa, incrédulas, na madrugada de 4 de maio, no Hospital de Pronto Socorro de Canoas a luta era outra. A evacuação dos pacientes, iniciada ainda na sexta, 3 de maio, ainda não tinha sido completada quando a água da enchente invadiu o primeiro pavimento da instituição. Entre 2h e 4h da manhã, já não era mais possível deixar a instituição por qualquer uma das portas habituais: havia uma coluna com pelo menos 1,8 metros de água tomando dentro do HPSC — cerca de 3 metros de profundidade na Rua Caçapava, onde a UPA Liberty Dick Conter também não escapara à intempérie e à fúria das águas.
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A primeira vez que foi possível voltar ao Pronto Socorro depois daquela fatídica madrugada foi nove dias depois do ocorrido, em 13 de maio. Uma equipe da Guarda Municipal, com agentes do Exército e da Brigada Militar estiveram por lá para apurar a denúncia de que o espaço do segundo pavimento estaria sendo usado por usuários de drogas que se mantiveram na área alagada e foram em busca de medicamentos e agulhas na instituição. Não foi encontrado ninguém, e o HPSC passou a ser ponto de vigilância para um nova patrulha da BM: a patrulha sobre as águas.
Agora que a enchente baixou, há cerca de 10 dias a Prefeitura de Canoas pode retomar a estrutura. O secretário de Saúde, Mauro Sparta, conversou com o blog há uma semana contando a série de visitas feitas ao hospital — a primeira delas, dias antes de levar até lá a ministra da Saúde, Nísia Trindade e a mais recente na sexta, 7. Sparta, que é médico e cirurgião, trabalhou em Canoas pela primeira vez a convite do ex-prefeito Marcos Ronchetti, também médico, na primeira equipe de plantão que inaugurou o atendimento no Pronto Socorro, em dezembro de 2005.
“Tudo que tínhamos no primeiro andar foi perdido”, conta o secretário. “Estamos tirando todo o material de lá e levando para o descarte”.
Entre os itens encharcados encontrados no primeiro andar, um tomógrafo novinho recém instalado. “Iríamos inaugurá-lo oficialmente no dia 6 de maio”, contou ao blog o prefeito Jairo Jorge, lamentando a perda do equipamento. O tomógrafo antigo, o aparelho de raio-x e todos os leitos de UTI, da sala vermelha e do bloco cirúrgico foram perdidos completa ou parcialmente. “Vamos analisar o que pode ser recuperado. Achamos algumas caixas de insumos lacradas que não parecem danificadas e vamos analisar se podem ter sobrevivido à enchente”, antecipa o secretário Mauro Sparta.
De acordo com um levantamento preliminar da equipe de engenharia da Prefeitura de Canoas, não devem ser necessários investimentos na estrutura do prédio. “Em princípio, resistiu bem à enchente”, conta o Sparta. “Ainda temos que avaliar a rede elétrica e de distribuição de oxigênio. Se estiver contaminada, não pode ser usada”.
No segundo pavimento, onde a água não entrou, há necessidade de conserto em uma parede que foi aberta para facilitar o resgate de pacientes e uma limpeza geral, com descontaminação. Os equipamentos dos leitos e dos quartos, no entanto, estão preservados.
O Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde, IAHCS, que detém o contrato de gestão do HPSC, entregou um levantamento à prefeitura informando que o cômputo total de equipamentos no hospital soma cerca de R$ 37 milhões. “Acreditamos que nem tudo tenha sido perdido e, então, ainda não podemos bate o martelo de que esse seja o prejuízo da enchente no Pronto Socorro de Canoas”, alerta Sparta. Por enquanto, valor segue como referência.
O IAHCS também vem tratando com a prefeitura sobre a retomada dos servidos na unidade. A previsão de que tudo esteja em ordem no Pronto Socorro na segunda quinzena de dezembro. Uma fonte ligada ao blog revelou que o governo adiantou negociações com o Ministério da Saúde para facilitar a disponibilização de recursos federais e a liberação de emendas parlamentares destinadas à compra de equipamentos para o HPSC. Essa é uma das medidas que pode antecipar o prazo para reabertura da instituição.