Há um motivo técnico para que a retomada da emergência pediátrica do HU comece pela retaguarda: e o governo está de parabéns por não ter deixado a política meter o dedo nisso
Depois de 35 dias de emergência pediátrica fechada, o Hospital Universitário, o HU, prepara para esta terça-feira, 12, a retomada gradual do serviço. A expectativa da direção do hospital é reabrir os 16 leitos de retaguarda e, mais adiante, o chamado ‘portas-abertas’ – que é o atendimento por demanda que acontece quando uma criança precisa de consulta com um médico.
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A retaguarda, como o nome já diz, é um serviço que recebe pacientes – no caso, crianças – que foram atendimentos em outro serviço do município, como as UPAs Boqueirão e Rio Branco, as unidades de Saúde ou no Centro de Atenção à Saúde da Criança, recentemente inaugurado no Centro da cidade. É para os 16 leitos que funcionam lá que são encaminhados os casos mais graves que requeiram intervenção da equipe do HU e pode ser entendida como uma espécie de área intermediária entre a emergência e a internação – lembrando que na área da internação, o serviço pediátrico não chegou a ser interrompido.
O governo acerta em priorizar, nessa retomada gradual, a reabertura da retaguarda. E acerta especialmente por não deixar que a política tenha tomado uma decisão que é, no mais, técnica. Em tempos midiáticos, não faltaria um para dizer que o mais importante era por para dentro das portas do HU os pais aflitos – mas a boa técnica médica indica, nestes casos, exatamente o oposto: para as alfições do dia a dia, as UPAs; para os casos em que seja necessário o hospital, o HU. E, desta vez, com pediatras em quantidade suficiente no plantão.
Há dois dados importantes para serem levantados a esse respeito. O primeiro: não foi o fechamento da emergência, mas o fechamento da retaguarda que provocou a debandada dos pediatras da UPA Rio Branco, em junho. Havia o temor de que, atendendo a casos mais graves sem o suporte do hospital, aumentaria e muito o risco para os pequenos pacientes.
A situação foi resolvida a partir de uma conversa com o Simers, o Sindicato Médico gaúcho. Representantes da categoria entenderam o plano do governo e apoiaram a decisão de conduzir o Dr. Paulo Nader, médico-pediatra, à direção técnica do HU. Isso facilitou o trânsito no embaraçado congestionamento que se criou com a crise do episódio FUNAM/fechamento da Pediatria.
O segundo dado, irrefutável embora impactante, é que o HU fez menos falta do que se esperava com a inauguração do Centro de Atenção à Saúde da Criança. Em uma recente entrevista ao blog, o Dr. Nader comparou os números. O HU fazia, em média, 1,5 mil atendimentos por mês na emergência pediátrica; o Centro, faz 2 mil. Os casos noturnos já são absorvidos naturalmente pelas UPAs mais perto da casa das pessoas do que o hospital, que não fica na região central da cidade.
Uma coisa mais a outra é que levaram à decisão, repito, técnica, de reabrir primeiro a retaguarda. Não há prazo para que o portas-abertas seja retomado mas, segundo a diretora Ana Paula Macedo, deve ser em breve. Ela contou a blog que não faltam médicos para os plantões, como chegou a acontecer entre o finalzinho de maio e os primeiros dias de junho. É bom indicativo de que, apesar da crise, as coisas parecem estar voltando à normalidade no HU.